A opção da orientação. Por Evandro Mangueira

Posted on 2 de abril de 2013 por

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Aventurar-me-ei, novamente, na forma mais traiçoeira de comunicação: A língua.

Esse caminho tortuoso de entendimento, que muitas vezes recorre a uma forma vilipendiosa para se expressar, tem em suas palavras formações oriundas de ideias negativas com relação a certos grupos sociais, é o caso de judiar, como se judeus fossem sinônimos de sofrimento.

No entanto, na visão do rabino Henry Sobel, em seu livro “Os Porquês do Judaísmo” é: “O significado está claro: não há nada de pejorativo. Não fomos nós que maltratamos. Nós, os judeus, fomos maltratados. E cada vez que usamos a palavra “judiar”, estamos conscientizando os outros. O termo não deve ser eliminado. Pelo contrário, é bom que o mundo se lembre do preconceito do passado, para que não o permita no presente e no futuro.”

Desta forma, só nos resta supor que, nada tem apenas um lado, pois as coisas não são unilaterais, e nem as palavras possuem essa característica.

Não podemos nos prender ao significado real das palavras, mas sim nos seus efeitos, nas consequência de seu uso e no que acarretam socialmente.

O caso da palavra “opção”, comumente usada para expressa a conduta sexual e afetiva dos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis). É popular o uso de “opção sexual”, E como não poderia deixar de ser, a expressão não é unilateral e sequer contempla a realidade do indivíduo homossexual. Para o bem da verdade, o indivíduo tem a opção, no sentido de vivenciar sua sexualidade, ele opta em vivê-la ou não, e ainda tem como escolha, vivê-la em plenitude ou não. Claro que isso não é uma característica da homossexualidade, muitos heterossexuais também optam por como vivenciar suas sexualidades.

Agora, a escolha para por aí, o desejo sexual e afetivo é uma condição e não uma escolha, e por essa razão é uma orientação dos instintos e/ou desejos.

A orientação sexual é uma das diretrizes que formam o ser, somos condicionados, movidos pelos nossos desejos e interesses sexuais. Da mesma maneira que um heterossexual tem sua orientação sexual voltada ao gênero oposto, e nesse caso, ninguém duvida de uma mudança de conduta voluntária. O homossexual também tem sua orientação sexual definida e imutável, só que, voltada ao mesmo gênero.

A afetividade pelo mesmo gênero não é uma característica da homossexualidade, uma vez que é vivida por todos nós. Sequer é estimulada por quaisquer impulsos sexuais, podemos ter afetividade pelo mesmo gênero ou por gêneros diferentes, já que a afetividade é associada à ideia de amor ao próximo, sentimento que pode ser de pai para filho, de filho para mãe, de filho para tias, de primos para primos ou primas e, contudo entre amigos.

Os desejos afetivos e sexuais podem decorrer comutativamente, surgindo, geralmente, em ambientes de convívios sociais, como trabalhos, escolas e até mesmo centros de entretenimento noturno, como boates. Nesse caso surgem os namoros, noivados e casamentos ou outras convenções de coito concedido e união patrimonial.

A nossa orientação sexual e afetiva é, somente, uma das muitas diretrizes que definem a nossa personalidade. O ambiente em que se vive, e as condições culturais e acadêmicas, e também os valores morais e religiosos, podem influenciar na opção de como se deve viver essa orientação sexual e afetiva, mas isso não a anula, não exclui sua existência ou a transforma.

A opção existe como escolha de conduta, mas o desejo e a afetividade é condição, é orientação.

A orientação do desejo sexual e afetivo, ou simplesmente orientação sexual, é a expressão que melhor se encaixa em tais vivências, e usá-la no lugar de opção sexual, é uma promoção da dignidade humana.

 

Evandro Mangueira, Nascido em 1979 na cidade de Cajazeiras, que tem por título “A cidade que ensinou a Paraíba a ler.” Atualmente mora em Piracicaba-SP, cidade que adotou como sendo sua também. Tem por formação Gestão Financeira, mas encontra-se nas letras tanto quanto se encontra nos números.

Autor do livro: Arcanjo Gabriel