“Talvez não haja na nossa infância dias que tenhamos vivido tão plenamente como aqueles […] que passamos na companhia de um livro preferido.
Depois que a última página era lida, o livro tinha acabado. Era preciso parar a corrida desvairada dos olhos e da voz que seguia sem ruído, para apenas tomar fôlego, num suspiro profundo. […] Queríamos tanto que o livro continuasse, e, se fosse possível, obter outras informações sobre todas as personagens, saber agora alguma coisa de suas vidas, empenhar a nossa em coisas que não fossem totalmente estranhas ao amor que eles nos haviam inspirado e de cujo objeto de repente sentíamos falta, não ter amado em vão, por uma hora, seres que amanhã não seriam mais que um nome numa página esquecida, num livro sem relação com a vida e sobre cujo valor nos enganamos totalmente […].”
PROUST, Marcel. Sobre a leitura. Campinas: Pontes, 1989. Tradução: Carlos Vogt. p. 9, 22-24 (Fragmento).
Esse fragmento de Proust sobre a emoção causada pela leitura transporta a outros questionamentos: por que nos identificamos pelos livros? Até que ponto a literatura pode ser um agente de transformação em nossas vidas? Por que os leitores quando perguntados sobre suas memórias de leitura, quase sempre falam primeiro dos livros que não gostaram, da dificuldade de chegar ao fim, da cobrança, da prova…? Qual é a sua lembrança mais prazerosa de leitura?
Todos nós, leitores apaixonados, temos algumas dessas lembranças especiais. É sobre elas que fala o escritor francês Marcel Proust, destacando um aspecto essencial para compreender a paixão pela leitura: as personagens do livro ganham vida, tornam-se pessoas próximas, por quem nutrimos sentimentos profundos, e cujas vidas gostaríamos de continuar acompanhando.
Proponho uma enquete:
1. Qual o livro que até agora mais marcou sua vida?
2. Qual foi o “pior” livro que leu?
blogdoamstalden
4 de maio de 2013
Valéria, minha querida. Eu nunca consegui dizer qual foi o livro que mais me marcou e o pior que eu li. São tantos que me marcaram, me fizeram sonhar, pensar, viajar. Cada um em um tempo e um tema diferente. Assim vou responder de outra maneira. Vou lhe contar sobre o primeiro livro que comprei com meu próprio dinheiro. Eu tinha oito anos, meu pai me chamou e disse que, da mesma maneira que ele recebia por mês, eu também teria algum dinheiro mensalmente e com ele teria que administrar minhas despesas (doce, figurinhas etc). Bem eu guardei o dinheiro de alguns meses, não comprei nada e quando tive o suficiente entrei em uma livraria e saí feliz a beça com um livro meu. Qual era? Cazuza Peralta, de Viriato Correa. Simples, singelo mas rico em personagens e situações. Viajei tanto com ele. Depois e antes outros vieram e Graças a Deus ainda vem. Mas este foi o primeiro MEU, comprado com o dinheiro precioso e raro que eu tinha uma vez ao mês. Depois penso no pior…
Abraço.
Anônimo
4 de maio de 2013
Que legal ler seu depoimento, Amstalden!
Imagino o prazer de ter esse livro em mãos, tocá-lo, senti-lo e tomar posse como fosse escrito para você.
Abraços.
Evandro Mangueira
4 de maio de 2013
Hum… que pergunta difícil! Diversos livros marcaram de formas diferentes, mas falarei de um específico: Maus – Art Spiegelman – Companhia das Letras.
Li várias obras sobre a segunda guerra, embora existam clássicos como O diário de Anne Frank, Maus tornou-se uma obra relevante em minha vida por ser narrada em forma de quadrinhos, com detalhes impressionantes e de leitura agradável, mas o que de fato marcou nesse livro, foi o poder de envolvimento, após lê-lo (o livro dá pra ser lido em um ou dois dias) passei exatos três dias sonhando que eu estava no campo de concentração! Compartilhei essa experiência com o amigo, que disse ter lido, e após lê-lo também sonhou está no campo de concentração e acordou noites suado. Recomendo, não pelas noites mal dormidas que possivelmente terá, mas por ser uma maravilha de leitura.
Quando ao pior livro, também citarei um da segunda guerra, O menino de pijama listrado – John Boyne – Companhia das Letras, previsível, sem emoção e pior de tudo, transforma um SS na grande vítima do romance.