O meu primeiro contato com uma Bíblia foi uma que minha mãe comprou, de um ambulante que vendia de porta em porta. Ela possuía até um pedestal de bronze, naquela época a china não fabricava imitações em plástico.
Era uma Bíblia linda, cheia de imagens e com uma letra bem grande. Todos os membros de minha casa deixavam-na no pedestal, enchendo-se de poeira, aberta no livro de Salmos 22 (Aquele: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” – Atualmente mais difundido por Salmos 23, versão protestante). Eu era imensamente curioso acerca daquele livro.
Em casa não comprávamos livros, como sempre tive um anseio por leitura, comecei pelo que tinha ao alcance: A Bíblia.
A versão que tínhamos em casa e também a primeira que li, foi a católica, contendo sete livros a mais do que a versão protestante, que só conheci aos treze anos, no hospital, quando me presentearam com uma cópia do novo testamentos que também trazia o Salmos e o Provérbios (Aquela versão de capa cinza ou azul, distribuída pelos Gideões, lembra?).
Hoje, a versão que possuo é a de tradução de João Ferreira de Almeida da King’s Cross Publicações, e não contém os tais livros católicos. Tenho verdadeiro fascínio pela leitura bíblica, inclusive possuo a versão digital no meu notebook, PC e também no tablet.
Tenho familiares e amigos que são Testemunhas de Jeová, Evangélicos, Católicos, Espírita e, se vasculhar direito, tem até Umbandistas. Sempre que um deles resolve pregar seus dogmas, eu os escuto, mas só dedico minha total atenção se a pessoa souber do que está falando. Nada de discursos prontos e falas reproduzidas de púlpitos, a pessoa tem que ter conhecimento do livro, por inteiro, que ela considera sagrado, é o mínimo que espero de quem se propõe a falar a respeito de algo.
A religião é um direito constitucional e longe de mim, desrespeitar a constituição que foi escrita após muito sangue e tortura. Agora o que espero de alguém que se diz conhecedor dos estudos bíblicos, é que ao argumentar algo, tenha como base toda a Bíblia e não seguimentos dela, partes convenientes.
Recentemente, o Feliciano usou a parte que conta a história da arca, para proferir um preconceito antigo. Na minha modesta opinião, ele precisaria ler Gênesis inteiro. Mas esse não é o único ataque, tem outro, um que diz que a homossexualidade é pecado.
Certamente você já ouviu isso, e de fato, segundo Levítico 18:22 e 20:13, livro do Antigo Testamento (aquele testamento que Jesus modificou após seu nascimento), a homossexualidade é pecado, acompanhado de outros tantos, pecados.
Deixarei para os curiosos a indicação da leitura completa de Levítico, mas separei uma seleção, um pequeno resumo dos capítulos, que compreende alguns comportamentos humanos que são pecados, os dez primeiros capítulos contêm holocaustos repletos de sacrifício, morte, sangue e degolamento de animais:
Levítico capítulo 11 – É pecado comer animais como: porcos, coelhos, aves (inclusive no versículo 19, considera o morcego como uma ave) e frutos do mar também são proibidos;
Levítico capítulo 12 – Traz regras de como a mulher que acabou de ter filho deve proceder, inclui não poder frequentar o templo religioso por trinta e três dias se tiver dado a luz a um menino, e sessenta e seis dias se for menina, além disso, deve sacrificar um cordeiro de um ano de idade e uma pomba ou uma rola. Ah, se for menino ele tem que ser circuncidado;
Levítico capítulo 13 ao 15 – Orientações como lidar com portadores de lepra;
Levítico capítulo 16 e 17 – Proibido comer sangue.
Levítico capítulo 18 – Proibido ver a nudez de qualquer parente, irmão, pai, mãe, filhos, netos, enteados, tios, etc. A lista é bem grande.
Levítico capítulo 19 e 20 – É obrigado guardar o sábado, proibido fazer cruzamento de raças de animais e cultivar plantas diferentes; é proibido usar roupas feitas de tecidos com fios diferentes. Não se deve corta os cabelos arredondando a nuca e nem raspar a barba, aliás, sequer deve aparar a barba.
Levítico capítulo 21 – Só se deve casar com mulher virgem.
Levítico capítulo 22 ao 28 – Ensinamentos de holocaustos, ordens para guardar o sábado, apedrejamentos e chibatadas como castigo e a famosa lei: “Dente por dente e olho por olho.”
Levítico, como outros livros do Antigo Testamento são importantíssimos e de leitura interessante, inclusive historicamente. Eu, mesmo, aprecio a leitura deste livro, mas convenhamos os seus ensinamentos não cabem na nossa realidade atual. Nesse livro encontram-se obrigações como guardar o sábado, ou proibições como comer uva que caiu ao chão, incentivos a sacrifícios com animais, apedrejamento e açoitamentos, entre outras coisas.
Segundo este livro, a homossexualidade é pecado, e se você considera isso como fator de salvação, sugiro que pare de raspar a barba, de usar roupas com tecidos mistos, ou casar-se com uma mulher não virgem, pois esse livro condena, também, tais práticas.
Ninfa Sampronha Barreiros
6 de maio de 2013
Excelente aula de espiritualidade. Sempre reflito com relação à época em que se deu, como eram os povos, a questão do poder etc. Trago para a realidade e vejo que evoluímos em muitas coisas, menos na compreensão dos livros de espiritualidade.
Evandro
6 de maio de 2013
Obrigado por colaborar Ninfa.
Jéssica Costa
6 de maio de 2013
Embora eu conheça pouco sobre a bíblia, me persegue a seguinte dúvida o NOVO TESTAMENTO não veio para mudar a segundo ?
Sou católica praticante, rss, ouço muito isso nos grupos de orações Jesus veio para mudar e hoje estamos vivendo o Novo testamento !
Evandro Mangueira
6 de maio de 2013
Jéssica, Também interpreto dessa forma, a nova lei: “amai uns aos outros” e “amai ao próximo como a ti mesmo.
blogdoamstalden
12 de maio de 2013
Eu penso, Jéssica, que Gandhi estava certo. Ele disse, certa vez, que se mantivéssemos o Sermão da Montanha, poderíamos dispensar todos os demais livros religiosos do mundo. Infelizmente os textos sagrados são interpretados de acordo com o interesse de cada grupo e até mesmo de pessoas.
Carla Betta
7 de maio de 2013
Tenho certeza que JESUS veio para mudar a mentalidade da humanidade, a começar pelo conceito de um DEUS vingativo, que estabelece castigos e preferências por um povo em detrimento de outro para um DEUS amoroso, que considera a TODOS como filhos preferidos, cuja justiça ainda não é totalmente compreendida, mas Sua sabedoria, transmitida por JESUS, é amplamente reconhecida.
Naquela época, sim, é importante contextualizar historicamente, os ensinamentos eram ensinados oralmente, as histórias reais e fictícias eram contadas no boca-a-boca. Ainda que se suponha verdade que os ensinamentos bíblicos se originaram em DEUS, qualquer um que fez a brincadeira do “telefone-sem-fio” já desacreditaria da autenticidade da Bíblia como a palavra de DEUS. Não é óbvio?
Parabéns pelo texto, Evandro!
Evandro
7 de maio de 2013
Obrigada Carla, fiquei muito feliz ao ler suas observações!
Marina
7 de maio de 2013
Ótimo artigo! Já que, por característica humana, acha-se direito julgar ao próximo, seria menos ridículo e vergonhoso buscar informação completa e adequada, e não parte dela.
Interessante como a maioria das pessoas ressalva apenas a parte que lhe é conveniente, pena que a ignorância os domina!
Evandro
7 de maio de 2013
Obrigado por contribuir Marina, concordo com você, as pessoas sempre se valem das partes que lhes interessam, ou lhes rendem algo.
Roberto da Conceição
28 de maio de 2019
Gostaria de ganhar este novo testamento.