DOUTORES e DOUTORES. Por Carlos H.W. Flechtmann

Posted on 7 de maio de 2013 por

0



doutor1

Mais um(a) participante de Curso de Pós Graduação acaba de obter, após 4 anos de cursar Disciplinas e realizar trabalhos de pesquisa, o seu grau de Doutor. Comparado, por exemplo, com o egresso de 6 anos de Curso de Graduação em Medicina, que se auto-atribui o título de Doutor, como são estes títulos comparáveis ?

Inicialmente, no âmbito acadêmico-universitário, ao médico, ao final de um período de pelo menos 2 anos de interno em um hospital de destaque é, frequentemente, atribuído o equivalente ao Mestrado.

Agora, para o participante, médico ou não, que concluiu o Curso de Pós Graduação em nível de Doutorado e  que:

– domina as ferramentas de investigação, e

– passa a ser gerador de conhecimento

é atribuído, é conferido pela Universidade, o título de Doutor.

Vejamos o lado prático: o médico que se dedica à sua clientela, que se mantem atualizado com leituras e cursos especiais e que pode ser um renomado clínico ou cirurgião, é de indiscutível importância para a sociedade. Mas, ele é diferente daquele que participa de um grupo na geração de novos procedimentos, novos aparelhos, de novas drogas farmacêuticas. O primeiro executa importante papel, mas, serve-se (depende de) do produto dos segundos.

O mesmo ocorre no nosso ramo da Defesa Fitossanitária. Somos muitos Engenheiros Agrônomos, Biólogos e outros profissionais competentes, a atender às necessidades do produtor agrícola, porém, um outro grupo, aquele que não só domina as ferramentas de investigação como gera conhecimento (época mais adequada para o controle de certa praga, por exemplo) e produtos (os defensivos) ou, como no caso presente, ambos – um “novo” fungo pra o controle de um ácaro fitófago praga e como maximizar sua eficiência. Eis a atuação dos Doutores da Universidade.

Voltando um pouco: no início, um e outro produto resultou do trabalho de uma pessoa e que tem o seu nome a ele ligado: a vacina para tuberculose – BCG de bacilo de Calmette-Guérin; a vacina para a poliomielite, a primeira, Salk, a atual, Sabin. Mas para a quase totalidade dos produtos, como eles resultam do trabalho de um grupo de pesquisadores, permanecem os nomes dos Doutores desconhecidos da maioria: a vacina anti-rábica não leva o nome de Pasteur e tampouco a calda bordalesa, também produto de seu laboratório. Como o produto Dipel, à base de Bacillus thuringiensis …  não leva o nome de um descobridor, o Neozygites que vier a ser usado em formulação agrícola também não levará nem o nome de Humber, nem de Hajek, nem de Delalibera, nem de Gondim Jr. e tampouco de AEL Ribeiro. São todos Doutores que trabalharam na longa sequência de pesquisas que levará ao produto final.

Tudo isto sem olhar para o lado “popular”: para os guardadores de carros até um iletrado com um fusquinha é considerado doutor. Eu já fui mesmo chamado de Doutor e até de Meritíssimo sem nunca ter assistido a uma aula de Direito. Ao contrário dos anos de dedicação dos Juizes, “obtive” meu título em apenas alguns segundos, bastando estacionar meu golzinho 1994 ferrado perto de um sujeito que não faz a mínima idéia do valor que tem um título conquistado.

Carlos H.W. Flechtmann
Pesquisador do CNPq-Brasil
Universidade de São Paulo – ESALQ
Dept. Entomologia – Acarologia