Em maio de 1968, a juventude mundial vivia uma contradição. Por um lado tinha cada vez mais acesso a informações e a própria cultura. Na Europa e nos EUA, o ensino público de qualidade no segundo grau (hoje ensino médio no Brasil) e nas universidades públicas, incitava os alunos à reflexão e, portanto, à crítica. Por outro lado, tanto suas vidas quotidianas quanto a vida política mundial estavam “engessadas”.
A sociedade esperava desta geração pós guerra o enquadramento, o conformismo. Esperava que eles se formassem, arrumassem um emprego nas empresas multinacionais (no ocidente) ou em uma fábrica estatal ou nos partidos comunistas (nos países socialistas), se casassem, tivessem filhos e não contestassem as autoridades estabelecidas tanto no ocidente quanto no oriente. Mais ainda, esperava que eles fossem à guerra sem questionar, em nome do patriotismo, e morressem pelos interesses geopolíticos de seus países.
Mas a reflexão, o livre pensamento, o acesso às informações moldaram outra situação. Moldaram jovens capazes de duvidar, questionar e sonhar com outro mundo, outra forma de viver, longe do controle político dos estados e das empresas.
Em Paris, um conjunto de medidas do General De Gaulle que alterava a política educacional foi o estopim. Os estudantes entraram em greve e daí passaram às manifestações nas ruas e ao enfrentamento com a política. Na França os operários apoiaram os estudantes e entraram também em greve, mas o movimento se espalhou mais. Na Alemanha, Holanda, Bélgica, Portugal, Tchecoslováquia, Estados Unidos, México, Brasil e até no Japão, revoltas estudantis explodiram e tomaram as ruas. Em cada país o movimento assumia tons próprios, como o combate à ditadura no Brasil, a exigência da saída das tropas americanas do Japão e da Alemanha nestes países, o pacifismo e os direitos de índios e negros nos EUA. Em meio a tudo, algumas posições eram mais ou menos comuns, tais como o desejo de liberdade sexual, a busca de uma democracia plena, o questionamento do autoritarismo.
Artistas, músicos, atores, intelectuais se engajaram e, até os Beatles compuseram “Revolution”, cuja a guitarra no início parece uma sirene chamando os jovens para a luta.
Dentro de grupos diversos em países diferentes, outros temas foram fortalecidos, tais como o feminismo, e o ambientalismo. Em busca de novas formas de pensar, as religiões e filosofias orientais foram popularizadas e até o uso de drogas chegou a ser visto como uma maneira de “libertar a mente” de velhos padrões de pensamento.
Em maio de 1968, os estudantes acertaram e também erraram muito. Alguns foram mortos e outros escolheram o caminho da luta armada e acabaram por matar. Mas seja como for, errando ou não, os jovens de 68 ousaram existir e sonhar com um mundo diferente.
E hoje?
Hoje o socialismo desapareceu e o capitalismo, que “transforma tudo em mercadoria”, parece ter domesticado a maioria dos jovens. Aparentemente eles ainda são rebeldes, mas sua “rebeldia” não passa de dirigir sem habilitação, beber, brigar na rua, depredar patrimônio público, não estudar e adotar uma estética eternamente infantil, composta de bonés pequenos demais para suas cabeças e calças que caem pela cintura. Não por coincidência, estes “itens de moda rebelde” são amplamente divulgados pela propaganda e vendidos nos shoppings. Os jovens continuam parecendo rebeldes, mas são dóceis quando se trata de questionar o mundo em que vivem, os governos que os controlam e as empresas que direcionam suas vidas através do consumo.
Alguns são exceção, é verdade, mas a regra da maioria é esta docilidade no que diz respeito ao coletivo.
Em 1968 os jovens iam para as ruas protestar. Hoje a maioria vai aos shoppings consumir. Tenho saudades deste maio de 68 que não vivi. Mas tenho esperança de que uma nova juventude, mais consciente e crítica, volte a existir.
Carla Betta
15 de maio de 2013
Caramba, que sintonia!! Não sou nostálgica ou… acho que não sou. Mas, hoje, acordei com uma nostalgia gigante, quase implodindo meu peito, então, para que eu não vire pedacinhos espalhados, vou explodir escrevendo. Quem sabe se transforme em um texto para este blog?
Olivia
15 de maio de 2013
Também tenho esperança que uma juventude mais consciente desponte …. Parece que minha geração é mais uma enquadrada ao sistema, apesar de algumas exceções. O mundo é cada vez mais o próprio umbigo e não enxergamos o que deveria incomodar: desigualdades, violência, corrupção, impunidade, injustiças. Acredito na educação para mudar esse quadro, e espero que as turmas de licenciatura de hoje tenham consciência do papel social que um professor precisa ter para tornar a sociedade melhor.
Olivia
15 de maio de 2013
Esqueci de falar, estou com saudades professor!
Helena de Campos
15 de maio de 2013
Ainda sinto muitas saudades dessa época. Embora tenha havido muito medo, muito sofrimento, muita sede por justiças, a maioria dos jovens clamando e lutando, muitas frustrações e muito choro também, ainda sinto muitas saudades. Havia um estado de romantismo muito lindo, (se é que posso chamar assim) que se foi, que se dissipou e que eu não tenho certeza se um dia voltará. Exterminaram a verdadeira filosofia, a qual vislumbrava um caminho para o horizonte dos sonhos e da esperança, onde os jovem poderiam expor as suas idéias e por elas, travar as suas lutas. Dizem que tudo o que vai volta, espero que volte, mesmo que eu não esteja mais aqui para ver.
Antonio Camarda
20 de maio de 2013
Vivi, o Maio de 68 , e surpreendeu-me a análise precisa descrita nesse blog, de quem não viveu naquela época. Sabemos que as gerações mudam em hábitos , costumes e tantas outras coisas, menos em Enquadramentos e Conformismos que estão enraizados no DNA do ser humano, como defesa, ou como afirmado por G. Jung , faz parte do consciente coletivo, ( ou supõe-se que deveriam fazer) e é explodido principalmente na juventude. Esta defesa contra Enquadramentos e Conformismos, foi bem estudada por grupos dominantes do poder que encontraram meios de enfraquece-la, dominando a percepção dos jovens através de atrativos de consumo. Tenho vergonha ou pena da juventude de hoje cuja maioria é alienada, robotizada, deixam-se direcionar para qualquer direção, não percebem que fazem parte de uma massa manobrada por um poder aniquilador de vidas, seja por fome, seja por criminalidade desenfreada de jovens contra jovens , e os que vão envelhecendo continuam sendo manipulados pelos grandes interesses, e a violência e outros males, vão sendo multiplicadas com ataques causando mortes em casos banais como o roubo de um celular sem nenhuma reação da vitima que tem a vida tirada pelo outro, que são muitos..,,,e na verdade foram a maioria transformados em mercadorias, como bem ilustrado na foto, onde existe um vazio estampado no semblante de cada um, indo e vindo do shopping em turmas, sem liberdade, com muito medo da violência….mas que jamais questionam as causas como corrupção, ma gestão, impunidade,péssima distribuição de renda , injustiças e principalmente educação mediocre e incompleta que é empurrada e todos engolem sem questionar . Ser rebelde hoje para os jovens foi bem descrito no blog “” Aparentemente eles ainda são rebeldes, mas sua “rebeldia” não passa de dirigir sem habilitação, beber, brigar na rua, depredar patrimônio público, não estudar e adotar uma estética eternamente infantil, composta de bonés pequenos demais para suas cabeças e calças que caem pela cintura. Não por coincidência, estes “itens de moda rebelde” são amplamente divulgados pela propaganda e vendidos nos shoppings. Os jovens continuam parecendo rebeldes, mas são dóceis quando se trata de questionar o mundo em que vivem, os governos que os controlam e as empresas que direcionam suas vidas através do consumo.”””” Do jeito que esta é cada um pra si e Deus pra todos, mas Deus não intervem nestes desvios, então é cada um enxergando seu próprio umbigo, e sabe-se la quando os jovens sairão dessa hipnose coletiva. .
blogdoamstalden
21 de maio de 2013
Muito obrigado Camarda, pelos seus comentários. Você referenda muito o artigo. Faço-lhe um convite. Que tal escrever sobre a sua experiência em 1968? Eu ficaria honrado em publicar. Abraço