No último dia 02 de junho aconteceu o maior evento LGBT do Brasil, e se não me engano, do mundo. E dia 10 de novembro será a de Piracicaba, já consagrada na sétima edição.
A parada do orgulho LGBT, mais conhecida como parada gay e que reúne milhões de pessoas do mundo inteiro, principalmente pessoas do estado de São Paulo, vem sendo criticada por héteros e por LGBTs, considerada um “carnaval gay”, além das diversas críticas com relação à nudez e a “promiscuidade” presente no evento.
Entre os héteros, tais críticas sejam lá entendidas, mas entre os gays e, contudo entre os mais jovens, essas críticas são artificiais e sem alicerce algum, baseado em um falso moralismo na fala, quando na prática basta acessar a internet para se ver a autopromoção sexual.
A parada do orgulho gay de São Paulo encontra-se ativa há dezessete anos, ou seja, somente dezessete anos e os avanços dos direitos LGBTs progrediram tanto.
Está diretamente relacionada, a parada do orgulho LGBT com o avanço nesse campo, isso porque ela não é apenas um “carnaval gay”, muito antes de ir para as ruas, existem centenas de organizações, as quais fazem trabalhos sérios envolvendo direitos para população LGBT e outras populações com maior vulnerabilidade, além disso, a visibilidade de milhões de pessoas em tal evento mostra que existimos, e que somos um número muito representativo. E supondo que se fosse um “carnaval gay” ainda assim seria legítima.
Quanto à nudez, só tenho a dizer que não vejo problema algum, somos o país do carnaval, do Rio de Janeiro e das praias e vasto litoral. A nudez aqui é tão comum quanto é comum respirar, a propósito a TV mostra nudez o tempo todo e não conheço uma única pessoa que não tenha TV em casa. Entretanto, o caro leitor, tem o direito de não achar apropriada a nudez, mas esse aspecto é mais individual do que do movimento como todo, não se pode generalizar a parada inteira, pelo comportamento individual. Já a “promiscuidade”, essa crítica, é fundamentada como se lá só houve sexo explícito, já fui à parada gay em São Paulo algumas vezes, e para minha surpresa a “pegação” mais quente que vi, acontecia entre héteros. É fato que em um grupo de 3,5 milhões de pessoas não se é possível conter todas as práticas, seja o abuso do álcool, o uso de drogas ou sexo, mas convenhamos, um evento nessa proporção, com tão poucas ocorrências policiais é difícil de ver acontecer.
O que tento trazer aqui, não é o fato de ocorrerem desacordos morais que deslegitima a parada, hoje ao vermos gays se casando, a televisão discutido o assunto e mesmo o poder legislativo velando pela causa, o resultado é de um incessante mostrar de rostos, de dizer que existimos, de irmos para as ruas. Talvez o gay jovem não perceba que o mundo em sua volta o aceita melhor e o trata melhor, e que hoje, ele tem mais direitos garantidos, e que isso se deu através de lutas e visibilidades como a parada.
Talvez a parada não lhe represente, mas ela continua sendo uma das formas da militância LGBT e da luta contra todas as variantes de preconceito, mas se diante meus argumentos você acredita que ela não lhe representa, eu tenho um sugestão:
Faça parte dela, modifique-a, deixe-a com sua marca, acrescente, vá as ruas e mostre sua existência e sua representatividade, sua moralidade e seus ideais, tome posse dos microfones e dos trios, acrescente, faça acontecer.
Não é apontando o que está errado da sala da sua casa, ou colando no feed de notícias do facebook que o mundo vai melhorar.
Exista!
Porque sair do Armário?
Vídeo com Leandro Zagui:
http://www.youtube.com/watch?v=kg3nxlYCUus
Sugiro que não só saia do armário, mas que coloque fogo nele, ou no mínimo quebre-o.
Evandro Mangueira, Nascido em 1979 na cidade de Cajazeiras, que tem por título “A cidade que ensinou a Paraíba a ler.” Atualmente mora em Piracicaba-SP, cidade que adotou como sendo sua também. Tem por formação Gestão Financeira, mas encontra-se nas letras tanto quanto se encontra nos números.
Autor do livro: Arcanjo Gabriel
Carla Betta
17 de junho de 2013
Sou hetero, então, com certeza não me cabe a pergunta se a parada gay me representa ou não. Mas, creio ser preocupante a imagem vinculando comportamentos gays a estereótipos e o quanto isto não vem ao encontro de mais segregação. Ok, LGBTs, nós os aceitamos como espetáculo circense, como um carnaval: eventual, com data marcada e espaço definido. Mas, até onde a parada promove a descontrução de preconceitos? Ou já foi absorvida pelos marketeiros e oportunistas de plantão que lucram votos, simpatias ou financeiramente? ….
Eu preferiria uma passeata mais séria, mais comedida, menos espetáculo e mais real. Em que homens não precisassem representar caricaturas femininas e nem mulheres, caricaturas masculinas. Onde houvesse, de fato, um impacto de preocupação com o desmontar de conceitos pré-definidos.
Não a condeno como está e sem sombra de dúvidas é um avanço. Porém, teria mais certeza da continuidade destes avanços caso estivesse havendo, dentro do movimento gay, o repensar nas antigas fórmulas e a proposta de inovação.
Evandro Mangueira
17 de junho de 2013
Pois é Carla, você me trouxe essa questão sobre as caricaturas masculinas e as caricaturas femininas em outra ocasião, e estou te devendo um posicionamento, verdade que isso é um assunto que não domino tão bem para te falar, porque eu próprio não vivencio essa necessidade de se “fantasiar” de gênero algum, mas acredito que tenho uma explicação: Sabe quando os funkeiros ouvem música dentro do ônibus no último volume? E todo o resto da população fica indignada a ponto de jogar o infeliz pela janela? Eu sempre me perguntei por que ele faz isso. No fundo eu sei o porquê, é para se impor como agente da sociedade, como pertencente a ela mesmo que a força, mesmo que aos gritos, mesmo que ao som alto de seu estilo musical. Acho, e creio que seja verdade, que um cara ao escutar som tão alto e desagradável, em um local onde as pessoas tem que o tolerar, ele deve pensar: Agora vocês vão ter que me engolir, sempre fecham os seus carros, sempre colocam grades em suas casas, sempre me excluem das escolas, sempre me excluem da sociedade. Agora vão ter que aceitar o meu estilo. Vão ter que me aceitar! Eu vejo esse fenômeno, hoje, como um pedido de socorro daquele ser, mesmo eu achando a música insuportável, eu entendo o porquê dele se impor dessa forma. Com relação aos gays (cabem aqui lésbica, bissexual e trans), penso que também vivem experiência semelhante, terem sua sexualidade, sua identidade e seu comportamento, encaixotado, moldurado, enquadrado em modelos que não servem e que não os representa de fato. Digo isso, porque embora minha identidade de gênero seja masculina, nunca me identifiquei com esse gênero plenamente, mas me calei, aceitei, talvez alguns gays não se calem, talvez se comportem como o menino do som alto no ônibus, talvez precisem exagerar, ou se tornar caricatura de um gênero que não é seu e nunca será, mas que também, talvez ele queira esse gênero torto, diferente, sem pretensão de seguir padrão ou agradar. É possível que sejam comedido, apenas aqueles que a sociedade conseguiu de fato enquadrar, e talvez eu seja tão quadrado em molde social, que no início dessa resposta falei que não represento essa caricatura por não ter desejo, mas pensando bem, lá longe, eu já tive desejo de não representar nem um papel social, dos quais represento hoje, já tive vontade de ser uma caricatura, uma caricatura de ideias e vontades e desejos, que não cabem nos modelos sociais. Já fui mais caricatura, agora vejo com clareza.
Evandro Mangueira
17 de junho de 2013
Quanto aos demais argumentos, você tem razão, existem oportunistas, mas estive dentro da parada, e ajudei a forma a de Piracicaba nesse sete anos, e mesmo assim, olhando de dentro pra fora, mesmo com os oportunistas, eu vi progresso quando o povo foi as ruas. Eu vivi as mudanças, de uma época que não se podia falar sobre o assunto, até os dias de hoje, onde as pessoas se casam, se amam e são felizes.
Carla Betta
18 de junho de 2013
Eu também vivi essas mudanças e as congratulo. São mudanças que não só fazem uma sociedade mais justa, como também fazem meu mundo melhor. O que eu estou questionando (não respondendo, nem trazendo fórmula pronta) é se este modelo de passeata já não se esgotou, se já não se transformou em um instrumento meramente comercial, meramente “espetaculoso”, meramente palco para artistas e políticos posarem “bem na foto”. Se não estaria na hora de inovação, de re-transformar paradigmas cristalizados e que não provocam nem discussão nem as mudanças almejadas.
Vc esboça uma resposta com relação às caricaturas mulher/homem e a compreendo. Não havia pensado desta forma e, mais uma vez, vc amplia meus pensamentos, grata!! Mas, acredito que haja uma explanação mais profunda que possivelmente um psicólogo social pudesse nos fornecer e nos enriquecer. Alguém se habilita?
Evandro Mangueira
18 de junho de 2013
O movimento LGBT de forma geral está se ampliando e se modificando, mas eu vi acontecer em Piracicaba, o CASVI só conseguiu tanto espaço político e ter participação em tantas secretarias municipais, pós Parada. O que você sugere, em breve veremos acontecer, o movimento ganha novos corpos, novas caras e novas ideias, e é por isso que chamo para tomar posse dos microfones, os que não se sentem representados.
Carla Betta
18 de junho de 2013
Compreendido! Bom saber que novos ventos viajam pelos ares!