Está Acontecendo Algo no Brasil. E agora, o que virá? Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 17 de junho de 2013 por

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No exato momento em que escrevo, segunda feira 17 de junho de 13, milhares de pessoas estão nas ruas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre,Curitiba e mais capitais e cidades do interior. Estimativas do site UOL, falam em duzentas e vinte mil pessoas no total, só nas capitais. Pouco, diz um ex-aluno meu pelas redes sociais, pouco perto dos milhões de habitantes que o país tem. É verdade, mas é muito perto do marasmo e da apatia que até agora tenho visto. Desde o “Fora Collor” não via tantas pessoas nas ruas. E mais manifestações estão marcadas para os próximos dias. Até no exterior, brasileiros descontentes se mobilizam.

Veja o link de números das manifestações:

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/17/onda-de-protestos-cresce-e-leva-mais-de-220-mil-brasileiros-as-ruas-de-norte-a-sul-do-pais.htm

Desta vez, ao contrário de quinta feira passada, a polícia não foi violenta. Houveram sim eventos, principalmente  em Brasília e Belo Horizonte. No Rio a situação está mais tensa. Policiais estão “ilhados” na Assembleia Legislativa por manifestantes e isto ainda pode terminar mal. Se comparados, no entanto, com os eventos de quinta feira passada, a violência é  pouca, mais ainda se levarmos em conta o número de pessoas. Tenho a impressão de que a polícia recebeu ordens diferentes desta vez e agiu com menos brutalidade. Os manifestantes também, em sua maioria, estão mais pacíficos. Penso que o que antevi no artigo de domingo acontece agora, pelo menos a maior parte.

Agora então, sabemos que algo ESTÁ ACONTECENDO. A pergunta seguinte é: como vai evoluir, se é que vai.

Não há uma resposta possível a isso agora. Por um lado há gente demais nas ruas para acabar tão facilmente, mas por outro os objetivos das manifestações continuam variados e difusos. Da mesma maneira, com exceção de algumas cenas que pude assistir em Contagem, MG, a população mais pobre ainda não é maioria. E este é, como já disse domingo, um risco para o movimento. O perigo é que ele se isole entre classe média e jovens,  mas não mobilize os mais pobres que são a grande maioria. As perspectivas de mobilização das classes mais baixas, por sua vez, não me parecem boas. Gostaria de dizer o contrário, mas por honestidade intelectual, não posso. Se nas periferias impera, com honrosas exceções, a desmobilização e se nossos cidadãos mais pobres estão “anestesiados” por séculos de repressão e, mais recentemente, por um banho de assistencialismo e consumo a crédito, não é muito provável que assumam um projeto crítico de uma hora para outra. Se analisarmos, por exemplo, os resultados eleitorais da periferia, veremos como o clientelismo de vereadores, prefeitos e outros políticos tem conseguido muito mais “mobilização” do que os movimentos sociais locais e os grupos comunitários. Mas, mas eu posso estar errado… A força de alguns movimentos, principalmente de jovens pobres ligados as artes, pode ser maior do que eu sou capaz de avaliar. Neste caso, pela mobilização destes grupos, a participação na periferia  e da periferia, pode crescer.

Este crescimento, porém, assim como a manutenção das manifestações daqueles que já estão nas ruas, depende também de outro fator que citei domingo: a capacidade de ser reunir algumas reivindicações concretas, claras e pontuais. Isto, por sua vez, não virá dos milhares de manifestantes de forma tão fácil. É hora das associações, sindicatos, grupos de debate, lideranças sociais e culturais, proporem bandeiras e exigências concretas que, por sua vez, traduzam a insatisfação popular e as reais necessidades de nossa democracia.

Minha capacidade de propor pontos é a mesma de um cidadão qualquer, uma vez que não tenho poder algum e nenhuma participação em grupos que os detêm. Mesmo assim, através deste Blog, faço as minhas propostas que são as mesmas que vão me levar às ruas na próxima quinta feira.

Começo das mais pontuais e sigo em direção àquelas mais amplas. São elas:

a)    Mantenhamos a reivindicação sobre o Transporte Público sim, mas não somente das tarifas baixas e também da qualidade, incluindo-se aí segurança, pontualidade, lotação máxima e conforto.

b)    Que sejam expostos claramente os contratos estipulados e, principalmente, a margem de lucro das empresas, bem como a sua situação perante os seus trabalhadores e perante o fisco. Empresas que não cumprem seus deveres devem ter seus contratos anulados e riscadas de futuras licitações.

c)    Os gastos públicos tem que ser o mais transparentes possível, com o uso imediato da internet para divulgação de planilhas claras de gastos municipais, estaduais e federais em todas as áreas. Cada cidadão deve saber exatamente quanto pagou de impostos e no que eles foram gastos.

d)    Municípios, Estados e a Federação devem começar imediatamente uma reforma educacional, contemplando carreiras atraentes para os professores, salários condignos, jornadas de trabalho adequadas e cobrando dos mesmos os resultados em melhoria dos índices que medem o aprendizado dos alunos. Chega de protelações e chega de dizer que estamos “na média”. Revolução geral na Educação Já.

e)    O mesmo deve ser feito em relação à saúde. Revolução total na gestão e na amplitude dos serviços. Os governos devem discriminar com clareza quanto e como estão gastando nesta área e formar e apresentar planos reais para a sua melhoria. Isto deve incluir desde planos de carreira aos profissionais da saúde, com a mesma atratividade citada no caso da educação, até a programação da construção de unidades de saúde e hospitais devidamente equipados.

f)     Ainda em relação a saúde e educação, punição exemplar e rápida para casos de corrupção, desvio de verbas e mesmo para profissionais desonestos que não cumprem seus deveres. Nem que tenhamos que mudar a Constituição por emenda e o Código Penal, proponho que crimes de corrupção nestas áreas e, de quebra em todas as outras, sejam equiparados a roubo e latrocínio, o que de fato o são indiretamente.

 

Estas seriam as reivindicações que eu levaria (aliás que vou levar) para as ruas de minha cidade. E penso que os que devem se comprometer imediatamente por elas são os políticos atuais, sejam de que partido forem. Começa pelos vereadores de minha cidade, passa por deputados estaduais, governo do estado, deputados federais, senadores e presidência da república. NÃO EXISTE NENHUMA DESTAS INSTÂNCIAS QUE ESTÁ LIVRE DE INICIAR O CUMPRIMENTO DESTAS REIVINDICAÇÕES, SEJA NA BASE LOCAL SEJA NA FEDERAL. ASSIM COBRO DE TODOS ELES, TODOS OS VEREADORES, DEPUTADOS, SENADORES, GOVERNADORES E PRESIDENTA QUE CUMPRAM O SEU REAL DEVER ATRAVÉS DA ATENÇÃO A ESTAS DEMANDAS SOCIAIS. E REAFIRMO QUE NÃO SÃO CONCESSÕES QUE NOS FAZEM, MAS DIREITOS QUE NOS DEVEM.

POR ÚLTIMO, DIANTE DE ALEGAÇÕES DE FALTA DE VERBAS, MINHA PROPOSTA É DIRETA: TIREM O DINHEIRO DAS OBRAS FARAÔNICAS, DO SOCORRO ILEGÍTIMO A INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS, DOS SALÁRIOS MILIONÁRIOS DE POLÍTICOS E DA CORRUPÇÃO QUE ELES, NO MÍNIMO, TOLERAM.

 

No mais, não vou apenas levar isso nas manifestações. Vou escrever a cada político de minha cidade, estado e federação que tenham o voto paulista e exigir o que penso ser estas medidas vitais.

 

Você deve ter outras reivindicações, assim como eu próprio as tenho. Mas estas são as que posso visualizar agora como mais imediatas e, apesar de trabalhosas e espinhosas para muitos, possíveis de serem implementadas.

Se você concorda, divulgue e dissemine. Se não, proponha suas alterações.

Amstalden

PS: segue um vídeo de ontem, do UOL, com análises bem interessantes. É um pouco longo e com duas partes, mas muito bom.

http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/2013/06/1296136-tv-folha-traz-relato-de-jornalista-atingida-durante-protestos-em-sp-assista.shtml