No último dia 20 estive na manifestação nas ruas de Piracicaba, conforme já havia dito que o faria e ainda explicado porque o faria, através deste Jornal e do Blog. Não vou repetir aqui o relato do que vi e vivi lá, uma vez que já o publiquei antes, ainda no calor dos acontecimentos. Mas em poucas palavras, devo dizer que foi uma manifestação fantástica, plural e, na sua esmagadora maioria, tanto de tempo quanto em relação às atitudes dos participantes, extremamente pacífica. No entanto, ocorreram sim atos de violência, depredação, vandalismo e saques. Não vou agora discutir porque o quem, isto não caberia no espaço que tenho aqui. Mas sim outros fatos que me causaram profunda indignação.
Dois dias antes da manifestação, o prefeito Gabriel Ferrato convocou manifestantes à prefeitura a fim de conversar sobre as condições de segurança da manifestação e o seu trajeto. Pelo que acompanhei nos jornais e em relatos dos participantes, houve um impasse. O prefeito queria que somente alguns manifestantes subissem para conversar, e estes se recusaram por argumentarem que, uma vez que o movimento não tem UMA liderança, mas é coletivo, então todos tinham o direito de ouvir o que seria discutido. Também se recusaram porque acreditavam que a discussão não deveria ser sobre o trajeto, mas sobre as tarifas. Enfim a reunião não aconteceu e, no dia seguinte, Ferrato declarou nos jornais que os manifestantes “haviam se tornado responsáveis pelo que viesse a acontecer na passeata”.
Durante a passeata não havia policiais militares nas ruas e nem agentes da SEMUTRAN para orientar o trânsito, que obviamente se desorganizou, e nem para garantir a segurança dos manifestantes pacíficos. Em todo o trajeto, vi apenas dois agentes da SEMUTRAN em motos e nenhum PM, apenas o helicóptero que sobrevoava tudo. Ora, é claro que não desejava que a PM estivesse lá para reprimir a manifestação. Por outro lado, não sou tolo nem inexperiente. Sei que em toda aglomeração e principalmente numa de protesto, existem os que entram com más intenções ou que se excedem, às vezes até por revolta legítima. Para evitar que estes indivíduos (sejam eles bandidos ou vítimas) cometam atos de violência que prejudicam a todos, inclusive a eles mesmos, é que penso que a PM deveria estar lá. Pelo que vi, em relação a Guarda Municipal, a maioria esmagadora dos manifestantes não foi agressiva com os policiais e, penso eu, uma presença mais efetiva da PM poderia dissuadir os mais violentos de cometerem atos danosos. Mas ela não estava lá. E a pergunta é, por que não?
Neste sábado, dia 22, li declarações de uma oficial da PM que: “A PM não é bem vinda nas manifestações. A imagem que as pessoas têm da corporação é de que somos um elemento provocador de violência. Mas, nossa missão é proteger a vida destas pessoas”. Isto, juntamente com o fato de que a “missão da PM seria proteger a vida e não o patrimônio” justificaria a pouca presença dos soldados. Concordo com ambas as afirmações iniciais. De fato muito da imagem da PM ainda é de repressora e violenta, como de fato foi em São Paulo. Também concordo que ela deve proteger a vida das pessoas. Daí a questão: por que não estava fazendo isso lá? Seria só o patrimônio que corria risco ou os manifestantes pacíficos também estavam? Por outro lado, achei estranha a afirmação. Quer dizer então que a PM não deve coibir roubos, mas apenas assassinatos? Confesso que não entendi.
Em relação ao papel de agente da violência, até onde sei isto também depende da atitude da própria polícia. Em São Paulo, quando uma das primeiras manifestações foi reprimida duramente (dia 13/06) de fato a PM provocou violência e, de quebra, aumentou o número de manifestantes nas ruas. Se, no entanto, a atitude da polícia fosse diferente, acredito que não somente as depredações seriam desestimuladas como o direito de manifestação democrática será mantido. Em Rio Claro, nossa vizinha, uma manifestação de 5 mil pessoas foi acompanhada pelos soldados e não houve grandes incidentes. A polícia fez o seu papel de defensora dos direitos dos cidadãos, inclusive daquele de livre expressão democrática e pacífica. É isso que eu chamo de uma “polícia cidadã”. Mas em Piracicaba não. Ela ficou afastada até que os incidentes começaram e daí, talvez já fosse muito tarde para os lojistas que tiveram seus negócios saqueados e para os pacíficos que ficaram no meio das agressões.
Porém o mais me incomoda é que, depois da declaração de Gabriel Ferrato sobre o fato de que os manifestantes seriam responsáveis pelo que acontecesse, ficou a impressão de que a ausência da PM foi proposital, combinada e uma espécie de retaliação à reunião frustrada entre prefeito e manifestantes. Ficou também a impressão de uma “armadilha”. Uma abertura de oportunidade para que os violentos atacassem livremente e, com isso, desmoralizar-se o movimento e desestimular a presença futura daqueles pacíficos. Eu NÃO POSSO ESTAR CORRETO, porque se estiver, então o que aconteceu foi uma irregularidade sem tamanho, uma vez que quem comanda a PM é o governo do Estado e não o prefeito. Mas, que esta impressão ficou, isto ficou. E teria sido muito melhor que os soldados estivessem presentes, pacificamente, mas vigilantes, para resguardar a segurança de cidadãos se manifestando no Estado de Direito. Este papel acabou sendo feito pela Guarda Municipal que ficou protegendo o Terminal Central e a Câmara. Aliás, vai aqui um elogio. Fizeram isso magnificamente bem, sem aceitar provocações de baderneiros nem de jovens militantes equivocados. Cheguei a ver um vídeo de um Guarda Municipal recebendo uma cusparada na cara de um tolo exaltado e mesmo assim manteve o controle. A Guarda Municipal me encheu de orgulho e a PM perdeu uma oportunidade de “mudar sua imagem” e o prefeito deixou de incentivar a cidadania e de dialogar com seu povo. Perderam também os comerciantes que tiveram suas lojas saqueadas e a população pacífica, principalmente os jovens que descobriam a idéia da participação democrática direta e da cidadania engajada. Quem ganhou? Ganharam os ladrões, os baderneiros e aqueles a quem a passeata incomodou. Resta perguntar quem foram, aqui, em Piracicaba, estes incomodados.
Rodrigo Sarruge Molina
27 de junho de 2013
Concordo com o relato.
Eu estive no último protesto quando fomos cercados pela PM no terminal e recebidos com bombas de forma covarde. Foi o único momento onde os militares estavam presentes com suas viaturas. (É para proteger ou reprimir?)
Outra observação, os tais “vândalos” surgiram no meio do protesto e fugiram no fim do mesmo, estranho não?
Para mim, também ficou a impressão de que foi toda uma armação proposital para “queimar o filme” dos manifestantes que lutam heroicamente por DIGNIDADE.
Sou favorável pela desmilitarização da Polícia a criação da Polícia cidadã, voltada para um contexto social de democracia.
Evandro Mangueira
27 de junho de 2013
Li seu artigo no jornal, muito bom, mas existe algo no jornal que me incomoda há anos: A total parcialidade dos fatos, a capa trazia uma frase sobre o protesto que, no mínimo, induzia ao erro.
Evandro Mangueira
27 de junho de 2013
Digo, o jornal de Piracicaba de ontem, li o seu artigo em uma cópia que vi na net.
kamiolamilah
27 de junho de 2013
Tive a mesma impressão. Inclusive, onde foi que li um comentário? Sobre a omissão da PM durante os saques aqui em Piracicaba, um manifestante questionou os soldados, e os mesmos rindo responderam que aquilo era pra acontecer. Não garanto a fonte, mesmo porque nem lembro qual é, mas acho bastante possível a declaração ser verdadeira. Quanto à função da PM: a corporação está equivocada sobre a sua finalidade? Ela está sendo controlada por interesses-políticos? Ou está mostrando de fato para o que foi criada? Reprimir o cidadão, e não protegê-lo?
Kaique Rossini
27 de junho de 2013
Professor, na quinta-feira eu testemunhei um esvaziamento proposital da PM do centro da cidade bem nos momentos dos saques, eram por volta de 20 policiais subindo a pé a rua Governador, na altura da Joaquim André, sentido paulista às 20:30hrs mais ou menos. Tive relatos de um guarda da GM que ficou na contenção da Câmara de vereadores (estes foram homens, pq uma reação deles ali, poderia terminar em tragédia) me confidenciou que a ordem da PM era não intervir em NADA. Depois das declarações do Ferrato de que “a responsabilidade da violência seria do PC” percebi um recado claro de que haveria uma confusão orquestrada. Na terça-feira não houve escolta ALGUMA da PM, coisa comum em qualquer manifestação, o que inibiria a ação de pessoas absolutamente desligadas ao movimento que atacavam lojas. Inclusive, segundo relatos que ouvi, era um grupo coeso, que milagrosamente antes de chegar ao terminal, sumiu, restanto a repressão da policia, dando um belo fecha por trás e pela frente nos manifestantes que estavam tranquilos até o momento. Infelizmente a PM e a GM estão sendo usadas magistralmente pelo Sr. Ferrato para deslegitimar o movimento, às custas de comerciantes e da população em geral. Hoje saiu uma matéria na Tribuna Piracicabana atentando para o que pode ser uma articulação entre Prefeitura/PM/Vandalos, por conta de diversos relatos colhidos na manifestação.
blogdoamstalden
27 de junho de 2013
Pefeito, Kaique. Muito obrigado por comentar. Ilustra que, talvez, infelizmente, eu esteja correto…