A PM, o Prefeito e a Manifestação. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 27 de junho de 2013 por

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sem lideres

No último dia 20 estive na manifestação nas ruas de Piracicaba, conforme já havia dito que o faria e ainda explicado porque o faria, através deste Jornal e do Blog. Não vou repetir aqui o relato do que vi e vivi lá, uma vez que já o publiquei antes, ainda no calor dos acontecimentos. Mas em poucas palavras, devo dizer que foi uma manifestação fantástica, plural e, na sua esmagadora maioria, tanto de tempo quanto em relação às atitudes dos participantes, extremamente pacífica. No entanto, ocorreram sim atos de violência, depredação, vandalismo e saques. Não vou agora discutir porque o quem, isto não caberia no espaço que tenho aqui. Mas sim outros fatos que me causaram profunda indignação.

Dois dias antes da manifestação, o prefeito Gabriel Ferrato convocou manifestantes à prefeitura a fim de conversar sobre as condições de segurança da manifestação e o seu trajeto. Pelo que acompanhei nos jornais e em relatos dos participantes, houve um impasse. O prefeito queria que somente alguns manifestantes subissem para conversar, e estes se recusaram por argumentarem que, uma vez que o movimento não tem UMA liderança, mas é coletivo, então todos tinham o direito de ouvir o que seria discutido. Também se recusaram porque acreditavam que a discussão não deveria ser sobre o trajeto, mas sobre as tarifas. Enfim a reunião não aconteceu e, no dia seguinte, Ferrato declarou nos jornais que os manifestantes “haviam se tornado responsáveis pelo que viesse a acontecer na passeata”.

Durante a passeata não havia policiais militares nas ruas e nem agentes da SEMUTRAN para orientar o trânsito, que obviamente se desorganizou, e nem para garantir a segurança dos manifestantes pacíficos. Em todo o trajeto, vi apenas dois agentes da SEMUTRAN em motos e nenhum PM, apenas o helicóptero que sobrevoava tudo. Ora, é claro que não desejava que a PM estivesse lá para reprimir a manifestação. Por outro lado, não sou tolo nem inexperiente. Sei que em toda aglomeração e principalmente numa de protesto, existem os que entram com más intenções ou que se excedem, às vezes até por revolta legítima. Para evitar que estes indivíduos (sejam eles bandidos ou vítimas) cometam atos de violência que prejudicam a todos, inclusive a eles mesmos, é que penso que a PM deveria estar lá. Pelo que vi, em relação a Guarda Municipal, a maioria esmagadora dos manifestantes não foi agressiva com os policiais e, penso eu, uma presença mais efetiva da PM poderia dissuadir os mais violentos de cometerem atos danosos. Mas ela não estava lá. E a pergunta é, por que não?

Neste sábado, dia 22, li declarações de uma oficial da PM que: “A PM não é bem vinda nas manifestações. A imagem que as pessoas têm da corporação é de que somos um elemento provocador de violência. Mas, nossa missão é proteger a vida destas pessoas”. Isto, juntamente com o fato de que a “missão da PM seria proteger a vida e não o patrimônio” justificaria a pouca presença dos soldados. Concordo com ambas as afirmações iniciais. De fato muito da imagem da PM ainda é de repressora e violenta, como de fato foi em São Paulo. Também concordo que ela deve proteger a vida das pessoas. Daí a questão: por que não estava fazendo isso lá? Seria só o patrimônio que corria risco ou os manifestantes pacíficos também estavam? Por outro lado, achei estranha a afirmação. Quer dizer então que a PM não deve coibir roubos, mas apenas assassinatos? Confesso que não entendi.

Em relação ao papel de agente da violência, até onde sei isto também depende da atitude da própria polícia. Em São Paulo, quando uma das primeiras manifestações foi reprimida duramente (dia 13/06) de fato a PM provocou violência e, de quebra, aumentou o número de manifestantes nas ruas. Se, no entanto, a atitude da polícia fosse diferente, acredito que não somente as depredações seriam desestimuladas como o direito de manifestação democrática será mantido. Em Rio Claro, nossa vizinha, uma manifestação de 5 mil pessoas foi acompanhada pelos soldados e não houve grandes incidentes. A polícia fez o seu papel de defensora dos direitos dos cidadãos, inclusive daquele de livre expressão democrática e pacífica. É isso que eu chamo de uma “polícia cidadã”. Mas em Piracicaba não. Ela ficou afastada até que os incidentes começaram e daí, talvez já fosse muito tarde para os lojistas que tiveram seus negócios saqueados e para os pacíficos que ficaram no meio das agressões.

Porém o mais me incomoda é que, depois da declaração de Gabriel Ferrato sobre o fato de que os manifestantes seriam responsáveis pelo que acontecesse, ficou a impressão de que a ausência da PM foi proposital, combinada e uma espécie de retaliação à reunião frustrada entre prefeito e manifestantes. Ficou também a impressão de uma “armadilha”. Uma abertura de oportunidade para que os violentos atacassem livremente e, com isso, desmoralizar-se o movimento e desestimular a presença futura daqueles pacíficos.  Eu NÃO POSSO ESTAR CORRETO, porque se estiver, então o que aconteceu foi uma irregularidade sem tamanho, uma vez que quem comanda a PM é o governo do Estado e não o prefeito. Mas, que esta impressão ficou, isto ficou. E teria sido muito melhor que os soldados estivessem presentes, pacificamente, mas vigilantes, para resguardar a segurança de cidadãos se manifestando no Estado de Direito. Este papel acabou sendo feito pela Guarda Municipal que ficou protegendo o Terminal Central e a Câmara. Aliás, vai aqui um elogio. Fizeram isso magnificamente bem, sem aceitar provocações de baderneiros nem de jovens militantes equivocados. Cheguei a ver um vídeo de um  Guarda Municipal recebendo uma cusparada na cara de um tolo exaltado e mesmo assim manteve o controle. A Guarda Municipal me encheu de orgulho e a PM perdeu uma oportunidade de “mudar sua imagem” e o prefeito deixou de  incentivar a cidadania e de dialogar com seu povo. Perderam também os comerciantes que tiveram suas lojas saqueadas e a população pacífica, principalmente os jovens que descobriam a idéia da participação democrática direta e da cidadania engajada. Quem ganhou? Ganharam os ladrões, os baderneiros e aqueles a quem a passeata incomodou. Resta perguntar quem foram, aqui, em Piracicaba, estes incomodados.

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