Hoje, a partir das 16:00 hrs, acontecerá o V Café Literário e o I Encontro do Blog (veja o local e a descrição do evento no link: https://blogdoamstalden.com/2013/06/15/v-cafe-literario-e-i-encontro-do-blog/)
Conosco estarão a maioria dos colaboradores do blog e também os leitores que queiram conhecer os autores e conversar, além de, é claro, saborear um excelente café.
Evandro Mangueira, autor da Coluna do Evandro e autor do livro “Arcanjo Gabriel”, recentemente contemplado pelo F.A.C. (Fundo de Apoio à Cultura de Piracicaba) e que estará a venda na Bienal do Rio deste ano, estará conosco também.
Hoje, apresento a ficha técnica da sua obra e um trecho de cortesia para apreciação. Se você gostar, venha nos encontrar e falar mais sobre o livro e o autor. Ah, também Carla Betta, colunista, nos brindará com uma história. Não perca.
Segue a ficha do livro e o trecho:
Arcanjo Gabriel
Existe um segredo que Gabriel guarda no canto mais obscuro do seu coração, para manter esse segredo a salvo o Anjo dos anjos é capaz de qualquer coisa, até mesmo utilizar as profecias mais antigas. Em gênese 6:4 diz que os anjos desceram a Terra e possuíram sexualmente as mulheres e estas geram frutos dos seus ventres: os nefilins, que do hebraico “nephilim”, se traduz por gigantes, mas tanto pode referir-se à estatura dos homens, como à sua ferocidade; à degradação de seu caráter ou a ilegitimidade de seu nascimento.
O livro Arcanjo Gabriel traz um romance envolvente, com aventura, suspense, drama e amor. Amor incondicional que o anjo deserdado Arzel, nome traduzido do hebraico por nobre, tem pela humanidade. Os Reinos dos céus estão divididos nesta odisséia. Até o Encourado, mais conhecido como Lúcifer, poderá tomar um posicionamento controverso. Por sorte, Arzel conta com a ajuda de um grupo muito especial, entre eles o Arqueiro.
Mas ao se debruçar para ler esta obra, abstraia qualquer teor religioso, filosófico ou espiritual, trata-se exclusivamente de uma obra de ficção, com o único intuito de entretenimento e lazer. O livro lhe transportará a um universo de magia repleto dos aspectos místicos da nossa sociedade.
Caso desejem a obra inteira é possível baixá-la, gratuitamente, em PDF ou comprá-la na versão impressa em:
www.perse.com.br/evandro-mangueira
Segue, aqui, o primeiro capítulo.
A cidade de Jaspe e o anjo sem asas – Capítulo 01
Os pés doíam, estavam em carne viva, o suor escorria em seu rosto magro, os cabelos compridos e loiros estavam totalmente desarrumados e, nitidamente, podia-se notar que era um estrangeiro andando em terras desconhecidas, com fome e sem a menor vontade de continuar o seu caminho.
Arzel decide sentar-se em uma pedra, talvez a única coisa mais próxima de um descanso confortável. Refletindo sobre si próprio, percebeu pela primeira vez como seria realmente difícil ser um mortal. Nunca precisou andar tanto, nunca precisou beber água, ou mesmo comer, mas hoje, pela primeira de muitas outras vezes, talvez, se sobrevivesse, teria que andar e sentir cada músculo trabalhar, e desejou ter aceitado o pão, naquela ocasião em que o mago lhe ofereceu e isso pareceu impróprio.
Deserto para todos os lados, e bem pouca esperança depois de um dia e, meio caminhando sem parar, não avistando comida nem água, Arzel, o qual agora descansa em uma pedra e pensa que, definitivamente, não pertence àquele mundo, embora ele tenha amado a humanidade, mesmo quando não sabia o que era o amor.
Com suas mãos trêmulas, amarra o cabelo em forma de coque e ajusta a roupa ao corpo suado, limpa a boca, a qual se encontra mais seca do que nunca, e levanta-se com um pouco da fé que ainda lhe resta. Não acreditava que algum dos deuses iria ajudá-lo. Nesse momento, os céus não eram mais confiáveis e o melhor a fazer ele fez.
Seguiu pisando fofo em areias quentes, e a única proteção que tinha nos pés era um par de chinelos de couro, o qual sabia que não deveria usar por muito tempo. Tinha consciência de que, parte de sua condenação, seria permanecer descalço (quem mandou herdar os pecados do mundo!). Caso renegasse isso, sabia perfeitamente o que iria acontecer! Até tentou ir descalço, mas seu sangue, que agora era vermelho escarlate, lavava o chão escaldante e, se continuasse a perder tanto sangue, não chegaria com vida à cidade prometida.
Sentia sede também e, só após alguns minutos caminhando sem parar, é que encontra uma planta, algo parecido com um cacto. Arzel não desconhece que esse tipo de planta armazena água, mas não sabe ao certo como usufruir disso. Então, tira um pequeno canivete que traz no cós e rasga a planta, tentando extrair o maior volume de água possível. Corta-a em um dos nódulos e, em seguida, faz um corte mais acima.
Seus olhos negros e pequenos veem água, depois de muito tempo, e ele bebe-a, como se nada no mundo fosse tão gostoso e sagrado. Antes, ele conhecera várias formas de água, mas nada se comparava à necessidade humana de se hidratar. Sentia alívio, não deixando cair nem uma gota sequer, e seu corpo ganha uma nova vida.
Segue um pouco mais adiante, e seus pés param de afundar na areia. Surge então, em seu caminho, uma nova forma de terreno, algo muito mais próximo de pedra e barro, ele sente firmeza ao pisar e uma brisa leve carrega uns fios do coque, os quais estavam soltos, para o mais longe possível de seu rosto.
O ar era fresco, sinal de que a noite estava caindo sobre ele, e também que logo encontraria a trilha de pedras brancas. Não era novidade, pois, quando criança, sempre ouvia de sua mãe que um dos deuses fizera com suas próprias lágrimas aquele caminho de pedra branca. Esta era uma lenda antiga, mas Arzel sabia que era verdade, porque ele mesmo já estivera em frente ao deus que chorava pelos pecados do mundo. A única coisa que ele não sabia era que sua mãe, um dia, se apaixonou pelo mesmo deus que lhe doara as alpargatas de couro, as quais salvaram sua vida, mas pôs em risco a vida da sua irmã.
O calor diminuía consideravelmente e uma brisa úmida batia em seu rosto. Como eram agradáveis as sensações! Podia tocar em si mesmo e sentir vida, sua pele era macia.
Ele sabia que era composto de carne, músculo e sangue e sentia esse último quente, correndo em suas veias e o cheiro do seu corpo suado. Isso era vida afinal.
Já era noite completa, quando avista as primeiras pedras brancas, que eram redondas e brilhantes, brancas e perfeitas, pedras de mais ou menos uns vinte centímetros de diâmetro, as quais começavam a surgir embaixo de seus pés. Arzel imediatamente tirou os chinelos e esperava que Safir ainda estivesse viva.
A trilha de pedras foi facilmente seguida, já que ele andava com vontade e, entre uma pedra e outra, a sujava de sangue, o qual saía de muitos cortes finos que tinha na sola dos seus pés, mas seguiu firme, já com certa felicidade porque não precisava mais usar o chinelo.
Em sua volta, toda a trilha era de pedras brancas. A cidade de Jaspe estava próxima, não poderia estar tão longe, então se sentou mais um pouco e descansou por alguns minutos, contemplando um céu límpido e estrelado, mas optou por não descansar muito e continuar a jornada, já que sabia que estava próximo e a noite fria congelava o seu corpo magro.
Até o frio o lembrava que era humano agora!
Arzel ouviu o som de águas como ondas, como cachoeiras, era a garantia de que a cidade de Jaspe estava bem perto, ao longe, o vermelho já tomava forma e a cada passo dado surgiam novas casas.
Muros do mais puro jaspe emergiam à sua frente.
Sentiu cansaço, talvez por empolgação, ou mesmo porque tinha usado toda força de que era capaz para chegar até ali e aí o mundo escurece e ele cai! Apaga-se tudo à sua volta!
Com os olhos ainda fechados, Arzel ouve uma conversa, a voz era conhecida, já ouvira suas preces muitas vezes. Em um tom de quase choro, a voz resmungava mais para si do que para os outros que Safir sobreviveu, a febre diminuía e que, em breve, ela estaria de pé.
Ninguém imaginava como Arzel conseguira passar pelo vale da Morte e que, graças sejam louvadas às divindades por terem tido misericórdia de um anjo deserdado.
– Quem me trouxe até a sua casa – a voz do deserdado saía como um gemido – gostaria de pedir perdão à Safir por ter usado os chinelos por tanto tempo, mas o deserto estava escaldante e sem eles eu não teria conseguido chegar aqui.
– Safir… – começou uma voz envelhecida e cheia de bondade.
– Passou entre febre e delírios esses dias em que você usou os chinelos, mas resistiu firme, sabia que você precisava atravessar o vale e os deuses sejam louvados! Você está vivo aqui em nossa casa! Sabe quantos anjos deserdados sobrevivem? Eu temia que você não encontrasse água a tempo de saber o que era sede. Imaginei por várias horas que os abutres teriam prazer em comer carne de anjo. Louvei à Jafé desde o momento em que soube que você fora deserdado, imaginei que após perder suas asas, não iria conseguir caminhar. Quero saber tudo o que aconteceu. O seu aiô me contou aos pontapés, quase não me sobrou fé para continuar a louvar Jafé, temia que sua misericórdia não conseguisse ver que você não sobreviveria a essa batalha… Conte-me, o que aconteceu?
Arzel ia começar a falar quando seus olhos viram Safir e um sorriso discreto apareceu em seu rosto e, imediatamente, ele levanta-se da cama, abraça-a e, em prantos, se expressa:
– Perdão, perdão por usar os chinelos. Tive medo de não conseguir, tive medo de morrer. Achei que você não iria sobreviver para lhe pedir perdão, achei que meu fracasso iria matá-la. Minha aiô, não suportaria viver sabendo que você estaria morta… Perdoe-me…
– Arzel – uma voz calma, porém cansada e fraca saía da boca de uma linda mulher, que só sendo filha de um deus teria tanta presença – Jamais iria culpá-lo por usar os chinelos, sei como é passar pelo vale da Morte, também passei por lá. Entre nós não existirá culpados, estou feliz que você tenha sobrevivido, achei que iria perdê-lo! Fiquei com muito medo, a febre era insuportável, mas louvei à Jafé para que você não morresse. Pedia-lhe que o ajudasse e ainda bem que você tinha as alpargatas. Jafé cobrou de mim a saúde por dias, mas fiquei feliz em saber que você pode usar os chinelos.
– Arzel – a voz ficou mais doce nesse momento e seu olhar mais misericordioso –, conte-nos tudo o que aconteceu desde o início, soube que o próprio Jafé quem lhe deu os chinelos, isso é verdade?
– Jafé – o anjo começou com voz firme, mas era perceptível a angústia que envolvia sua fala – me deu os chinelos na porta de entrada do vale, entre as duas montanhas de meia lua e o rio seco. Mesmo sabendo que não poderia usá-los por muito tempo, porque você iria sofrer as consequências, me decidi por usá-los, todavia temi por sua morte e sou consciente de minhas obrigações.
Um silêncio pairava sobre a casa enquanto todos esperavam Arzel se recuperar para recomeçar a falar, o que demandou um tempo porque ele não conteve o choro. Suas lágrimas salgavam sua boca, mas lavavam sua alma. Apesar de ser deserdado, agora tinha alma, talvez não como a luz que tinha antigamente, mas possuía uma alma humana, na verdade uma alma humanizada.
Atravessar o vale da Morte não era exatamente o fim de tudo, mas, muito provavelmente o começo, um começo como humano. Ele nunca esteve tão perto da humanidade como agora, mas sempre esteve ao lado dela.
Quando a guerra foi anunciada, o partido que Arzel tomou sempre foi o de salvar as almas e respeitar o livre arbítrio. Essas lágrimas que ele sentia escorrer pelo seu rosto eram lágrimas de tristeza, mas também eram de alegria, porque estava vivo e sabia que muitos estariam ao seu lado.
Enquanto chorava, seus pensamentos voaram longe e pararam em um recorte da cena onde tudo começou…
Referências:
AIÔ – hebraico: irmão (II Samuel 6:3)
ARZEL ou AZEL – hebraico: nobre (Zacarias 14:5)
JAFÉ – hebraico: beleza (Gênesis 5:32)
SAFIR – hebraico: bela (Miquéias 1:11)
ZERÁ – hebraico: crepúsculo (II Crônicas 14:9)
VAIZATA – hebraico: forte como o vento (Ester 9:9)
ADLAI – hebraico: justo (I Crônicas 27:29)
CATATE – hebraico: pequeno (Josué 19:15)
SEMEDE – hebraico: destruição (I Crônicas 8:12)
CEFA ou CEFAS – aramaico: pedra (I Coríntios 1:12 e 9:5)
BOAZ – hebraico: força (Rute 2:1)
NOEMI – hebraico: amável (Rute 1:2)
ME–ZAABE – hebraico: águas de ouro (Gênesis 36:39)
NABAL– hebraico: sem juízo (I Samuel 25:03)
ANRAFEL – hebraico: guarda de deuses (Gênesis 14:1)
Ficha técnica:
Escrito por Evandro Mangueira
Revisado por Letícia Vidor – Doutora em Antropologia (leticiavidor@hotmail.com)
Fotografia da capa por Isaias Germano (Isaias.depagu@gmail.com)
Vendas em: www.perse.com.br/evandro-mangueira
Download do PDF em: www.perse.com.br/evandro-mangueira (escolher a opção “compre o livro”, precisa está logado para aparecer à opção download do PDF)
Evandro Mangueira
29 de junho de 2013
Para quem quiser a cópia em PDF (e-Book) basta entra nesse site:
http://evandromangueira.jimdo.com/