Coluna do Totó. AMAR É CUIDAR

Posted on 2 de agosto de 2013 por

2



Totó Foto

Cuidar de si para não ser pesado a quem se ama é uma forma de amar. E não tem como cuidar de si quem não se conhece, e quem recusa se ver como é – qualidades e defeitos – não percebe o estrago que faz. As relações podem ser uma boa oportunidade de autoconhecimento. Quanto mais isolados mais brutos somos. O relacionamento com companheiros de trabalho, com amigos, vizinhos e principalmente com pessoas difíceis são oportunidades para nos conhecermos. As relações próximas exigem que arranquemos máscaras derrubemos defesas, questionemos preconceitos e crenças que nos condicionam. Nem sempre as pessoas nos vêem como pensamos ser; e nem sempre o que somos para os outros é o nosso próprio eu. Somos um tesouro guardado numa caixa; se permitirmos os outros poderão nos ajudar a abri-la.

O relacionamento a dois é melhor ainda porque o espaço de dissimulação é mais restrito. Pode ser essa uma das explicações para o medo do compromisso. Vivemos numa sociedade que valoriza a aparência e o bem estar. Por isso o TER tem valido tanto e a vaidade marca território. Porém essas coisas servem para nada porque entregar-se exige humildade e sabedoria, ou seria melhor morrer com a caixa fechada?

Um relacionamento que não valoriza o autoconhecimento torna-se espinhoso, e caro. Manter a aparência e preencher a solidão com filhos (pobres deles!), festas, viagens, churrasquinhos para os amigos, cães, gatos, benemerências, carros, etc. custa dinheiro; e o trabalho intenso para manter tal padrão, além de valorizado é uma boa desculpa. São na verdade dois doentes precisando um do outro para não se curar. Duas esfinges que não querem ser decifradas.

Já para quem quer ser responsável por si mesmo o relacionamento a dois é o caminho. Se houver amor, um será para o outro como porta por onde possa entrar e sair na busca de si; espelho no qual se veja, tome posse de si, conheça suas feridas para delas cuidar. Nesse processo os conflitos e crises são invitáveis, porém não se buscam culpados; cada qual olha para si e procura melhorar, mesmo que tenha de se cobrir de cinzas. Trata-se de um aprendizado constante, pois o processo de evolução é espiral; e não há evolução maior que a posse da própria essência. Quando isso acontece a pessoa torna-se um bem inestimável para a Humanidade, porque o SER basta por si.

Alguém disse que amar é nunca ter que pedir perdão. Pelo contrário, só quem ama compreende as recaídas do outro na desconstrução e reconstrução de si. Talvez por isso São Paulo tenha dito que o amor tudo crê, tudo suporta, perdoa, tolera e não se alegra com a queda do outro. O perdão não apaga as marcas. Porém é um gesto de generosidade de quem é senhor de si e tira da alegria do perdoado a própria satisfação.

Para que serve vida guardada? Se o grão de trigo caído na terra não morrer, fica só, dizia Jesus. Conviver é aventurar-se no conhecimento da vileza e da grandiosidade humanas. Quem ama é para o amado porto de encontro, pois o que procura carrega em si. E se houver amor do tamanho da empreitada perceberão que amar não é somar, nem multiplicar e nem suprir; é partilhar. E quem não cuida de si tem muito para dar, muito para ajudar, muito para fazer e colaborar, porém nada para partilhar. E quem não tem nada para partilhar sufoca, controla, domina, centraliza, cria dependência, chantageia reconhecimento, não convive, coabita. E quem não é admirado pelo que é precisa ser reconhecido pelo que tem e faz. O problema é que sempre haverá quem tenha mais e faça melhor.

Antônio Carlos Danelon é Assistente social. totodanelon@ig.com.br

Posted in: Coluna do Totó