Seção Estante. Equador. Um livro sobre idealismo e cinismo

Quer uma dica de livro que o envolvente e profundo ao mesmo tempo? Aqui tem uma: Equador, do autor português Miguel Souza Tavares, publicado no Brasil pela Cia das Letras.

No final do século XIX e início do século XX, Luis Bernardo, jovem burguês de Lisboa, defensor de idéias progressistas em relação às colônias portuguesas, acaba nomeado pelo rei D. Carlos, governador das ilhas de São Tomé e Príncipe, costa africana na linha do equador. Sua missão: amenizar as denúncias de trabalho escravo, que ainda existe de maneira camuflada, frente  ao cônsul inglês, que deve chegar às ilhas para averiguar as mesmas denúncias e produzir um relatório ao governo britânico. Ao mesmo tempo, Luis Bernardo deve tentar convencer os fazendeiros e administradores das ilhas a cumprirem as leis de serviço temporário que substituíram a escravatura. Sozinho, defronta-se primeiro com a frieza dos brancos e com a sua resistência e, mais tarde, ao conhecer a vida dos trabalhadores, entra em conflito direto com os mesmos.

A chegada do cônsul inglês e sua bela mulher acabam sendo um refúgio para Luis, que tem a impressão de encontrar, no casal, aliados em meio à hostilidade de seus próprios conterrâneos. Mais do que refúgio, encontra também a paixão ao se tornar amante da bela esposa do cônsul inglês.

Ao final, acaba por ser envolvido numa rede de intrigas e cinismo, que vem desde a própria corte até os ilhéus, passando pelos ingleses. O que ele acreditava ter como missão não é exatamente o que se esperava dele. O livro descreve bem o embate entre o idealismo de quem acredita estar realizando uma missão oficial e o cinismo do governo e dos grandes proprietários, interessados mais nas aparências do que em qualquer outra coisa.

A obra tem um pouco de tudo: crítica social, romance, crônica de costumes e descrições da vida dos colonos portugueses que “recriam” um mundo europeu na linha do equador. Tem também as reflexões humanistas, a descrição da burocracia traiçoeira e a frustração daqueles que lutam para mudar o mundo. Uma obra excelente, principalmente no momento atual em que, depois dos protestos, tanta gente parece interessada em mudar o mundo. Será que todos estão mesmo? Ou será que o jogo de aparências mantém tudo como antes?

Confira. Eu acho que vai gostar.

Equador.

Miguel Souza Tavares

Cia das Letras. SP.

Palavras Chave: romance social, colonialismo, escravatura, ficção, histórico.