Quando, no século XVIII, surgiu o Iluminismo, o movimento cultural que criou a ciência moderna, havia um grande otimismo dentre os cientistas que acreditavam que no futuro seria possível resolver todos os problemas humanos, desde a fome e as doenças até a harmonia social. No século XIX este otimismo se fortaleceu e se popularizou. Energia elétrica, descobertas biológicas e médicas, engenharia, psicologia, todas as ciências e técnicas pareciam apontar para um futuro no qual a humanidade poderia viver em paz e abundância e, até mesmo, viver para sempre.
Este otimismo, por sua vez, ainda existe. Ainda vejo gente (da área ou não) afirmando que os transgênicos, por exemplo, vão acabar com a fome no mundo; ou ainda revistas apregoando que em breve a medicina criará condições para que a vida seja eterna. Pode até ser que isso venha a acontecer, mas eu tenho minhas dúvidas. Precisamos nos lembrar que a ciência por si só não cria um mundo melhor. É preciso que ela venha acompanhada de uma ética de bem comum, de progresso para todos e de humildade diante da natureza. Sem esta ética, o conhecimento científico pode criar formas novas de matar, destruir, pode criar alimentos que nos envenenam, mas geram lucros para empresas, pode fortalecer ditaduras e pode ainda, como tem feito, acelerar a destruição do meio ambiente, embora a própria ciência nos diga que esta destruição também nos matará.
Esta semana, foi “aniversário” do lançamento de dois artefatos científicos de demonstram o que pode fazer o conhecimento sem ética. As bombas atiradas em Hiroshima e Nagazaki. Não é tão simples assim discutir a situação. Não se pode, por exemplo, negar os crimes de guerra do Japão. Mas por outro lado, será que elas eram realmente necessárias? Será que serviram para derrotar tropas ou para massacrar uma população? Alguns autores defendem a hipótese de que o bombardeio teve um outro fim, demonstrar ao mundo e principalmente à extinta URSS, que os EUA tinham esta nova e terrível arma.
Porém, independente das questões militares, uma coisa é fato. A criação da bomba demonstrou que, ao contrário do que os otimistas esperavam, não resolvemos todos os problemas do mundo e, ao contrário, a ciência criou outros. Criou a possibilidade real de um apocalipse para a vida na Terra.
Não acho que devemos negar o conhecimento. Muito pelo contrário, acredito que é preciso desenvolvê-lo mais e mais. Mas é preciso rever os valores que estão por detrás deste conhecimento. São valores para o bem comum, para o respeito e a humildade perante a vida ou são valores de lucro, poder e controle?
Vinícius de Moraes nos pede para lembrarmos isto em seu poema “Rosa de Hiroshima”, depois musicado por Ney Matogrosso. Lembre do poema, lembre de Hiroshima quando estiver quase esquecendo a necessidade absoluta de valores sólidos e amplos para dirigir nossas vidas, seja na ciência, na política, na economia ou no nosso próprio dia a dia.
Abraços.
Amstalden
anisioluiz2008
11 de agosto de 2013
Republicou isso em O LADO ESCURO DA LUA.
Ninfa Sampronha Barreiros
11 de agosto de 2013
Uma das coisa mais terríveis e que tanto Vinicius como o Ney conseguiram poetizar na voz e na escrita. Adorei o texto. Bem lembrado.
charlesfildes
11 de agosto de 2013
Republicou isso em Alo Presidenta do Brasil.
Anônimo
11 de agosto de 2013
Muito bom o texto! Concordo com quase tudo professor! A única coisa que discordo é o ponto: “Não acho que devemos negar o conhecimento. Muito pelo contrário, acredito que é preciso desenvolvê-lo mais e mais. Mas é preciso rever os valores que estão por detrás deste conhecimento.”
Como você mesmo disse, quanto mais se desenvolve a ciência, e os conhecimentos em volte dela, mais ela trabalha em favor do lucro em detrimento do ético. Na minha humilde opinião já chega de tanto conhecimento. Pelo menos, devido ao atual estágio de involução humana ética, já está demais.
Deveríamos talvez, desenvolver mais e mais a educação, mas não essa tradicional, que já está falida, mas essas tantas outras alternativas que vem surgindo, Inkiri, Waldorf, Ponte, etc.
A ética social já não acompanha o desenvolvimento científico há tempos.
Evandro Mangueira
11 de agosto de 2013
Essa música sempre me deixa triste!
angelica o raffaelli
12 de agosto de 2013
Ler um bom texto é muito bom, e esse é o caso. Também nos faz parar para pensar e repensar.No caso em questão, pensar na importância da ética e dos valores por detrás do conhecimento,item fundamental para um desenvolvimento efetivamente positivo.Acredito que no mundo de hoje seja esse o caminho: cabe àqueles que têm capacidade e conhecimento, ao identificarem pontos problemáticos ou falhos,alertarem e comunicarem.Novos conhecimentos nos trouxeram mais facilidade e novos espaços de comunicação como o caso desse Blog.Assim bons textos,com reflexões e ideias, são sementes espalhadas que caindo em solo fértil haverão de germinar.
Carla Betta
13 de agosto de 2013
É velho o chavão de que não há como parar o progresso, o inverso disto é ilusão que em nada contribui para a solução dos problemas já causados pelo desenvolvimento não-ético. Na França, quando não havia carros, mas charretes, as ruas se embosteavam de estrume equino. E era um grande problema, alarmado e preocupante.Li isto em um capítulo de algum livro de Roberto Shinyashiki. Vieram os carros que na nossa atualidade tantas consequências negativas à Terra trazem! Mas, assim como a humanidade e a ciência resolveram o problema dos dejetos dos cavalos, acredito que, se nos empenharmos no ensino e no exemplo de ética e cidadania, também resolveremos as consequências negativas de um desenvolvimento narcisista e egoísta e seremos mais altruístas pelo bem-comum e por nós mesmos!
layon
20 de setembro de 2013
acho que no final de tudo o próprio homem vai se destruir porque so sabemos fazer isso…..
Marilyn H
23 de janeiro de 2023
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