Ainda nos anos setenta, adolescente que era, participei das primeiras manifestações para a recuperação do Rio Piracicaba. Depois, nos anos oitenta, produzi alguns trabalhos sobre o tema na graduação. No mestrado e no doutorado, dentro da UNICAMP, escrevi mais e participei de uma grande pesquisa sobre a Bacia do Piracicaba.
Admito que algumas coisas mudaram para melhor. A criação do Consórcio das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí foi uma destas mudanças. Mas a verdade é que a velocidade das mudanças e das iniciativas de recuperação ainda é lenta frente à velocidade da deterioração. O Rio Piracicaba já está morto. Só tem espasmos de vida durante a época das cheias e, nesta época, pelo menos na nossa cidade, toda a sua falência fica explícita. Falta água (claro que pela estiagem, mas também pelo excesso de retirada rio acima) e sobram poluentes.
Ontem, segunda feira, dia 19/08/13, recebi de minha amiga Eloah Margoni, que é médica e ambientalista, as fotos que ilustram esta postagem. São fotos da espuma de poluentes que se forma na região do Salto e do Museu da Água. Triste cena que, infelizmente, não é nosso monopólio. Acontece em outras regiões também e o fato de ser mais comum do que pensamos não deve aliviar ninguém, mas ao contrário, alarmar. Até porque, a espuma é apenas parte visível da poluição. De metais pesados à venenos agrícolas, na água tem de tudo.
A questão é direta. O Rio Piracicaba, assim como outros e como, de resto, todo o meio ambiente, não podem esperar. Sua recuperação e seu equilíbrio são necessidades urgentes, da mesma forma que empregos, saúde, educação e segurança para a população. Podemos viver sem mais pontes e mirantes. Podemos viver com menos produtos supérfluos de uma sociedade hiperconsumista. Mas não podemos viver sem o meio ambiente sadio e, por extensão, sem saúde, da mesma forma, torno a dizer, que não podemos viver sem segurança e empregos.
Sei que o problema é complexo. Eu o estudei também. Sei que algumas alternativas tecnológicas e ambientais ainda estão por ser criadas. Mas aí está parte da questão. Nós estamos tentando criar tais alternativas através de nossas universidades e centros de pesquisa ou estamos apenas fazendo de conta que estamos preocupados e trabalhando no caso? Eu tenho minhas dúvidas. Nestes tempos de vitória capitalista, pesquisar pesticidas e espécies transgênicas é mais atraente e rentável para cientistas, empresas e até para as universidades que recebem investimentos privados para a pesquisa, do que gerar tecnologias novas e alternativas, de preferência de baixo custo. Construir pontes e mirantes é mais rentável politicamente e eleitoralmente do que investir na busca e implantação de políticas de fomento a pesquisa, legislação protetora e projetos de recuperação. Aliás, falando em mirantes, fico pensando quem será a corajosa empresa que administrará o novo mirante, com elevador, construído na ponte nova. Um mirante para ver o quê? Para começar está acima do salto e dele só dá para ver a montante do rio, até a ponte do Lar dos Velhinhos. E depois, se der para ver algo, será exatamente a poluição. Talvez seja isso mesmo. Talvez alguma empresa química requeira a concessão do mirante para demonstrar a resistência de seus produtos na água. Porque, caso contrário, não vejo quem vai ganhar dinheiro cobrando da população para ver um rio morto.
Com a palavra, nossas autoridades. Com a palavra, nosso Deputado Federal, Mendes Thame, nossos deputados estaduais, Dilmo dos Santos e Roberto de Moraes, nosso prefeito, Gabriel Ferrato e toda a Câmara dos vereadores. Seria mais do que adequado que todos estes nomeados e outros ainda, como nosso governo estadual e nosso governo federal, dissessem exatamente o que estão fazendo para a criação do desenvolvimento sustentável que recupere nosso rio e nosso meio ambiente. Por que, de moções de aplauso, pontes, peixes de concreto, estádios e metrôs super faturados, ao contrário do rio Piracicaba, eu estou bem cheio…
Fotos de Eloah Margoni
querigmatica123
20 de agosto de 2013
depois ficam multando esses pobres coitados que vão pescar nas barrancas do rio e não vão atrás de quem polui o nosso rio. Na placa de proibido pescar tem que por um aviso Rio Poluído.
Carla Betta
20 de agosto de 2013
Será que conseguiremos reverter este quadro a tempo de preservarmos a flora e a fauna tão necessárias?!!
Dá uma vontade de chorar! Dá um desespero! Uma tristeza…
Mas, vou citar o que já citei na coluna do Totó: Li em um livro do Roberto Shinyashiki que na época das carroças e consequentemente dos cavalos, Londres estava lotada de bosta de cavalo e todos se alarmaram com aquela tragédia citadina maldizendo o progresso. Veio o automóvel. Precisamos repensar nosso conceitos, quebrar paradigmas, muito mais profundamente do que possa imaginar nossa vã filosofia…
Li recentemente em um blog algo que me fez repensar:
“A praga da reciclagem artesanal: não é sustentável e é horrível”
http://caroldaemon.blogspot.com.br/2013/07/a-praga-da-reciclagem-artesanal-nao-e.html?spref=fb
Vale a pena ler, repensar e modificar comportamentos!
Eloah Margoni
20 de agosto de 2013
Arrasou, Amstalden!! Melhor impossível. Obrigada!