As espumas do rio. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 20 de agosto de 2013 por

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Foto Eloah Margoni

Foto Eloah Margoni

Ainda nos anos setenta, adolescente que era, participei das primeiras manifestações para a recuperação do Rio Piracicaba. Depois, nos anos oitenta, produzi alguns trabalhos sobre o tema na graduação. No mestrado e no doutorado, dentro da UNICAMP, escrevi mais e participei de uma grande pesquisa sobre a Bacia do Piracicaba.

Admito que algumas coisas mudaram para melhor. A criação do Consórcio das Bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí foi uma destas mudanças. Mas a verdade é que a velocidade das mudanças e das iniciativas de recuperação ainda é lenta frente à velocidade da deterioração. O Rio Piracicaba já está morto. Só tem espasmos de vida durante a época das cheias e, nesta época, pelo menos na nossa cidade, toda a sua falência fica explícita. Falta água (claro que pela estiagem, mas também pelo excesso de retirada rio acima) e sobram poluentes.

Ontem, segunda feira, dia 19/08/13, recebi de minha amiga Eloah Margoni, que é médica e ambientalista, as fotos que ilustram esta postagem. São fotos da espuma de poluentes que se forma na região do Salto e do Museu da Água. Triste cena que, infelizmente, não é nosso monopólio. Acontece em outras regiões também e o fato de ser mais comum do que pensamos não deve aliviar ninguém, mas ao contrário, alarmar. Até porque, a espuma é apenas parte visível da poluição. De metais pesados à venenos agrícolas, na água tem de tudo.

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A questão é direta. O Rio Piracicaba, assim como outros e como, de resto, todo o meio ambiente, não podem esperar. Sua recuperação e seu equilíbrio são necessidades urgentes, da mesma forma que empregos, saúde, educação e segurança para a população. Podemos viver sem mais pontes e mirantes. Podemos viver com menos produtos supérfluos de uma sociedade hiperconsumista. Mas não podemos viver sem o meio ambiente sadio e, por extensão, sem saúde, da mesma forma, torno a dizer, que não podemos viver sem segurança e empregos.

Sei que o problema é complexo. Eu o estudei também. Sei que algumas alternativas tecnológicas e ambientais ainda estão por ser criadas. Mas aí está parte da questão. Nós estamos tentando criar tais alternativas através de nossas universidades e centros de pesquisa ou estamos apenas fazendo de conta que estamos preocupados e trabalhando no caso? Eu tenho minhas dúvidas. Nestes tempos de vitória capitalista, pesquisar pesticidas e espécies transgênicas é mais atraente e rentável para cientistas, empresas e até para as universidades que  recebem investimentos privados para a pesquisa, do que gerar tecnologias novas e alternativas, de preferência de baixo custo. Construir pontes e mirantes é mais rentável politicamente e eleitoralmente do que investir na busca e implantação de políticas de fomento a pesquisa, legislação protetora e projetos de recuperação. Aliás, falando em mirantes, fico pensando quem será a corajosa empresa que administrará o novo mirante, com elevador, construído na ponte nova. Um mirante para ver o quê? Para começar está acima do salto e dele só dá para ver a montante do rio, até a ponte do Lar dos Velhinhos. E depois, se der para ver algo, será exatamente a poluição. Talvez seja isso mesmo. Talvez alguma empresa química requeira a concessão do mirante para demonstrar a resistência de seus produtos na água. Porque, caso contrário, não vejo quem vai ganhar dinheiro cobrando da população para ver um rio morto.

Com a palavra, nossas autoridades. Com a palavra, nosso Deputado Federal, Mendes Thame, nossos deputados estaduais, Dilmo dos Santos e Roberto de Moraes, nosso prefeito, Gabriel Ferrato e toda a Câmara dos vereadores. Seria mais do que adequado que todos estes nomeados e outros ainda, como nosso governo estadual e nosso governo federal, dissessem exatamente o que estão fazendo para a criação do desenvolvimento sustentável que recupere nosso rio e nosso meio ambiente. Por que, de moções de aplauso, pontes, peixes de concreto, estádios e metrôs super faturados, ao contrário do rio Piracicaba,  eu estou bem cheio…

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Fotos de Eloah Margoni

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