Coluna do Evandro: Empregado Invisível.

Posted on 26 de agosto de 2013 por

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garis

  • 1

“Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição…”
“Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?…”

  • 2

“Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar…”
“Mas me diz um cidadão:
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte…”

Trechos da música cidadão de Zé Ramalho.

Já pensou nas maravilhas de se ser invisível? Um dia vi um filme que um assassino virava cobaia de experimentos do governo e acabava se tornando invisível, quando criança sonhei, imaginei diversas vezes tornando-me invisível, aquela sensação de poder fazer tudo e não ser notado, de está em diversos lugares e ninguém saber, de ouvir conversas como se não estivesse lá. Parecia um mundo encantado, um mundo cheio de possibilidades e repleto de desafios. Quando criança, achava ser impossível tal façanha, mas eis que estava enganado:

A fórmula secreta para tornar-se um desses seres magníficos, para deixar de existir, de ser notado, de ser enxergado, é ter uma profissão mais modesta, uma profissão como de faxineiro (a), gari, motorista de ônibus, auxiliar de laboratório etc.

Ao pegar o ônibus diariamente noto que as pessoas não cumprimentam o motorista, nem com boa noite nem com obrigado, esse funcionário só é notado quando o passageiro precisa de uma informação. Vejo, no meu dia a dia, pessoas passarem pelas moças que cuidam da limpeza sem sequer dar um “oi”, um bom dia, um obrigado, essas são as pessoas invisíveis.

São invisíveis os funcionários que não representam papel político, que não são reconhecidos como importantes ou fundamentais. Um erro é claro!

Uma empresa não é formada somente por paredes e maquinários, antes ela é formada pelo capital humano, que é formado por colaboradores, chamados de empregados e funcionários. É importante toda a estrutura física da empresa, mas nada seria dela sem a mão de obra oculta, as pessoas silenciosas e muitas vezes invisíveis que lubrificam toda a estrutura, que organizam, otimizam e alicerçam o mecanismo estrutural. Ao usar o banheiro do local de trabalho, ninguém nota que existem pessoas que o mantém limpo diariamente e que sem essas pessoas um único dia seria um caos. São esses empregados invisíveis que muitas vezes comem sentados ao chão, pois não tem refeitórios para eles, trabalham sobre ordens dadas aos gritos, pressão, condições insalubres e ambiente hostil, normalmente são eles que vão de ônibus, que moram longe do trabalho que acordam mais cedo e às vezes fazem jornadas dobradas, além de não possuírem direitos básicos como plano de saúde, vale refeição, uma cesta básica/vale alimentação que de fato seja nutritiva e dure um mês inteiro.

Os trabalhadores invisíveis são fundamentais, pois sem eles não teríamos um estrutura funcionando, mas jamais são vistos, cumprimentados ou lembrados. Não são chamados pelo nome.

Algumas vezes em minha função de auxiliar de laboratório também sou invisível, as pessoas que precisam ou usufruem do meu setor, às vezes esquecem que para ele funcionar bem, existe pessoas dedicando um terço do seu dia (8 horas, às vezes mais), para que tudo funcione bem, então seria o mínimo um pouco de educação, um obrigado como reconhecimento. Embora o reconhecimento do trabalho deva-se dar através de salários bons, planos de carreiras que contemplem de fato o empregado e condições de ambientes e que promovam a dignidade humana e o bom convívio.

Pequenas ações desprezam o funcionário, quando apenas os chefes de setor são reconhecidos financeiramente ou em homenagens, mostrando de fato a invisibilidade dos funcionários que compõem a equipe como um todo, desprezando a importância da estrutura humana existente atrás das máquinas e dentro das paredes de concretos.

O empregado é o verdadeiro gerador de fortuna, riquezas e lucros das empresas e instituições, qualquer coisa diferente disso enferruja, desbota, quebra e para de funcionar, o empregado é o bem mais valioso dentro desse sistema, sem falar que possuí sentimentos e merece ser respeitado e envolvido no sistema social dentro das empresas, reconhecido como pessoa, ser humano e colaborador.

Pequenas ações promoveriam isso, mas entre todas, o reconhecimento é a mais importante, porque o contrario disso desestimulará o trabalhador.

É preciso, e digo que isso é urgente em nossa sociedade, notar que as pessoas são mais importantes do que os bens materiais, que o ser humano envolvido é o que gera lucro e faz a maquinaria funcionar.

Quantas cenas de bajulação já presenciamos, quantas cenas de desprezo já vimos, baseadas unicamente no status que as pessoas representam?

Reflita sobre a importância daquela pessoa como ser humano e como colaborador, seja educado, o mínino que a pessoa precisa é de respeito. Junte-se as causas urgentes, como condições de trabalho e dignidade salarial, mesmo que você seja um dos poucos felizardos contemplados com bons salários e condições aceitáveis de trabalho.

E você empregado invisível não cale mediante tal situação, pois ser invisível só é legal quando somos crianças.

Nezkau - Funcionário invisível

Evandro Mangueira, Nascido em 1979 na cidade de Cajazeiras, que tem por título “A cidade que ensinou a Paraíba a ler.” Atualmente mora em Piracicaba-SP, cidade que adotou como sendo sua também. Tem por formação Gestão Financeira, mas encontra-se nas letras tanto quanto se encontra nos números.

Autor do livro: Arcanjo Gabriel