Na sexta-feira do dia dois de agosto, fomos –eu e uma amiga- assistir a Orquestra Samphonica no teatro do SESI, Piracicaba. Um show maravilhoso! Saímos do SESI e ficamos esperando o ônibus, que demorava e demorava. Não estranhei, pois já me vi nesta mesma situação sozinha, depois das 22 horas, na Avenida do SESI, com pouquíssima iluminação, cuja parada do ônibus fica defronte e ao lado de um terreno baldio (!!). Ao menos desta vez estava acompanhada, mas não é menos perigoso mesmo assim.
Desde Juscelino Kubitschek que se priorizam as estradas, o carro, os caminhões em uma história já tão repetida nos artigos jornalísticos e nos bancos escolares: a aliança com as multinacionais automobilísticas, isto é, há anos estamos vendidos para essas indústrias. O que é um desastre de consequências ecológicas assustadoras. Mas, vou deixar essas vertentes do assunto como sugestão para o Amstalden e o Totó esclarecerem melhor.
Nosso país poderia e deveria ser entrecortado, cruzado, lotado de uma complexa e simultaneamente simples malha ferroviária que facilitaria e diminuiria os custos de transporte de carga e de pessoas, promovendo a integração nacional e facilitando intercâmbios diversos. É só uma pincelada deste quadro que deixo para outra pessoa pintar em artigo subsequente.
Vou me ater ao que me afeta e a milhões de brasileiros: a opção pelo desenvolvimento da indústria automobilística, pelo transporte individualizado em detrimento ao transporte público salta aos olhos, em se falando de Piracicaba, pelas condições lamentáveis da frota de ônibus. Penso até que os motoristas das empresas piracicabanas deveriam ganhar adicional de insalubridade pelo barulho ensurdecedor dos motores dos coletivos “desfrutado” no turno de trabalho acrescido das horas extras e pelas lesões na coluna e nas articulações que devem haver em função de câmbios e direções rígidos.
Na visão meramente capitalista do lucro, somos tratados como se fôramos robôs, cuja função é comprar/vender/proporcionar lucro e não como pessoas, cujos espíritos precisam se alimentar de lazer, música, teatro, artes plásticas, enfim, diversão e artes. Por este ponto-de-vista, não se considera necessário que quem, por opção ou falta de, não possui carro possa desfrutar de transporte público nas noites e nas madrugadas.
“A gente não quer só comida…”
Recentemente li um artigo assaz intrigante:
“Escola troca seguranças por professores de artes e melhora desempenho de alunos”
(http://oglobo.globo.com/educacao/escola-troca-segurancas-por-professores-de-artes-melhora-desempenho-de-alunos-8267206#ixzz2c3sLkibA)
Mas, aqui na nossa Piracicaba o lazer -puro e simples lazer- ou o lazer vinculado a deleitar-se com algum evento artístico só é permitido aos providos de automóvel. É TÃO INJUSTO!
Na sexta-feira mencionada no início, houve o agravante de haverem suspendido a circulação de ônibus na avenida onde se localiza o teatro do SESI por conta do vandalismo cometido em noite anterior por alguns. Mas, há anos que venho comentando, postando no facebook, reclamando e tentando envolver pessoas para que a prefeitura se responsabilize pela ida-e-vinda , principalmente pela volta à casa dos espectadores dos eventos do SESI. Ao menos, uma van que transportasse a todos ao final de cada espetáculo até o Terminal Central. Sem entrar na questão da gratuidade, com preço normal de passagem mesmo, mas que garantisse o direito de ir-e-vir no horário dessas atividades.
Infelizmente, houve raros adeptos a esta minha sugestão e como uma andorinha não faz verão… O teatro do SESI continua a ser frequentado pela elite movida a carro.
Partindo desta situação cotidiana, poderíamos ampliar a discussão, angariar adeptos que nos compreendessem, atender a toda população em seus mais variados momentos de lazer.
Economia de combustível, exigência de conforto, diminuição da poluição intensa que a circulação de automóveis provoca, quase extinção do motorista alcoolizado que a tantas tragédias atrela sua irresponsabilidade, bem-estar, acesso à cultura pela maioria da população e podemos listar muitos mais benefícios que esta simples medida poderia desencadear!
Evandro Mangueira
1 de outubro de 2013
Pois é Carla, compartilho de sua agonia!! Sabe o que essa coisa do carro é tão evidente em nossa sociedade, que quando falo que não dirijo, que não tenho carta e que não pretendo ter (por diversos motivos, sendo um deles que sou completamente desorientado) as pessoas se espantam, e me questionam ao ponto da exaustão!
Gleison
1 de outubro de 2013
Pois é. Infelizmente nossa sociedade anida tem a concepção de cultura e lazer como algo supérfluo, privilégio de quem tem condições financeiras para bancar a diversão privada. Aos pobres, nem pão e circo. Apenas o pão, para evitar o perecimento do corpo. Cuidar do espírito é privilégio de quem tem dinheiro.
Antonio Camarda
1 de outubro de 2013
Carla, você descreveu bem as limitações para os menos favorecidos. Acontece que vivemos em uma sociedade dita de consumo, perversa, cheia de preconceitos, individualista que olha apenas para o próprio umbigo conforme exemplo que você citou de …raros adeptos à sua sugestão e que uma andorinha sozinha não faz verão…Bem a muitos anos passados ouvi de uma professora inglesa, que sofreu muito na vida..quando jovem enfermeira na 2ª guerra….um a declaração que nunca esqueci: ela comentou que amava o brasil , mas não entendia a indiferença dos brasileiros para com os problemas sociais , e arrematou : brasileiros da-me a impressão que comem sardinha e rotam caviar , gostam de mostrar o que não são…e .. poderiam estar em melhores condições. Pois é o tempo passou mas nosso perfil de colonizados, e não politizados continua. Tem muita gente por ai pendurado em dívidas, no vermelho, mas não perdem a pose, muitas vezes moram de aluguel que pagam com dificuldade mas o carro as vezes novo esta lá pra mostrar superioridade, não sei de que. E quando temos problemas comuns pela frente, estes falsos bem de vida, são os primeiros a torcer o nariz ou dar uma desculpa para não participar de nada. É por esta razão e outras que convivemos com uma das mais cruéis divisão de renda do mundo, aturamos políticos que só lembram de problemas sociais nos períodos de eleição, são mal gestores, e acima de tudo desconhecem a ética, e consideram a corrupção como normal.
Daisy Costa
1 de outubro de 2013
Depois vem vereador cadeirante ‘promover’ passseatas pela mobilidade… Duvido q algum daqueles que o seguiam estiveram participando da Semana da Mobilidade que envolveu vários cidadãos interessados em melhorar alguma coisa nesta cidade…
Carla Betta
2 de outubro de 2013
Grata por todos os comentários, que me enriqueceram. Fiquei comovida com a fala da professora de inglês, Antonio Camarda e triste que pouco tenha se modificado desde então. Minha filha me perguntou o que eu pensava sobre encarcerar criminosos para sempre e não lhes dar mais chances de liberdade e/ou de refazimento. Confesso que ainda não lhe respondi a questão.