“A noção de cidade como local de convivência do diferente (….) se perdeu diante de uma sociedade que opta cada vez mais por criar guetos. De um lado, nas longínquas periferias, segregam-se os pobres, privados dos bens materiais e culturais. De outro, reclusos na proteção e segurança de luxuosos condomínios, confinam-se as camadas abastadas, ávidas por desfrutar as benesses do capital, sem nenhum tipo de perturbação social. É a cidade do isolamento, da segregação…” (Adelino Francisco de Oliveira, professor de ética e teologia). “(…) não se pode ser feliz rodeado de infelizes. Se a sua felicidade deve ser garantida pela força, não é mais felicidade”. (Luigino Bruni, mestre em Economia e Política na Universidade de Milão).
Um mil e duzentos veículos novos por mês. Em Piracicaba o trânsito já fez 31 vitimas este ano. Ônibus continuam lotados, caros e sucateados. Piracicaba está entre as 13 mais poluídas do Estado. Problemas respiratórios aumentam até 43%. 20 minutos de chuva provocaram vários pontos de alagamento. Falta de árvores gera prejuízos à cidade. Quanto mais concreto, mais raios e tempestade. Número de moradores de rua cresce 60% em 9 anos. Aluguel na cidade é o mais caro da região. MP investiga administração anterior por obra irregular. TCE reprova constas da prefeitura de 2011. Na COT pacientes vivem drama à espera de vagas. 44 médicos deixam a rede pública em 5 meses. Usuários reclamam de estrutura precária de CAPS. Em junho passado dois pacientes morreram nas UPAs por falta de vagas. As reclamações dos usuários do SUS sobre a má qualidade dos serviços prestados na rede municipal de Piracicaba não param. Aumenta 33,8% a violência contra a mulher. Casos de estupro dobram nos 5 primeiros meses de 2013. Piracicaba tem 12 mil usuários de crack. Mais dois ônibus são incendiados. Medo cancela desfile de 7 de setembro. Cresce número de vitimas de homicídio; são 5 mortes por mês. A cada dia, 4 casas são invadidas por ladrões. Polícia recomenda portas e janelas resistentes, fechaduras e trancas confiáveis, cadeados, grades internas, serviços de vigilância particular, sistema de monitoramento, guarda-costas cadastrados na Polícia Federal, câmeras de segurança, olhar bem antes de abrir o portão.
Essas são algumas das notícias trazidas pela imprensa local nos últimos 3 meses. Tristes, mas são fatos. Claro que aconteceram mais coisas boas, porém somos cidade de médio porte com problemas de metrópole. Isso tem a ver com gestão. Os ‘entendidos’ que tomaram as rédeas da cidade nesta última década, acharam que dinheiro resolve tudo e esqueceram o humano. Em vez de bem estar para todos trouxeram violência e medo. “Onde está o dinheiro está o crime”. (Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador do Mapa da Violência).
Repartiram as vestes da Noiva e a sortearam entre abastados. Fizeram chacota de sua inocência tachando-a de atrasada e caipira; pisaram seu carisma acolhedor e desviaram seu destino. A matriz de desenvolvimento imposta à Piracicaba é caduca e insustentável porque beneficia os privilegiados de sempre, cujos excessos clamam aos céus.Precisamos de mentalidades humanistas. Não sendo o ser humano o início e a finalidade da economia, da educação, do progresso, de tudo enfim nada feito. E não venham com estatutos e leis que só servem para enquadrar pobres. Também não adianta encher a cidade de indústrias predadoras da vida e do bom senso. “Precisamos de líderes que desenvolvam pessoas e não colocam os empregados no último nível de importância. É preciso ter a cultura do amor, da preocupação, da confiança, da transparência e da autenticidade. As pesquisas mostram que as empresas que adotam essa linha têm mais sucesso ao longo do tempo”. (Rajendra Sisodia, professor indiano da Universidade de Bentley – EUA, Guru de Abílio Diniz).
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social. totodanelon@ig.com.br
Marcelino Agostini
19 de outubro de 2013
Texto coerente e que realmente nos convida a uma reflexão. É lamentável essa característica da atual administração (e da anterior também), pontuada pelo pseudo-idealismo do “desenvolvimento econômico que gera riquezas e resultado em melhor qualidade de vida”. Realmente, enquanto o poder público continuar focado na ideia de que favorecendo as classes privilegiadas trará benefícios aos pobres, continuaremos a ver o crescimento dessa segregação. Penso eu que a melhor solução sempre será investir em pessoas e não em empresas ou grupos seletos. Com educação e saúde de melhor qualidade, por exemplo, as classes menos privilegiadas terão mais qualidade de vida, e a longo prazo haveriam trabalhadores bem qualificados, o que consequentemente levaria ao desenvolvimento econômico de uma cidade. Eis o problema: o poder público tenta (?) administrar num sentido inverso.
Fernanda
19 de outubro de 2013
Continue alertando Totó, enquanto sociedade temos muito o que fazer, a lógica instalada não está em bons caminhos..
Amadeu Provenzano Filho
20 de outubro de 2013
É triste mas é verdade. Tem toda razão. A provinciana cidade antes chamada de Athenas Paulista, teve um falso crescimento chamado inchaço. “Cresceu” assim na década de 1970 na verdade, sem estar estruturada para o social, com o adventos das grandes indústrias que aqui aportaram. Desde então, privilegiou-se aquilo que é chamado de máquina de arrecadação. Tudo se modernzou. O social ficou para trás e hoje nos deparamos com essas notícias de tres meses que enumerou. Tudo hoje é feito com base nas estatísticas. Politicamente, o grande equívoco das Leis eleitorais estão no fato de que somos obrigados a participar do processo de escolha, mas esses após eleitos, deixam de ser independentes e passam a ser corporativistas para defenderem os interesses de grupos e dos partidos e nunca as necessidades sociais. Parabéns pela honestidade primeiro para com você mesmo e depois pelacoragem de tocar na ferida desse cancer malígno disseminado na história de Piracicaba que um dia, tenho certeza, será extirpado. Continue !
Antonio Carlos Danelon
20 de outubro de 2013
Amiga e amigos. É uma grande satisfação não estar só. É muito bom ter pessoas como vocês vendo as mesmas coisas. Às vezes pensou que sou um pessimista e inconformado. Aí vocês chegam dizendo que estamos no caminho certo. De uma coisa tenho certeza: ou tem pra todo mundo ou não tem pra ninguém. Não é justo e não é de bom senso casas e terras nas mãos de poucos; riqueza concentrada nas mãos de empresários que exploram pessoas e natureza; políticos aferrados ao poder e com todo o aparato público a seu serviço; saúde boa, educação, lazer, transporte, segurança somente para quem pode. Isso tudo provoca a violência que está tirando nossa paz. Não é justo. Por isso não me calo. Obrigado por vocês também não se calarem.
Eduardo
23 de outubro de 2013
A legitimidade forjada no medo foi parte do discurso do Reaja na entrega das assinaturas.
É o que vemos também na “felicidade”.
Mas repararam quantos suicídios vem acontecendo em nossa cidade ? Tem tudo a ver com o seu texto Totó.