
Fonte da foto: http://www.jfparanagua.com.br/blog/?p=5860
Em 1961 ocorreu um grande incêndio no Circo Circus Norte Americano, na cidade de Niterói, então Rio de Janeiro. Foi uma das maiores catástrofes nacionais. Em poucos minutos, a lona, que havia sido incendiada criminosamente com gasolina, foi consumida e, com ela mais de quinhentas vidas, a maioria de crianças (calcula-se 70%). O protagonista do incêndio foi Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, que tinha problemas mentais e passagens pela polícia. Dequinha trabalhou dois dias na montagem do circo e foi demitido. Mais tarde, foi impedido de entrar sem pagar e por estes dois fatos, quis vingança queimando a lona com dois comparsas.
Dias depois da tragédia, José Datrino, um paulista de Cafelândia, radicado no Rio e que desde criança tinha “premonições” de uma missão divina, “ouviu” vozes que o mandavam “abandonar o mundo material e dedicar-se ao espiritual”. José tinha família e um negócio de transportes, largou tudo e foi até o local do incêndio e lá se radicou por quatro anos. Plantou uma horta e um jardim nas cinzas do Circo e consolava as famílias das vítimas que apareciam por lá. Nunca li nenhum artigo que identificasse o fato, mas é praticamente certo que Datrino, assim como Dequinha, também tinha problemas mentais. Mesmo assim, voltou seu delírio para outra via, voltou para o consolo dos que sofriam e para uma proposta de mundo diferente.
Seu bordão: a necessidade da gentileza e da gratidão, o que o levou a ser conhecido primeiro como José Agradecido e, mais tarde, Profeta Gentileza.
Quando saiu do local do Circo, passou a perambular pelo Rio e por Niterói, usando uma bata branca, com apliques religiosos, carregando placas com seus ensinamentos e distribuindo flores aos passantes. Não era um “santo” apesar da aparência e da sua crença e seus problemas provavelmente se manifestavam de forma negativa também. O jornalista Marcelo Câmara e a professora Luiza Petersen, que conviveram com Gentileza, afirmaram em artigo que ele era também “agressivo, desbocado e moralista”, chegava a ameaçar pessoas de espancamento, e suas “vítimas” principais eram mulheres de mini saia, saltos ou cabelos curtos.
Mesmo assim, Datrino/Gentileza “encantou” muita gente e, nos anos oitenta, em um viaduto da Avenida Brasil, pintou 56 pilastras com suas idéias e ensinamentos. Estes murais foram estudados, apagados e restaurados. Hoje encontram-se ameaçados de novo.
Não sei por que me lembrei desta história sexta passada e a contei para um aluno.
Depois, fiquei pensando nas duas faces de uma mesma moeda. Uma pessoa com problemas destrói, outra, também com problemas vai no sentido oposto. Mesmo sendo moralista e também agressivo em determinados momentos, não matou ou feriu, mas propôs a gentileza. Em comum, ambas atingiram direta e indiretamente muitas pessoas. Cada um de uma maneira diferente. Você não entende o sentido de tudo? Eu também não…
O vídeo de hoje é de uma música da Marisa Monte feita quando as inscrições de gentileza foram apagadas a primeira vez.
Tenha um bom final de domingo.
Para saber mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Profeta_Gentileza
http://www.jfparanagua.com.br/blog/?p=5860
Márcia Souza
20 de outubro de 2013
Que bela reflexão, Amstalden! Obrigada!
Evandro Mangueira
20 de outubro de 2013
Se é mais inteligente o livro ou a sabedoria?
Carla Betta
21 de outubro de 2013
Na verdade, o delírio tem muitas faces. Nós temos muitas faces. Quantos há no mundo tão adaptados em suas neuroses que são considerados os bem-sucedidos? E esses: a quantos mutilaram? Literal ou metaforicamente.