Coluna do Totó: SE

Posted on 25 de outubro de 2013 por

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Se Jesus voltasse agora talvez mandasse sua Igreja sair da toca. Ele não ficava no templo. Aliás, qual pastor se não Ele deixa 99 ovelhas em lugar seguro para buscar a que se perdeu? O pai da parábola fez festa para o filho que voltou enquanto o que nunca saiu se consumia no próprio azedume. Era tão ‘caxias’ que não percebeu e nem curtiu o amor grandioso do pai.

Pode ser que Jesus questionasse a Eucaristia trancada nos sacrários das igrejas e servida somente aos que já vivem em ‘estado de graça’. Sendo “pão que ao mundo dá vida”, deveria estar nas ruas, praças, campos e montanhas; barracos e cortiços; abrigos e cadeias. Talvez quisesse saber por que nas favelas e periferias a Eucaristia é celebrada quando muito uma vez por mês e nas paróquias centrais há missas de hora em hora para quem tem têm carro, boa roupa e qualidade de vida. Afinal não nasceu Ele e morreu fora da c idade e não veio aos pobres anunciar a Boa Nova?

Não há padres para tanto, responderia a Santa Madre. Jesus talvez dissesse estar sobrando gente com boa vontade e com sincero desejo de servir. Quem disse que para a Eucaristia acontecer é indispensável a presença de um homem celibatário e com dedicação exclusiva? Não podem ser chamados de volta padres casados já que a messe é grande e está em jogo a salvação, que acontece aqui e agora e não depois da morte? Não pode ser um pai ou mãe de família, uma religiosa ou qualquer alguém que a comunidade julgue apto? Afinal é a fé da comunidade na ação do Espírito Santo que faz a Eucaristia ou são as palavras de um consagrado? Sem comunidade há Eucaristia?

Talvez quisesse saber o significado do binômio leigo-hierarquia se seu desejo sempre foi um só povo sendo Ele o pastor, nós servos inúteis e o maior o que põe seus dons a serviço. Poderia lhe causar estranheza tal leigo não tomar parte nos destinos da Igreja já que sem ele ela perde o sentido. Participante ativo no múnus real, sacerdotal e profético de Cristo por que – grosso moldo – seu quinhão não vai além de vender rifas e bingos; erguer templos e intermináveis basílicas; suprir falta de padres; fazer campanhas para anestesiar mazelas sociais causadas pela omissão do poder público?

Não sei se Jesus gostaria de ver bispos e padres calados ante o sofrimento do povo e da natureza devido à irresponsabilidade de políticos e ganância de poderosos.  Que diria a clérigos milagreiros e benzedores de pontes ornamentais, às congregações religiosas que, apesar de voto de pobreza mantém quase vazios dispendiosos e imensos conventos, mosteiros, casas e seminários enquanto multidões não têm onde morar, ou mesmo peregrinos onde reclinar a cabeça? Gostaria Ele de saber que padres e consagrados fazem mestrado e doutorado na Europa e EUA, enquanto seu povo, por falta de formação e informação, permanece refém duma fé infantil e sente dificuldades em interpretar e trazer para o cotidiano trechos simples das Escrituras?

Se Jesus entrasse em nossas igrejas durante o culto talvez pusesse a mesa bem no meio como quando estava entre os discípulos, e olhando no olho de cada um, faria como em Emaús nosso coração arder. Falando nosso nome nos chamaria de amigos.  Diria que na casa do Pai há muitas moradas e está preparando uma pra nós; que somente o amor fraterno, o serviço mostram que somos seus discípulos; por isso ninguém na comunidade pode passar despercebido ou sofrer na solidão. Se nos amarmos de verdade passantes sentirão atraídos e de longe gente chegará à busca de acolhida. Diria também que quem o ama pratica seus ensinamentos e faz obras maiores que Ele; que no mundo teremos aflições porque não somos do mundo, mas que não nos perturbemos e nem tenhamos medo porque Ele venceu e nos trouxe sua paz.

Antônio Carlos Danelon é assistente social. totodanelon@ig.com.br

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