Sempre tive medo de comoções, acredito que as emoções afloradas levam as massas a cometerem crimes chocantes.
Lembro do caso da menina Isabela Nardoni, todos clamavam por justiça, mas a maioria queria vingança. Aposto com qualquer um que se colocássemos o casal Nardoni em praça pública não faltariam pedras atiradas pela população, contrariando assim o ensinamento de Cristo: Atire a primeira pedra quem não tiver pecado.
A internet é um meio de comunicação rápida e ao mesmo tempo feroz.
A liberdade de escolha e de expressão é um exercício democrático.
A junção dessas três coisas, sede de justiça – comunicação rápida – liberdade democrática, torna-se muito perigosa. Assusto-me com ativistas sem embasamento, informações sem compromisso com a verdade e manipulações que envolvem, somente, o emocional.
A razão deve prevalecer sempre, a emoção atrapalha em momentos de conflitos ou perigo.
Em 18 de outubro de 2013, ativistas dos direitos dos animais invadiram o Instituto Royal e sequestraram os animais que ali eram usados para testes (Cruelmente usados para testes).
Esse tipo de ação, em sua maioria, ocorre por veículos de comunicação como o Facebook, Twitter entre outros e geralmente atrai pessoas “embalistas”, a liberdade pode ser muito perigosa se usada sem critérios morais e éticos, creio que o importante são as conquistas mais duradoras, como projetos de leis, pressão popular aos órgãos regulamentadores como ANVISA e governos.
Contudo, é legítima a ação virtual e a mobilização de pessoas, só temos que tomar o cuidado para que ao olharmos para o abismo ele também não nos olhe de volta, Nietzche nos ensinou isso ao falar da relação dialética, quando disse:
“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”
Justiça é bem diferente de vingança.
O Instituto Royal cometia claros crimes quanto aqueles animais, assisti ao vídeo de “esclarecimentos” e também li a nota oficial, disposta em: http://institutoroyal.org.br/ , e, nem em um, nem no outro meio de “esclarecimento” o Instituto convenceu-me de que tratava bem os animais sob sua guarda.
Primeiro porque não creio que as pesquisas fossem mesmo para câncer e outras doenças, as evidências como a raspagem dos pêlos dos cachorros mostravam que eram testes de cosméticos, uma vez que é claro para a sociedade que as “pesquisas” em fármacos são majoritariamente em cosméticos, e notoriamente é um crime testar em animais produtos de tamanha futilidade. Não é justo que nossos cremes anti-rugas tire tantas vidas.
Segundo porque os investidores em pesquisas em fármacos têm apenas um compromisso: O lucro. As empresas pesquisam o que mais dá lucro, lembro de uma notícia, logo que as pesquisas sobre célula-tronca começaram: Um grupo de japoneses pesquisava uma forma de nascer cabelo humano em camundongos, é claro que pesquisar célula-tronco para regeneração de órgãos e tecidos é muito mais importante do que fazer nascer cabelos, mas a verdade é que existem muito mais carecas ricos dispostos a gastar com isso do que paraplégicos.
Terceiro porque não creio que a indústria farmacêutica pense realmente em curas, nunca entendi porque doenças como gripe não tem cura, acredito, sem medo de julgar, que vender amenizadores dos sintomas é mais lucrativo do que vender curas, senão como o Energil C ainda estaria no mercado?
Não vejo os institutos de pesquisas em fármacos como inocentes e muito menos como salvadores, heróis da sociedade, pelo contrário, as pesquisas são perigosas, fúteis e com visão de lucro, barateando os custos, matando e torturando animais e investindo em futilidades como nuances de esmaltes e batons.
O uso de animais para tais pesquisas deveriam ser abolidas do planeta, principalmente porque empresas como o Instituto Royal mentem, descaradamente, ao dizerem que tratam bem os animais e que os doam à adoção ao final de cinco anos. Essa é uma mentira tão descabida que não se sustentaria com uma única visita da ANVISA ao instituto.
Achei a ação dos ativistas dignas de palmas, a participação social exemplar e o prejuízo do instituto merecedor, contudo, fico apreensivo com pessoas escondendo os rostos, com a emoção sem a razão e com movimentos que surgem do nada e tomam forças descomunais, mesmo que as articulações dos movimentos sempre existissem, a emoção leva um número de pessoas sem embasamento às ruas.
A luta deve ser constante e participativa. A liberdade tem que ser garantida, mas tem que ser sabiamente usada. Estamos lidando com uma força nova chamada internet e também com uma força antiga chamada ignorância coletiva e revolta, como dosar as duas coisas? Como lidar com a liberdade sem prejudicar os direitos básicos? Como ser democrático ouvindo todos e ao mesmo tempo deixando de lado opiniões que não agregam? Esses são os nossos desafios, trabalhar a democracia livremente, respeitando e atuando.
Intervenções são importantes e necessárias, mas o cuidado para agirmos com a razão e não com a emoção são fundamentais para que a democracia funcione de fato.
Deixo um interessante vídeo de uma inglesa que simulou ser uma cobaia animal:
Deixo um depoimento honesto de quem trabalhou com teste em animais e abatimentos:
Evandro Mangueira é Escritor e autor do livro Arcanjo Gabriel
Brunão
28 de outubro de 2013
Achei incrível a perspectiva, não tinha pensando por tal angulo, repensarei sobre certas condutas, msm não concordando com muita coisa! Obrigado! excelente texto!
Evandro Mangueira
28 de outubro de 2013
Bruno Obrigado Por apoiar o Texto.
Eloah Margoni
28 de outubro de 2013
Creio que o artigo deveria ser iniciado pelo meio (pois é muito relevante as torturas feitas aos animais) e só no final colocar-se a importante advertência sobre as fortes comoções coletivas. De qualquer forma, os animais precisam ser protegidos de monstruosidades, isso é certo. Mais certo ainda é que o Instituto Royal voltará a funcionar ( dizem que com verba pública). Só um forte sentimento público talvez consiga dificultar isso; não vejo outro caminho. E nada a ver com o caso Nardoni, a meu ver.
Evandro Mangueira
28 de outubro de 2013
Eloah, acho de extrema relevância as torturas, e sou defensor de um sistema sem tortura, mas não posso desconsiderar a vida humana que são salvas por medicamentos. Obrigado por pontuar suas críticas, são importantes.
De fato o caso Royal não tem nada a ver com o Caso Nardoni com relação a crimes, mas tem a ver com a comoção das mídias e da net. Essa que eu acho tão perigosa.
Concordo com vc, que precisamos lutar a favor dos animais, mas vejo outro caminho: Política, órgãos competentes e verdadeira atuação popular. Não sentimentalismo, comoções.
Mais uma vez obrigado pelas pontuações.
Anônimo
28 de outubro de 2013
Evandro, belo texto! Mas, confesso que gostaria de ter participado dessa invasão… Sei que a “massa” não pensa, no entanto, fazer justiça dentro de um gabinete demoraria muito e levaria muitos cachorros a morte. Acrescento que essa atitude diferencia dos “mascarados” infiltrados nas manifestações.
Evandro Mangueira
28 de outubro de 2013
Sendo Franco, meu lado vingativo (justiceiro) também me faz ter vontade de participar de ações assim! Obrigado por colaborar
Eduardo Stella
30 de outubro de 2013
Camarada Evandro,
Uma coisa que me deixa aturdido é o pensamento binário da maior parte dos que defendem ou ojerizam uma determinada causa.
Oras, obviamente sou contra maus tratos com animais e, dentro do possível, acho que deveríamos banir essas práticas de testes com eles, especialmente pra fabricar cosméticos ou fármacos que facilmente podem ser substituídos por tratamento alternativo natural. E mesmo os animais dito “indispensáveis” para a pesquisa, como os ratos e sapos nas faculdades de medicina, poderíamos discutir alternativas. Mas não exigir que de um dia pra noite tudo pare! Pois ainda somos dependentes de um procedimento criado por décadas de estudos.
O que me chama a atenção é que muito desse pessoal não procura justiça e sim vingança. Procura extravazar sua raiva … o ódio acumulado dentro de si jogando em alguma coisa.
Tem os direitóides defendendo o “bandido bom é bandido morto” … os esquerdóides defendendo “morte aos policiais” … os defensores de animais afirmando em alto e bom tom “prefiro bicho do que gente” (existe até um perfil no face com esse nome) …
E o bom senso, onde fica?
Essas pessoas de pensamento binário são prato cheio para políticos canalhas e aproveitadores. Que se dizem apoiador da “causa” mas apenas criou mais um nicho eleitoral! E os fanáticos não percebem a armadilha que eles mesmos criam nesse pensamento. A dicotomia chega a tal nível que eles mesmos não percebem que existem os fanáticos aos avessos que acabam elegendo outros políticos que apóiam causas ao avesso e assim ambos ficam lá e as coisas não mudam!
E assim vamos indo … 2000 anos se passaram e pouca coisa mudou no tal do “senso comum” … e o “bom senso” … ah … esse ainda demora a se formar!
Evandro Mangueira
30 de outubro de 2013
Eduardo Stella que ótima sua contribuição, eu concordo em quase tudo o que você magistralmente disse (só não creio que em 2000 anos nada tenha mudado significativamente), Meu caro, você expressou o que penso a respeito das lutas.
Eu costumo dizer que até a luz em excesso cega!
Como no meu artigo anterior, falei que sou vegetariano e abomino a indústria cruel de alimentação, mas não condeno os que comem carne, creio que a indústria de fármacos seja assim também, a vida humana é mais importante do que a vida animal, mas é preciso mudanças e também força popular para que as mudanças aconteçam rápidas e com eficácia, mas não apoio quebra-quebra, máscaras e confrontos não estratégicos. Eventualmente são necessárias as lutas e os “vandalismos”, mas devemos evitá-los quando possível.
Eduardo Stella
30 de outubro de 2013
Camarada Evandro,
Escreverei minha opinião sobre os quebra quebra e se o camarada Amstalden permitir, será colocado neste blog em primeira mão.
Evandro Mangueira
30 de outubro de 2013
Estarei ansioso para ler.
Eloah Margoni
30 de outubro de 2013
Compreendo, Evandro e respeito. É que sou ecologista e o ecologismo é uma filosofia que NÃO considera o ser humano mais importante que outros seres e espécies. Como médica, sempre cumpri meu dever. E a explosão demográfica é, principalmente, culpa da medicina…O ser humano ´é um animal cuja sobrevivencia está ameaçada pelo grande número de indivíduos da espécie…
Evandro Mangueira
30 de outubro de 2013
Eloah que sinuca de bico essa que vivemos, né? Eu, particularmente, não considero o ser humano mais importante que os outros seres e espécies, mas tenho o dever ético de valorizar primeiro a minha espécie em casos de escolhas evidentes. Em caso de fome eu defendo se alimentar de animais, em caso de frio eu defendo o uso de casacos de couro, em caso doença eu defendo o teste em animais. Mas sempre que possível escolher, devemos nos alimentar de outros meios, devemos nos vestir de outros meios e devemos garantir a saúde por outros meios. É inaceitável o uso de animais para o que podemos usar outros meios e é repugnante e asqueroso o uso de animais para quaisquer coisa fútil e de mero prazer humano.