Coluna do Evandro: Instituto Royal

Posted on 28 de outubro de 2013 por

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Sempre tive medo de comoções, acredito que as emoções afloradas levam as massas a cometerem crimes chocantes.

Lembro do caso da menina Isabela Nardoni, todos clamavam por justiça, mas a maioria queria vingança. Aposto com qualquer um que se colocássemos o casal Nardoni em praça pública não faltariam pedras atiradas pela população, contrariando assim o ensinamento de Cristo: Atire a primeira pedra quem não tiver pecado.

A internet é um meio de comunicação rápida e ao mesmo tempo feroz.

A liberdade de escolha e de expressão é um exercício democrático.

A junção dessas três coisas, sede de justiça – comunicação rápida – liberdade democrática, torna-se muito perigosa. Assusto-me com ativistas sem embasamento, informações sem compromisso com a verdade e manipulações que envolvem, somente, o emocional.

A razão deve prevalecer sempre, a emoção atrapalha em momentos de conflitos ou perigo.

Em 18 de outubro de 2013, ativistas dos direitos dos animais invadiram o Instituto Royal e sequestraram os animais que ali eram usados para testes (Cruelmente usados para testes).

Esse tipo de ação, em sua maioria, ocorre por veículos de comunicação como o Facebook, Twitter entre outros e geralmente atrai pessoas “embalistas”, a liberdade pode ser muito perigosa se usada sem critérios morais e éticos, creio que o importante são as conquistas mais duradoras, como projetos de leis, pressão popular aos órgãos regulamentadores como ANVISA e governos.

Contudo, é legítima a ação virtual e a mobilização de pessoas, só temos que tomar o cuidado para que ao olharmos para o abismo ele também não nos olhe de volta, Nietzche nos ensinou isso ao falar da relação dialética, quando disse:

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.”

Justiça é bem diferente de vingança.

O Instituto Royal cometia claros crimes quanto aqueles animais, assisti ao vídeo de “esclarecimentos” e também li a nota oficial, disposta em: http://institutoroyal.org.br/ , e, nem em um, nem no outro meio de “esclarecimento” o Instituto convenceu-me de que tratava bem os animais sob sua guarda.

Primeiro porque não creio que as pesquisas fossem mesmo para câncer e outras doenças, as evidências como a raspagem dos pêlos dos cachorros mostravam que eram testes de cosméticos, uma vez que é claro para a sociedade que as “pesquisas” em fármacos são majoritariamente em cosméticos, e notoriamente é um crime testar em animais produtos de tamanha futilidade. Não é justo que nossos cremes anti-rugas tire tantas vidas.

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Segundo porque os investidores em pesquisas em fármacos têm apenas um compromisso: O lucro. As empresas pesquisam o que mais dá lucro, lembro de uma notícia, logo que as pesquisas sobre célula-tronca começaram: Um grupo de japoneses pesquisava uma forma de nascer cabelo humano em camundongos, é claro que pesquisar célula-tronco para regeneração de órgãos e tecidos é muito mais importante do que fazer nascer cabelos, mas a verdade é que existem muito mais carecas ricos dispostos a gastar com isso do que paraplégicos.

Terceiro porque não creio que a indústria farmacêutica pense realmente em curas, nunca entendi porque doenças como gripe não tem cura, acredito, sem medo de julgar, que vender amenizadores dos sintomas é mais lucrativo do que vender curas, senão como o Energil C ainda estaria no mercado?

Não vejo os institutos de pesquisas em fármacos como inocentes e muito menos como salvadores, heróis da sociedade, pelo contrário, as pesquisas são perigosas, fúteis e com visão de lucro, barateando os custos, matando e torturando animais e investindo em futilidades como nuances de esmaltes e batons.

O uso de animais para tais pesquisas deveriam ser abolidas do planeta, principalmente porque empresas como o Instituto Royal mentem, descaradamente, ao dizerem que tratam bem os animais e que os doam à adoção ao final de cinco anos. Essa é uma mentira tão descabida que não se sustentaria com uma única visita da ANVISA ao instituto.

Achei a ação dos ativistas dignas de palmas, a participação social exemplar e o prejuízo do instituto merecedor, contudo, fico apreensivo com pessoas escondendo os rostos, com a emoção sem a razão e com movimentos que surgem do nada e tomam forças descomunais, mesmo que as articulações dos movimentos sempre existissem, a emoção leva um número de pessoas sem embasamento às ruas.

A luta deve ser constante e participativa. A liberdade tem que ser garantida, mas tem que ser sabiamente usada. Estamos lidando com uma força nova chamada internet e também com uma força antiga chamada ignorância coletiva e revolta, como dosar as duas coisas? Como lidar com a liberdade sem prejudicar os direitos básicos? Como ser democrático ouvindo todos e ao mesmo tempo deixando de lado opiniões que não agregam? Esses são os nossos desafios, trabalhar a democracia livremente, respeitando e atuando.

Intervenções são importantes e necessárias, mas o cuidado para agirmos com a razão e não com a emoção são fundamentais para que a democracia funcione de fato.

 

Deixo um interessante vídeo de uma inglesa que simulou ser uma cobaia animal:

Deixo um depoimento honesto de quem trabalhou com teste em animais e abatimentos:

 

Evandro Mangueira é Escritor e autor do livro Arcanjo Gabriel

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