Um dia comum. Por Maxx Zendag

Posted on 2 de novembro de 2013 por

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principe1(1)

Hoje é um dia comum. Pelo menos pra mim. Eu respeito as opiniões em contrário, de quem reserva o chamado Dia de Finados para limpar aquele túmulo que acumulou a sujeira de um ano inteiro, e retirar aquele vaso com a planta seca para substituí-lo por outro com flores multicoloridas e perfumadas. Mas não quero dedicar unicamente esse dia do ano para lembrar-me das pessoas queridas que não mais pertencem ao plano físico.

Quero, hoje, fazer um brinde à vida! É feriado, e posso, sim, aproveitar para estar ao lado das pessoas queridas, já que terei mais tempo para tal. E bem provável que eu me lembre, com saudades, dos que já “se foram”, até porque esse sentimento me ocorre com freqüência, em vários dias do ano. Afinal, se são pessoas que moram no meu coração, eu não precisarei de uma data marcada para lembrar-me delas ou para homenageá-las de alguma forma.

Eu não faço idéia de como chegar ao túmulo onde foi enterrado meu pai, no Cemitério da vila Rezende. Eu o visitei uma única vez, por curiosidade. Nada senti ali, pois meu coração dizia que, naquele lugar, estava apenas o corpo no qual sua alma morou durante sua passagem por este mundo. Mas ele, o meu pai, não estava ali. No entanto, quando por vezes eu estou sozinho, e do nada me vem a sua lembrança – embora eu não me recorde de grandes momentos entre pai e filho – eu sinto que ele está próximo de mim.

Já me vi falando com ele ao simplesmente olhar sua foto, ou mesmo em dado momento simplesmente perguntei em pensamento: “O que será que você me diria, papai, se me visse hoje? Sentiria orgulho por ter um filho que sempre lutou e trabalhou para conseguir o que tem e nunca se envolveu com drogas? Sentiria vergonha ao descobrir que ele é homossexual? Bateria nele por isso? Ou culparia a mamãe?” Eu sinceramente não sei. E considero uma bênção não ter essa resposta, pois talvez eu me decepcionasse.

Conheci uma pessoa que foi importante na minha vida e guardo-a com carinho no coração. Seu nome era Vivian. Tivemos um desentendimento um dia. Não nos falamos por quase um ano. Então, num certo dia 23 de outubro, dia do aniversário do meu pai, decidi “quebrar o gelo” e telefonei para ela para dar-lhe os parabéns pelos dezoito anos (sim, ela também aniversariava neste dia). Foi nossa última conversa. Dias depois minha mãe me acordou mostrando o anúncio no jornal. Vivian faleceu um dia após o seu aniversário. Eu não senti por não poder comparecer ao velório dela, mas certamente teria um remorso até o fim da vida se não tivesse dado aquele telefonema.

Portanto, não vou visitar os túmulos dos meus queridos que hoje estão em outro lugar. Não levarei um arranjo ou vaso de flores, pois não terei tempo para ir regá-las, e sei que elas logo morrerão. E não há uma data em que são lembradas as flores mortas.

Em vez disso, continuarei a ter meu pai, Vivian e tantos outros bem perto de mim, pois a todo momento eu lembro deles e desejo que, onde quer que estejam, possam se sentir felizes e tenham orgulho da pessoa que hoje eu sou.

Sugiro, portanto, que brindemos à vida, e brindemos também em agradecimento às pessoas que, mesmo não estando entre nós, estiveram um dia e trouxeram muitas cores à nossa vida.

Maxx Zendag

É piracicabano, nascido há 30 anos, desenhista e fotógrafo amador, autor do livro “A Águia Dos Ventos: O Leão Do Mirante”. Trabalha atualmente como auxiliar administrativo, e ainda administra duas páginas no Facebook:

“É Uma Límgua Portugueza, Concertesa” www.facebook.com/limguaportugueza

“FORÇA Brasileira” www.facebook.com/forcabrasileira