Já foi dito que a história é a sucessão dos meios geográficos. Neste artigo, apresentaremos mais uma dessas sucessões, uma das quais não é das mais felizes. Este é o caso da barragem do Tanquã, um dos lugares mais bonitos da região de Piracicaba. Formado na parte final da represa do rio Piracicaba, já próximo ao município de Santa Maria da Serra, é um patrimônio ambiental da humanidade, santuário ecológico, refúgio pantaneiro de aves e peixes, bairro para pescadores e ponto turístico (Foto 1).
Tal lugar, mesmo com tantos atributos que o tornam único neste planeta (Foto 2), corre o risco de desaparecer por conta de uma barragem hidroviária. São imensas as discussões que percorrem tal assunto, o que poderia ser compilado inclusive num livro ou documentário. Mas quem vos escreve, por hora, é uma bióloga e um geógrafo com pouco tempo e muita paixão por sua terra. Veremos o que ficará para trás, o que será destruído em nome da “criatividade do progresso”.
Para onde irá a fauna ribeirinha deste local que, sem dúvida, é um refugio pantaneiro em terras piracicabanas? Vejamos, um pouco, do viver que ficará para trás: o Tuiuiú (Foto 3), a Ariranha, o Tucano, o Martim-pescador, o Papagaio, a Arara, o Paturi, o Anú-coroca, o Ferrão e o Jacaré de papo amarelo, entre outras espécies endêmicas (exclusivas do ambiente pantaneiro).
Além destas, também ficará para traz o ser humano. A população local, que vive, exclusivamente, em comunhão com a natureza ao seu redor, desenvolve seu trabalho a partir do contato com o rio. A mudança deste habitat provocará impactos para além da compensação de sua moradia para um bairro urbano, em outro local da cidade Piracicaba. As crianças (Foto 4) sabem o que está sendo discutido em nome do futuro delas?
Há um geógrafo que diz que vivemos em plena ”destruição criativa da Terra”. Isto é, o homem destrói seus antigos habitats para construir novos empreendimentos valorativos. É impressionante ver como o homem, o lobo do homem, adora destruir as maravilhas de sua Terra em nome de um desenvolvimento econômico mitológico. Como explicar para as futuras gerações o desaparecimento de cenas tão marcantes (Foto 5) que caracterizam esse patrimônio piracicabano?
Este texto curto e significante foi a primeira aproximação do assunto feita pelos autores. Os mesmos esclarecem que são favoráveis ao progresso técnico da humanidade. Entretanto, salientam que este progresso não poderá vir à custa do sofrimento de grande parte da vida terrestre. Em suma, os autores assinam, baseados em seus estudos e em seu cotidiano vivido, que a destruição da cadeia ecológica natural da Terra trás, como uma de suas consequências, além da extinção das espécies componentes, a destruição do próprio ser humano.
Bruno Rezende Spadotto é geógrafo
Valdiza Copranico é bióloga aposentada e escritora
As fotos utilizadas neste artigo estão disponíveis nos sites: http://www.ecofoto.com.br/blog/2013/02/tanqua/
http://galeriafoto.com.br/?tag=fotos-do-tanqua
http://oespiritodolugar.blogspot.com.br/p/tanqua.html
Gabriel Péret
3 de dezembro de 2013
Simplificadamente, se nos colocamos a pensar nos seguintes fatores, que1, o desenvolvimento da ciência leva ao progresso tecnológico, que2, a sociedade é regida por alguns empoderados gananciosos que se utilizam de técnicas avançadas para ampliar sua dominação, seu poder e sua opressão, que3, o humano, indiferente da classe social/poder de consumo/esfera ou seja lá qual adjetivo você prefira para separar os humanos em grupos distintos, como se fossem realmente distintos, possuem desejos de consumo que quando os realizam, movimentam um ciclo econômico que gera riqueza, concentração de renda nas mãos dos que desenvolvem essas tecnologias, etc.
É óbvio que existem mais variáveis a serem analisadas,
mas juntando essas três variáveis, poderíamos chegar a uma “equação social” de que o desenvolvimento da ciência gera, através do “progresso” da técnica, maior capacidade de dominação, maior dependência psicológica em todas as “esferas sociais” de um consumo material nem sempre palpável, norteador da felicidade, e que esse consumo financia as diferenças sociais e que tudo isso gera mais riqueza que é revertida em progresso técnico que gera mais opressão, etc etc etc?
E que continuamos a creditar as nossas fichas no desenvolvimento da ciência como caminho principal para resolver as diferenças sociais que são decorrentes de uma acumulação desigual, que gera uma opressão social impulsionada por um desenvolvimento tecnológico amparado pela ciência, mas que é essa ciência que vai nos salvar das diferenças sociais, apesar dela contribuir para o progresso tecnológico que gera mais poder aos já empoderados, aumentando as desigualdades que só serão solucionadas quando as tecnologias estiverem disponíveis à toda população, mas que quando chegar a população estará defasada e essa será oprimida novamente por tecnologias mais modernas; tecnologias essas, que são para o bem comum, que são causa e consequência do desenvolvimento da ciência e que irão diminuir as desigualdades e a qualidade de vida como um todo, possibilitando até mesmo que tenhamos que trabalhar menos e em decorrência disso possamos ter mais horas livres de lazer e descanso, e também possibilite que em troca, os seres humanos possam até mesmo levar trabalho pra casa. Nossa, até pareceu cíclico isso…
Afinal, assumimos que Marx venceu Hegel, (aliás seria um ultraje voltar a esse debate por mais que a razão existencial da própria ciência seja a eterna dúvida), e que os problemas de nossa sociedade, são gerados pela sociedade como um todo, e não pela soma de cada indivíduo, ou talvez,quem sabe possamos pensar a partir da fusão dos pensamentos dos dois autores?…()…Me contaram também que a ciência crítica atual propõe o estudo através da forma, em busca de entender uma lógica. A essência das coisas já não importa mais…Na sociedade, a essência dos objetos, roupas, casas, carros, etc, já não importa tanto, valendo mais (da troca ao uso) a forma, a aparência, a casca. As coisas já quase não possuem mais valor pela sua essência, talvez até mesmo as pessoas já estejam se tratando assim, valorando mais o externo. Será que é pra tanto? Não! As pessoas não fariam isso! Seria muita imoralidade! Imagina só?!Talvez a ciência crítica esteja se inspirando nessas novas possibilidades que a sociedade vem experimentando, a valoração da forma em detrimento das essências que se vê e se vive à torto e à direito, à direita e à esquerda. E que coisa não, séculos passaram, e na era da tecnologia ainda vemos o mundo político em apenas duas dimensões (2D), esquerda e direita? Que teoria magnânima e coerente seria essa capaz de tal proeza? De nos convencer de que somente duas dimensões explicam toda a simplicidade social/política?
O importante mesmo é que: mesmo que sejamos ativistas, ambientalistas, participantes de movimentos sociais, marxistas, anarquistas, liberais, críticos, acadêmicos, intelectuais ou “desintelectuais”, possamos consumir nossas coca-colas e nossos mc donalds diários, nossas roupas de marca semanais, nossos eletrônicos mensais, nossos automóveis anuais, e até mesmo nossos relacionamentos existenciais que nem existenciais mais são. Até mesmo porquê, o motivo de nossas mazelas é social. Não podemos mudar nada que não seja pela imposição da força social e frases de grandes pensadores (A)acadêmicos como “Seja você a mudança que quer ver no mundo” não possuem nenhuma valia ao lado de algum parecer técnico-científico de um intelectual academicizado.
Viva a ciência!
Viva o desprezo da filosofia!
Viver/ler não é preciso, pensar sim!
Amadeu Provenzano Fiho
3 de dezembro de 2013
Caros Bruno e Valdiza
Confesso que quando foi lançada a idéia da hidrovia, fiquei entusiasmado. Participei de um encontro no gabinete do então prefeito José Machado, onde era mostrado o plano de crescimento, desenvolvimento da nossa cidade e região, colocando como a menina dos olhos a hidrovia. O plano previa a pesquisa de descoberta de novos recursos para abastecimento de água da cidade e dos polos industriais, uma vez que os nossos estavam esgotados. Colocou-se que com a estrutura da hidrovia com as rodovias Anhanguera, Washington Luiz, as rodovias dos Bandeirantes, do Açúcar, Castelo Branco, mais a ferrovia que passa muito perto da barragem já com duas bitolas e para trens de cargas, e outra que está em Rio Claro rumo a Bauru, Mato Grosso e Bolívia, mais o nosso aeroporto agora municipalizado, tornariam Piracicaba o pedaço mais disputdao e caro do Brasil. O silêncio, senhor do tempo, vem mostrar agora, depois de mais de vinte anos, que essa barragem não era e nem pode ser a menina dos olhos em nome de um desenvolvimento que em si, não será sustentável, uma vez que nossa cidade não tem estrutura urbana para absorver o impacto resultante das cheias que o represamento vai causar. Dessa forma, o tempo serviu para que eu pudesse descobrir motivos maiores e piores do que aqueles, que é o desaparecimento do Tanquã, uma agressão com uma violência tão grande porque assistiremos o desaparecimento de um santuário ecológio, o único e o último de mata atlântica da nossa cidade. Ademais, quem se beneficiaria mais com a hidrovia ? Já que a represa de Santa Maria da Serra e Barra Bonita oferecem estrutura para a hidrovia, necessário seria analisar se não ficaria menos oneroso que o marco zero da hidrovia fosse ali, e não aqui. A chegada da modernidade, da tecnologia que “tantos benefícios trouxeram para a nossa cidade, extinguiu mais de 100 espécies da fauna do nosso rio. Quem buscar a enciclopédia sobre a fauna e a flora do rio Piracicaba esrcita de dr. Nelson Rodrigues pesquisador científico da Esalq, vai chorar de tristeza. E agora vão acabar com o Tanquã, O ditado diz: “Quem avisa, amigo é”.Vocês Bruno e Valdiza, mostraram, avisaram. Estão de parabéns pela exposição tão bem elaborada e com fotos de deixar qualquer um babando !