Tanquã – O que ficará pra trás… Por Bruno R. Spadotto e Valdiza Coprânico

Posted on 3 de dezembro de 2013 por

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Já foi dito que a história é a sucessão dos meios geográficos. Neste artigo, apresentaremos mais uma dessas sucessões, uma das quais não é das mais felizes. Este é o caso da barragem do Tanquã, um dos lugares mais bonitos da região de Piracicaba. Formado na parte final da represa do rio Piracicaba, já próximo ao município de Santa Maria da Serra, é um patrimônio ambiental da humanidade, santuário ecológico, refúgio pantaneiro de aves e peixes, bairro para pescadores e ponto turístico (Foto 1).

Foto do satélite da localização de Tanquã

Foto do satélite da localização de Tanquã

Tal lugar, mesmo com tantos atributos que o tornam único neste planeta (Foto 2), corre o risco de desaparecer por conta de uma barragem hidroviária. São imensas as discussões que percorrem tal assunto, o que poderia ser compilado inclusive num livro ou documentário. Mas quem vos escreve, por hora, é uma bióloga e um geógrafo com pouco tempo e muita paixão por sua terra. Veremos o que ficará para trás, o que será destruído em nome da “criatividade do progresso”.

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Foto 2 – Horizonte da região pantaneira do Tanquã

 

Para onde irá a fauna ribeirinha deste local que, sem dúvida, é um refugio pantaneiro em terras piracicabanas? Vejamos, um pouco, do viver que ficará para trás: o Tuiuiú (Foto 3), a Ariranha, o Tucano, o Martim-pescador, o Papagaio, a Arara, o Paturi, o Anú-coroca, o Ferrão e o Jacaré de papo amarelo, entre outras espécies endêmicas (exclusivas do ambiente pantaneiro).

Foto 3 – Tuiuiú, espécie exclusiva de pantanal.

Foto 3 – Tuiuiú, espécie exclusiva de pantanal.

Além destas, também ficará para traz o ser humano. A população local, que vive, exclusivamente, em comunhão com a natureza ao seu redor, desenvolve seu trabalho a partir do contato com o rio. A mudança deste habitat provocará impactos para além da compensação de sua moradia para um bairro urbano, em outro local da cidade Piracicaba. As crianças (Foto 4) sabem o que está sendo discutido em nome do futuro delas?

Foto 4 – Crianças da comunidade ribeirinha do Tanquã

Foto 4 – Crianças da comunidade ribeirinha do Tanquã

 

Há um geógrafo que diz que vivemos em plena ”destruição criativa da Terra”. Isto é, o homem destrói seus antigos habitats para construir novos empreendimentos valorativos. É impressionante ver como o homem, o lobo do homem, adora destruir as maravilhas de sua Terra em nome de um desenvolvimento econômico mitológico. Como explicar para as futuras gerações o desaparecimento de cenas tão marcantes (Foto 5) que caracterizam esse patrimônio piracicabano?

Foto 5 – Final de tarde na região do Tanquã

Foto 5 – Final de tarde na região do Tanquã

Este texto curto e significante foi a primeira aproximação do assunto feita pelos autores. Os mesmos esclarecem que são favoráveis ao progresso técnico da humanidade. Entretanto, salientam que este progresso não poderá vir à custa do sofrimento de grande parte da vida terrestre. Em suma, os autores assinam, baseados em seus estudos e em seu cotidiano vivido, que a destruição da cadeia ecológica natural da Terra trás, como uma de suas consequências, além da extinção das espécies componentes, a destruição do próprio ser humano.

Bruno Rezende Spadotto é geógrafo

Valdiza Copranico é bióloga aposentada e escritora

As fotos utilizadas neste artigo estão disponíveis nos sites: http://www.ecofoto.com.br/blog/2013/02/tanqua/

http://galeriafoto.com.br/?tag=fotos-do-tanqua

http://oespiritodolugar.blogspot.com.br/p/tanqua.html