É uma locução latina que significa “pessoa indesejada”. Penso que se Jesus viesse dar uma volta entre nós nestes tempos de Natal seria esse seu sentimento.
Começa que Dele nem sinal; quando muito se fala de tal “espírito de Natal”, porque citar Seu nome é brega. O dono da festa é Papai-Noel – sempre bem visto e bem vindo, de preferência com saco cheio. A rejeição é tamanha que já do coração das crianças seu nome é banido, afinal nunca desceu de helicóptero no shopping. Aproveitando a deixa, como se sentiria vendo gente no batente até meia-noite por causa do Seu aniversário?
Na Rua Governador sua frustração seria maior vendo pais e mães de família trabalhando de segunda a segunda dez, onze horas por dia, inclusive no domingo – dia do Senhor, da reunião familiar, do lazer e do descanso. No Natal certamente essa gente vai estar um bagaço. Para seus familiares esse é um tempo de ausência e solidão. Por mais que ganhem, não compensa a perda. “Muitas pessoas perdem as pequenas alegrias enquanto aguardam a grande felicidade”. (Pearl S. Buck). “Um hoje vale dois amanhãs”. (Benjamin Franklin).
Talvez risse da burrice da caipirada piracicabana cozinhando o cérebro dentro de seus carros em ritmo de tartaruga. Por causa da ganância dos comerciantes e conivência da administração pública a Governador, que poderia ser um agradável calçadão cheio de árvores, flores, assentos e pontos de encontro, virou um inferno de calor e poluição, tanto para os pulmões quanto para os olhos e os ouvidos. De cima a baixo tornou-se uma rua agressiva, feia e inóspita, mais ainda agora que foi tomada por grandes redes, cujo objetivo é o lucro; estão nem aí com a cidade e o povo que as acolhe. Seus donos estão longe contando os lucros que gerentes caxias conseguem aterrorizando colegas de trabalho.
Talvez se sentisse culpado em ver tanta exploração entre semelhantes, e gente gastando mil reais num tênis enquanto outros nem comida boa têm. Pode ser que ficasse tentado a perguntar à multidão por que corre tanto e o que procura. Quem sabe a visse como ovelhas sem pastor e dissesse como na Galiléia: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso de seu fardo, e eu lhes darei descanso”.
Mas, sábio como é logo se sentiria aliviado e até confortável que ninguém Dele se lembre, afinal não é esse o seu Natal; não é esse o Natal que veio trazer. O que tem a ver a noite silenciosa de Belém com uma agitação dessas? Se Deus se fez gente é porque o ser humano basta por si só. A partir desse dia santo nenhuma pessoa pode mais ser explorada, usada e excluída. Ninguém pode mais desvalorizar a si próprio e se anular para viver. O Natal vem questionar o valor e o sentido que estamos dando à nossa vida. No fundo temos medo de ser. Preferimos entrar no rebanho. Ali não é necessário pensar, planejar, questionar, desconstruir e reconstruir. Alguém ‘cuida’ da gente; e assim achamos motivos que justifiquem nossa prisão.
Abrindo mão da liberdade pagamos com a felicidade porque nenhum ser humano que não seja livre consegue ser feliz. Por isso tanta gente sai à cata de algo que preencha seu vazio. Sobe e desce, entra e sai das lojas, agride vendedores; em casa abre sacola por sacola e se sente frustrado porque não trouxe o que julgava ter encontrado. Vão achar nunca porque procuram fora o que em si carregam. Mas não se amam o suficiente para de si próprios cuidarem e se libertarem para a maravilha que vieram ser.
“Preciso de poucas coisas e as poucas coisas de que necessito, necessito pouco” dizia São Francisco de Assis. E Benjamin Franklin: “Quem compra o supérfluo, acaba vendendo o necessário”.
O que tem Jesus a ver com uma sociedade que abriu mão do essencial?
Antônio Carlos Danelon, o Totó, é Assistente Social. totodanelon@ig.com.br
Gleison
20 de dezembro de 2013
Se ele voltasse, acredito que a grande maioria dos que se dizem seus seguidores, que comemoram seu nascimento desejando “feliz Natal”, mesmo sem saber exatamente quem ele foi e o que pregou, seriam os primeiros a bradar “CRUCIFICA-O”!
Antonio Carlos Danelon - Totó
22 de dezembro de 2013
Também acho Gelison. Obrigado per ler e comentar. BomNatal.
Marlene
20 de dezembro de 2013
Fiquei emocionada ao ler o artigo! Acredito que Jesus, o Cristo sorriu e fez um afago na sua cabeça quando você terminou de escrever. abraços
Antonio Carlos Danelon - Totó
22 de dezembro de 2013
Essa não, Marelene! Que delicia ler isso. Quem está emocionado agora sou eu. Obrigado. Bom Natal.
ninfa barreiros
21 de dezembro de 2013
Lindo.
Antonio Carlos Danelon - Totó
22 de dezembro de 2013
Você está com um(a) menino (a) Jesus em casa. Curta bastante. Feliz Natal.
Carla Betta
22 de dezembro de 2013
Ouvi de uma pessoa, mal remunerada, que eles (o casal) TÊM que comprar 20 presentes!!!… É gostoso presentear e receber mimos, mas… assim como obrigação?!… Muitos se recordam das instituições de caridade e fazem algum tipo de caridade… só nesta época?!… E mesmo a história de São Nicolau é belíssima e nenhuma relação tem com este Papai Noel inventado pela Coca-Cola!!!?? Quantos desvios, quantas distorções em nome do lucro!!!…
Antonio Carlos Danelon - Totó
22 de dezembro de 2013
Verdade nua e dura, Carla. Feliz Natal.
Eduardo Stella
23 de dezembro de 2013
Eu particularmente detesto “datas” … me dá um frio na espinha só de pensar em ter que fazer compras … ficar pensando em presentes … aqueles protocolos todos …
E pra cumprir todos esses protocolos, terminamos por defecar nos ensinamentos do “homenageado” …
Aliás, ele mesmo já nos advertiu na época sobre tais “procedimentos sociais” …