Coluna do Totó. PERSONA NON GRATA

Posted on 20 de dezembro de 2013 por

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É uma locução latina que significa “pessoa indesejada”. Penso que se Jesus viesse dar uma volta entre nós nestes tempos de Natal seria esse seu sentimento.

Começa que Dele nem sinal; quando muito se fala de tal “espírito de Natal”, porque citar Seu nome é brega. O dono da festa é Papai-Noel – sempre bem visto e bem vindo, de preferência com saco cheio. A rejeição é tamanha que já do coração das crianças seu nome é banido, afinal nunca desceu de helicóptero no shopping. Aproveitando a deixa, como se sentiria vendo gente no batente até meia-noite por causa do Seu aniversário?

Na Rua Governador sua frustração seria maior vendo pais e mães de família trabalhando de segunda a segunda dez, onze horas por dia, inclusive no domingo – dia do Senhor, da reunião familiar, do lazer e do descanso. No Natal certamente essa gente vai estar um bagaço. Para seus familiares esse é um tempo de ausência e solidão. Por mais que ganhem, não compensa a perda. “Muitas pessoas perdem as pequenas alegrias enquanto aguardam a grande felicidade”. (Pearl S. Buck). “Um hoje vale dois amanhãs”. (Benjamin Franklin).

Talvez risse da burrice da caipirada piracicabana cozinhando o cérebro dentro de seus carros em ritmo de tartaruga. Por causa da ganância dos comerciantes e conivência da administração pública a Governador, que poderia ser um agradável calçadão cheio de árvores, flores, assentos e pontos de encontro, virou um inferno de calor e poluição, tanto para os pulmões quanto para os olhos e os ouvidos. De cima a baixo tornou-se uma rua agressiva, feia e inóspita, mais ainda agora que foi tomada por grandes redes, cujo objetivo é o lucro; estão nem aí com a cidade e o povo que as acolhe. Seus donos estão longe contando os lucros que gerentes caxias conseguem aterrorizando colegas de trabalho.

Talvez se sentisse culpado em ver tanta exploração entre semelhantes, e gente gastando mil reais num tênis enquanto outros nem comida boa têm. Pode ser que ficasse tentado a perguntar à multidão por que corre tanto e o que procura. Quem sabe a visse como ovelhas sem pastor e dissesse como na Galiléia: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso de seu fardo, e eu lhes darei descanso”.

Mas, sábio como é logo se sentiria aliviado e até confortável que ninguém Dele se lembre, afinal não é esse o seu Natal; não é esse o Natal que veio trazer. O que tem a ver a noite silenciosa de Belém com uma agitação dessas? Se Deus se fez gente é porque o ser humano basta por si só. A partir desse dia santo nenhuma pessoa pode mais ser explorada, usada e excluída. Ninguém pode mais desvalorizar a si próprio e se anular para viver. O Natal vem questionar o valor e o sentido que estamos dando à nossa vida. No fundo temos medo de ser. Preferimos entrar no rebanho. Ali não é necessário pensar, planejar, questionar, desconstruir e reconstruir. Alguém ‘cuida’ da gente; e assim achamos motivos que justifiquem nossa prisão.

Abrindo mão da liberdade pagamos com a felicidade porque nenhum ser humano que não seja livre consegue ser feliz. Por isso tanta gente sai à cata de algo que preencha seu vazio. Sobe e desce, entra e sai das lojas, agride vendedores; em casa abre sacola por sacola e se sente frustrado porque não trouxe o que julgava ter encontrado. Vão achar nunca porque procuram fora o que em si carregam. Mas não se amam o suficiente para de si próprios cuidarem e se libertarem para a maravilha que vieram ser.

“Preciso de poucas coisas e as poucas coisas de que necessito, necessito pouco” dizia São Francisco de Assis. E Benjamin Franklin: “Quem compra o supérfluo, acaba vendendo o necessário”.

O que tem Jesus a ver com uma sociedade que abriu mão do essencial?

Antônio Carlos Danelon, o Totó, é Assistente Social. totodanelon@ig.com.br

 

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