Coluna do Evandro. Carta ao leitor

Posted on 20 de janeiro de 2014 por

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pis

Desejo ao leitor do Blog um feliz ano novo, que em 2014 possamos existir de fato como cidadãos, que os nossos valores sejam reavaliados constantemente, nos proporcionando mudanças que venham a acrescentar paz em nossos espíritos e boa convivência com os demais.

Tenho um agradecimento especial ao Amstalden, que me acolheu em seu blog, permitindo que minhas tímidas idéias fossem difundidas, dando-me a oportunidade de dialogar com tantas pessoas, que trazem consigo uma carga enorme de conhecimentos e principalmente estão dispostas a compartilhá-los. Um agradecimento aos que me apoiaram, parabenizando, criticando ou acrescentando, em meus artigos. Valiosas contribuições!

Agradeço, ainda, aos que compartilharam os artigos, pois esses assinaram embaixo do que eu propunha discutir.

Que 2014 possamos viver em um mundo melhor.

Deixo aos amigos leitores uma crônica de Fernando Sabino:

 

 

Piscina

Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.

Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d´água na cabeça. De vez em quando, surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.

Naquela manhã de sábado, ele tomava seu gim-tônica no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.

Era um ser encardido, cujos molambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas se olharam, separadas pela piscina.

De súbito, pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar dela os olhos. Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejos, sempre a olhá-la em desafio, e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra, iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco tempo sumia-se pelo portão.

Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.

Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.

 

Fernando Sabino