
Foto de Fabrice Desmonts. Fonte: http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/2014/01/estiagem-poe-bacia-pcj-em-estado-de.html
Segundo um colega que trabalha no DAEE (Departamento de Água e Esgotos) a vazão do Rio Piracicaba esteve, no dia 05/2/14, em aproximadamente 15 mts cúbicos por segundo. A pior vazão, segundo o mesmo colega, ocorreu em 1969, tendo atingido 13 metros cúbicos por segundo. Porém, em 69, esta baixa ocorreu no mês de setembro, ainda no período normal de estiagem. Agora estamos quase no mesmo patamar e é fevereiro, época que seria de chuvas… Esta estiagem atípica vem acompanhada de recordes de calor, as maiores temperaturas na cidade em 97 anos. Isto, claro, aumenta o consumo e agrava o mal estar quando a água falta. E já tem faltado. Em Piracicaba ainda de maneira isolada, mas em outros municípios de maneira constante. Se não chover muito acima da média nos próximos meses, o que, por enquanto as previsões não estimulam, teremos, muito provavelmente, falta de água grave aqui e em boa parte do sul e sudeste do Brasil a partir de maio e junho. O fenômeno é, como eu já disse, atípico, mas o aumento do consumo e a diminuição da vazão e da qualidade da água não. Já há décadas temos aumentado a população e o uso e, ao mesmo tempo, deteriorado as nascentes e condições de recarga de nossos rios.
Com a estiagem atual, começaram os apelos para que a população economize água. Recomendação importantíssima, é verdade, mas não suficiente.. Para que possamos garantir o abastecimento no futuro, são necessárias medidas mais amplas. Uma delas é a proteção das áreas no entorno dos rios e dos mananciais. Sem árvores nestas regiões não há penetração da água no solo e aumenta a erosão. O trato do solo em outras áreas também é uma necessidade. A agricultura intensiva e de monocultura, afeta o solo e diminui a mesma penetração de chuva. Logo, sem repensarmos nossas ações na área rural e a proteção aos mananciais e matas, não haverá recarga dos rios e o resultado será a diminuição de sua vazão. E há mais ainda no campo. Formas de irrigação ainda comuns gastam uma quantidade muito grande de água. É necessário substituir estas tecnologias por outras mais econômicas.
Nas cidades, além de se reduzir o consumo urbano, cito duas medidas urgentes. A primeira é a da minimização das perdas urbanas por má conservação da rede de distribuição. Já se calculou que estas perdas representam o maior desperdício urbano, maior do que o uso doméstico e industrial. A segunda é usar águas de chuva. As cidades, na medida em que tornam o solo impermeável, com construções e asfaltos, não deixam que as águas reabasteçam mananciais que depois voltariam aos rios. Porém a própria área construída também pode ser uma fonte de captação. Se for incentivado por lei ou mesmo obrigado que construções tenham calhas de coleta de água de chuva e locais de armazenamento, então cada casa, cada prédio ou construção seria uma “fonte” de captação. Estas águas coletadas na época das chuvas poderiam ser usadas para fins não potáveis (como irrigação, lavagens e descargas de esgoto doméstico) e teriam ainda um papel de recarga dos rios. Imagine centenas de cidades captando água das chuvas. O estoque seria liberado aos poucos, conforme o uso for ocorrendo. Esta liberação gradativa levará a um reabastecimento constante dos rios (pelo despejo) e mesmo de mananciais, pela irrigação.
Enfim, só economizar não basta, é preciso gerar a abundância para o futuro. E nós não temos feito isto. Em 2012 por pouco não foi feita uma alteração no Código Florestal que diminuía as áreas de mata ciliar garantidas por lei. No mesmo ano, um projeto de lei permitindo a venda de água tratada de Piracicaba para outras cidades foi apresentado à Câmara dos Vereadores. Ambas as medidas atentariam contra os recursos hídricos, uma localmente e a outra nacionalmente. Não foram aprovadas porque houve protesto da população. Mas pode apostar que, na primeira oportunidade as propostas voltarão, já que existem interesses econômicos muito grandes envolvidos. Você economiza. Eles deterioram.
PS: A passarela abaixo custou por volta de 3,7 milhões de reais. A ponte estaiada da última foto, custou 13,5 milhões de reais. Pergunta: com o dinheiro da passarela (que é dispensável, penso eu) e das estaias decorativas e do elevador panorâmico da ponte nova, quanto teríamos podido investir em captação de água de chuva em escolas, creches e outros prédios públicos?
Evandro Mangueira
12 de fevereiro de 2014
Também acho que existe uma clara falta de prioridade.
JRP
12 de fevereiro de 2014
Parabéns pelo texto professor !
Artur
12 de fevereiro de 2014
A política do PSDB não é focada no meio ambiente. Meio ambiente não gera lucro para as empresas amigas do partido tucano. Recentemente descobrimos que a empresa Arcellor Mital doou milhares de reais nas campanhas dos atuais vereadores. Com qual finalidade? Barrar fiscalização? (já ouvi dizer de algumas pessoas que as fumaças que eles lançam no ar são extremamete poluentes). E o que dizer das campanhas “Piracicaba está crescendo, venham morar em Piracicaba”. Será que a cidade comportará tanta gente? Será que o atual governo amigo das empreiteiras está trabalhando com uma boa base de sustentabilidade? O que temos visto sim é o calor cada vez maior, o chão de terra perdendo lugar pro asfalto, as favelas crescendo, trazendo violência devido o alto custo de vida. Vemos nos noticiarios pessoas roubando COMIDA! Vemos a abusiva especulação imobiliária, tirando a esperança de milhares de pessoas de comprar sua casa própria. Vemos o incentivo do uso dos automóveis (compre seu carro em 56 parcelas) e a falta de investimento em transporte publico que poderia melhorar o nosso meio ambiente.
Obrigado PSDB! Assim como um cometa destruiu a terra no periodo jurássico, vocês tucanos vieram como uma bomba nuclear destruir nossa cidade.
Samuel Schievano Groppo
12 de fevereiro de 2014
Primeiramente parabéns professor pela ótima reflexão sobre o assunto. Primeiramente acredito que a economia e conscientização da população é muito necessária. Acredito que um país começa uma grande mudança primeiramente mudando a atitude em pequenas coisas, tais como o simples uso mais racional da água. Segundo, era uma excelente hora de se ter leis que possam estimular a construções de casas “verde”, com uso de energia solar e água de chuvas, com desconto do IPTU, pois o próprio morador em pouco tempo de economia consegue pagar/compensar o gasto a mais usando tais tecnologias na obra. Outro fator importante é o SEMAE(nosso “querido e amado”) fazer seu trabalho. Há muitos vazamentos, levantados na gazeta e JP o que mostra que eles simplesmente estão mais se importando em quebrar asfalto onde não precisa, do que montar uma rede eficiente de distribuição de água. Com relação a preservação ambiental, a CETESB já pune muitas usinas, com rigor, mas acredito que ainda precise de mais um rigor, talvez um selo verde que beneficie as empresas, tais como as usinas, de modo a essas se sentirem beneficiadas a cumprirem as exigências de respeitar os mananciais. Porque no mundo se não houver uma vantagem econômica, ninguém faz caridade somente para ajudar o meio ambiente, infelizmente.
Daniel
12 de fevereiro de 2014
Artur,
Gostaria de saber porque você se refere ao PSDB ? Algum partido tem uma política voltada ao meio ambiente ? Do resto concordo com tudo o que disse!
Professor Luiz Fernando, parabéns pelo texto.
Gostei muito que você tocou em um ponto muito interessante e pouco avaliado pelo pessoal que acha lindo e simples preservar o meio ambiente e não consegue olhar para o próprio umbigo.
Não adianta nada o agricultor proteger suas nascentes e as margens de seus rios se na cidade vemos o modo como as pessoas vivem. Desperdício de água, desperdício de comida, a não realização de coleta seletiva do lixo, consumo exagerado etc.
E como tantas coisas iguais no Brasil, o Código Florestal está aí para inglês ver (ele sofreu alterações sim ano passado Professor) … o produtor protege (SE proteger irá gastar muito dinheiro) suas águas e a mesma é desperdiçada na cidade. Além dessa Reserva Legal não trazer benefício nenhum para a preservação da Flora e da Fauna. Pô … posso compensar minha falta de floresta em uma fazenda lá na Bahia ?
Estamos ferrados a curto e médio prazo. O Brasil tá uma zona e a população tá perdida no que fazer.
Grande abraço.
Antônio Cláudio Fischer
12 de fevereiro de 2014
Parabéns professor pela reflexão. Que o Brasil está uma zona como disse o Daniel, isso está mesmo, desde seu descobrimento. Depois veio a lei do Gerson, levar vantagem em tudo e agora os que acham que não precisa a Lei. A propaganda governista piracicabana diz que Águas do Mirante trata o esgoto de Piracicaba e devolve ela limpa para o rio, será? Os órgãos de fiscalização já comprovaram isso? As ETEs estão tratando o esgoto? Porque a noite o odor está aumentando na ETE Piracicamirim, será que a estação está sendo desligada a noite para economizar energia? A ETE da ponte do caixão já está tratando o esgoto ou está devolvendo a sujeira como entra na estação? Ah, existe a mortalidade dos peixeis de hoje noticiada na TV, será porque choveu e o lodo da ETE Capim Fino rodou rio abaixo? Precisamos de órgãos fiscalizadores. Será que o Ministério Público está de olho nisso ou os nobres defensores estão cansados de verem suas ações serem indeferidas? É precisamos fiscalizar…………….
Daisy Costa
12 de fevereiro de 2014
Esta é a pergunta, muito bem colocada:’quanto teríamos podido investir em captação de água de chuva em escolas, creches e outros prédios públicos?’ e mesmo em nossas casas? É um sistema barato e, se de acordo com as normas da ABNT, todos podemos ter esse recurso. E, ainda, os infinitos pontos de desperdício pela rede pública parece que não preocupa os ‘benditos’ executivo e legislativo, só estão focando os bilhões para a inútil Barragem…
Artur
13 de fevereiro de 2014
Sr. Daniel,
Eu me referi especificamente ao PSDB pois, na nossa realidade Piracicabana, temos este partido como mandante há mais de 8 anos. Tanto na prefeitura como na Camara de Vereadores. Certamente se outro partido estivesse governando e estivesse pisando na bola, eu o citaria.
celso bisson
13 de fevereiro de 2014
tá certíssimo o texto do Prof. Amstalden. Tambem acredito na total falta de comprometimento, de seriedade, de boa vontade, e na ignorância dos(as) cidadadãos(ãs) da área urbana ou rural, sobre a importância da preservação da natureza. Os governantes se desconhecem o assunto, pelo menos deveriam saber como não causar danos (fiscalizar, não construir em locais inadequados, campanhas, exemplos). O que é mais gritante é o desperdício a água tratada pela rede de distribuição obsoleta. Qtos kms poderaim ser refeitos com o dinheiro da passarela de concreto, desnecessária e em desacordo com a paisagem do rio. Acredito que enquanto formos um país, e não um povo há muito que aprender…
Daniel
13 de fevereiro de 2014
Artur, compreendo que falou sobre a realidade Piracicabana. Meu comentário foi apenas um desabafo na verdade, não estou tomando defendendo partido nenhum.
Porém, o problema ambiental não pode ser visto em escala municipal. O sistema cantareira tem como principal objetivo abastecer a região metropolitana (PT no governo).
Em relação a todo o resto das políticas de “crescimento e desenvolvimento” que estamos passando em Piracicaba, concordo com você. A cidade não comportá o que está acontecendo e nem precisava comportar.
Um abraço
andregorga
13 de fevereiro de 2014
Tvs de 60 polegadas, computadores com extrema velocidade de processamento, smartphones, tablets, carros inteligentes, roupas e calçados tecnológicos, trocentas quinquilharias que fazem o homem se sentir altamente capaz, criativo, produtivo… Mas ele continua a jogar suas fezes e dejetos industriais na água que bebe, como há 300 anos. Não enxerga que um dia esse recurso tão vital (água potável) poderá se esgotar. Esse é o ser que se diz evoluído.
Anônimo
13 de fevereiro de 2014
Primo tem coisas inexplicaveis nesse Pais…. Ja existe uma Lei Estadual para isso desde 2007, é a 12526/07, mas apesar de ter sido publicada em janeiro de 2007 ate agora nao foi regulamentada e por isso não pode ser aplicada. Um absurdo, pois com certeza poderia fazer muita diferença. Bjs