A água e sua falta. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 12 de fevereiro de 2014 por

12



Segundo um colega que trabalha no DAEE (Departamento de Água e Esgotos) a vazão do Rio Piracicaba esteve, no dia 05/2/14, em aproximadamente 15 mts cúbicos por segundo. A pior vazão, segundo o mesmo colega, ocorreu em 1969, tendo atingido 13 metros cúbicos por segundo. Porém, em 69, esta baixa ocorreu no mês de setembro, ainda no período normal de estiagem. Agora estamos quase no mesmo patamar e é fevereiro, época que seria de chuvas… Esta estiagem atípica vem acompanhada de recordes de calor, as maiores temperaturas na cidade em 97 anos. Isto, claro, aumenta o consumo e agrava o mal estar quando a água falta. E já tem faltado. Em Piracicaba ainda de maneira isolada, mas em outros municípios de maneira constante. Se não chover muito acima da média nos próximos meses, o que, por enquanto as previsões não estimulam, teremos, muito provavelmente, falta de água grave aqui e em boa parte do sul e sudeste do Brasil a partir de maio e junho. O fenômeno é, como eu já disse, atípico, mas o aumento do consumo e a diminuição da vazão e da qualidade da água não. Já há décadas temos aumentado a população e o uso e, ao mesmo tempo, deteriorado as nascentes e condições de recarga de nossos rios.

Com a estiagem atual, começaram os apelos para que a população economize água. Recomendação importantíssima, é verdade, mas não suficiente.. Para que possamos garantir o abastecimento no futuro, são necessárias medidas mais amplas. Uma delas é a proteção das áreas no entorno dos rios e dos mananciais. Sem árvores nestas regiões não há penetração da água no solo e aumenta a erosão. O trato do solo em outras áreas também é uma necessidade. A agricultura intensiva e de monocultura, afeta o solo e diminui a mesma penetração de chuva. Logo, sem repensarmos nossas ações na área rural e a proteção aos mananciais e matas, não haverá recarga dos rios e o resultado será a diminuição de sua vazão. E há mais ainda no campo. Formas de irrigação ainda comuns gastam uma quantidade muito grande de água. É necessário substituir estas tecnologias por outras mais econômicas.

Nas cidades, além de se reduzir o consumo urbano, cito duas medidas urgentes. A primeira é a da minimização das perdas urbanas por má conservação da rede de distribuição. Já se calculou que estas perdas representam o maior desperdício urbano, maior do que o uso doméstico e industrial. A segunda é usar águas de chuva. As cidades, na medida em que tornam o solo impermeável, com construções e asfaltos, não deixam que as águas reabasteçam mananciais que depois voltariam aos rios. Porém a própria área construída também pode ser uma fonte de captação. Se for incentivado por lei ou mesmo obrigado que construções tenham calhas de coleta de água de chuva e locais de armazenamento, então cada casa, cada prédio ou construção seria uma “fonte” de captação. Estas águas coletadas na época das chuvas poderiam ser usadas para fins não potáveis (como irrigação, lavagens e descargas de esgoto doméstico) e teriam ainda um papel de recarga dos rios. Imagine centenas de cidades captando água das chuvas. O estoque seria liberado aos poucos, conforme o uso for ocorrendo. Esta liberação gradativa levará a um reabastecimento constante dos rios (pelo despejo) e mesmo de mananciais, pela irrigação.

Enfim, só economizar não basta, é preciso gerar a abundância para o futuro. E nós não temos feito isto. Em 2012 por pouco não foi feita uma alteração no Código Florestal que diminuía as áreas de mata ciliar garantidas por lei. No mesmo ano, um projeto de lei permitindo a venda de água tratada de Piracicaba para outras cidades foi apresentado à Câmara dos Vereadores. Ambas as medidas atentariam contra os recursos hídricos, uma localmente e a outra nacionalmente. Não foram aprovadas porque houve protesto da população. Mas pode apostar que, na primeira oportunidade as propostas voltarão, já que existem interesses econômicos muito grandes envolvidos. Você economiza. Eles deterioram.

PS: A passarela abaixo custou por volta de 3,7 milhões de reais. A ponte estaiada da última foto, custou 13,5 milhões de reais. Pergunta: com o dinheiro da passarela (que é dispensável, penso eu) e das estaias decorativas e do elevador panorâmico da ponte nova, quanto teríamos podido investir em captação de água de chuva em escolas, creches e outros prédios públicos?

 

 

Posted in: Artigos