Música & Afins – Chet Baker Sings (1956) – Por Edu Pedrasse

Posted on 18 de fevereiro de 2014 por

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chet baler sings

Como diz a apresentação na contracapa original no Lp acima, não se sabe se Chet Baker era um trompetista que cantava ou um cantor que tocava trompete.

Talvez por andar no muro largo que separa os cantores dos instrumentistas de Jazz, nunca definindo direito para que lado “da força” estava, Chet nunca obteve uma alta classificação em nenhum dos lados – como um Miles Davis, ou uma Billie Holiday – sendo colocado em uma seção indefinida, de instrumentistas que cantam, ou vocalistas que tocam, coisa rara na área do Jazz.

Chet surgiu para o mundo do Jazz em 1951, quando foi chamado pelo grande Charlie Parker, um dos grandes mentores do Bebop. Tinha então somente 22 anos.

Depois de integrar o quarteto do consagrado saxofonista Gerry Mulligan –  onde fizeram um som absolutamente inovador –  Chet, em 1954, começou a cantar. Não tive chance de ler a sua biografia, e não imagino o porquê. Mas o mundo deve agradecer.

A nebulosa história da gravação e lançamento deste primeiro LP de Chet nos vocais começa com gravações no ano de 1954 que se estendem até o ano de 1956. Vários músicos participaram, mas sempre na formação baixo, bateria, piano, trompete e voz. A única presença constante é do pianista Russ Freeman, um dos melhores acompanhadores que ouvi na vida. Econômico, leve ( mas sabendo bater quando precisa), com um time e percepção de espaço absurdos. Um antídoto para os pianistas hermetistas-turbilhão de hoje.

Como foi dito o LP foi lançado em 56, depois de dois anos de gravações e espera. Tinha muito a ver com o estilo de Jazz chamado West Coast (feito na Califórnia), marcado pela leveza e arranjos econômicos. Mas o que fazia aquele garoto de 24 anos cantando suave como uma mulher e tocando um trompete mais delicado ainda? Para completar a escolha do repertório ajudava muito: baladas nostálgicas, temas do repertório americano falando de amor quase o tempo todo. E delicadeza, muita delicadeza.

O disco não se perde em improvisos longuíssimos – coisa muito comum e por vezes bastante entediante no Jazz. Não. Os arranjos das canções mediam perfeitamente as letras (canto) com os solos de Chet e de Freeman. Nada é excessivo, gratuito. A média de duração das faixas é de três minutos. Duração de canções Pop(!).

Crédito seja dado também ao produtor e aos baixistas e bateristas que gravaram. Tudo encaixando no espírito da leveza. Educação e respeito com as canções.

Sobre a interpretação vocal de Chet, era algo inusitado na época – e difícil de imitar até hoje. Lembra o canto leve da Bossa-Nova. Aliás, aventa-se que o próprio teria influenciado João Gilberto, pois o último teria lançado sua primeira gravação somente em 58…sabe lá…

Aliás, sobre o canto/toque de Chet, algo interessantíssimo são suas interpretações, que fazem que a voz por vezes soe como a entonação e timbres de um trompete, e o trompete tal qual a voz. Um canto “assoprado”, cheio de ar, sustentado como um instrumento de sopro. Muitas vezes não sente a diferença de quando Chet acaba de cantar e entra em um solo de trompete. É como as duas coisas soassem com a mesma intenção. Como se a interpretação já estivesse pronta na sua cabeça e não importasse como ele iria expressar aquilo. Fantástico e intrigante.

O Cd de hoje em dia contém 14 faixas, mais que o disco original. É um acréscimo honesto, incluindo gravações das mesmas sessões, que não couberam no LP da época pela óbvia questão de espaço. Destaques para a minimalista interpretação de My funny Valentine, I Fall in Love Too Easily e That Old Feeling.

É uma ótima introdução para aqueles que querem começar a conhecer o mundo do Jazz. E o mundo de Chet.

Mas minha recomendação é que seja ouvido ritualisticamente. Um lugar sossegado, de preferência a noite. Meia luz acompanhada de um bom vinho e algum tabaco.

Não tem como errar.

I Fall in Love Too Easily

Edu Pedrasse é músico profissional – guitarra e violão – há 28 anos. Professor particular de música, possui Bacharelado e Mestrado em Música pela UNICAMP. Também é professor universitário na UNIMEP, no curso de Música Licenciatura. Atua com seu show Entartete Jazz, nas casas noturnas de Piracicaba e região.

Site: www.edupedrasse.com

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