O oportunismo e o golpe. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 19 de março de 2014 por

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políticos na ditadura

Quando escrevi o artigo “A corrupção e a ditadura” na semana passada, imaginava que teria algumas reações e comentários a favor de regimes ditatoriais. O que eu não imaginava é que seriam tantos. Pelo Blog, por emails e pelas redes sociais, muitas pessoas questionaram o regime democrático e fizeram elogios ao regime militar vivido no Brasil. Alguns chegaram a afirmar que era preciso “diferenciar” o regime militar da ditadura. Bem, eu não sei que diferença eles imaginam, uma vez que os militares em 1964 depuseram um presidente eleito, caçaram os direitos políticos de milhares de pessoas, eliminaram eleições e, um pouco mais tarde, suspenderam a própria constituição. Se isto não foi ditadura, então eu não tenho idéia do que seria uma. Mas, conforme argumentei, entendo muitas destas pessoas na medida em que entendo a frustração com a corrupção, os desmandos e com a “cara de pau” de políticos corruptos, assim como de seus partidos. Porém, acho que não são somente os cidadãos descontentes (e um tanto mal informados) que defendem a idéia de um novo regime militar e um golpe. Penso que existem também, grupos que se valem da insatisfação para atingir outros objetivos, numa manobra cínica e oportunista.

Dentre estes grupos, que são mais “conscientes” do que fazem ao alimentar o descontentamento popular, identifico dois. O primeiro é o de velhos membros da ditadura, que ainda tem crimes a explicar e que temem a reabertura de processos antigos. Seria mera coincidência o Ministério Público, por exemplo, reabrir o caso “Riocentro”, pedindo a responsabilização de generais e oficiais da reserva e o fato de ter se marcado uma nova “marcha da família com Deus” para o próximo sábado em São Paulo, Rio e outras duzentas cidades? Talvez seja, mas eu acho que existe, sim, uma forcinha dos que se sentem ameaçados agora. O segundo grupo é o dos “oportunistas eleitorais”. São aqueles partidos e políticos que, buscando a eleição, tentam caracterizar o momento atual como de caos e acusam o partido no poder de tentar instalar uma ditadura. Eu não sou um defensor incondicional do PT, muito pelo contrário, tenho questionado o partido (inclusive por escrito e, até agora, sem receber resposta, infelizmente). Por outro lado, não acredito que o PT esteja articulando um “golpe comunista”, até porque, hoje, não está claro nem para eles o que seria “comunismo”, aliás, para ninguém. Em minha avaliação, estes comentários servem para criar uma histeria e enfraquecer politicamente o governo atual, favorecendo o voto na oposição nas próximas eleições. É um artifício antigo. Em 64 foi a mesma coisa. Vários políticos apoiaram o golpe na expectativa de se elegerem depois, em outras eleições. Carlos Lacerda, governador do então Estado da Guanabara, foi um destes. Apoiou os militares e acreditou em eleições próximas nas quais ele seria o novo presidente. Acabou caçado e frustrado nos seus planos e no seu oportunismo.

Aqueles que têm dívidas a pagar, os antigos torturadores e algozes da ditadura, vão continuar nas sombras, fazendo suas propagandas apocalípticas. Mas os partidos políticos legais e os políticos em geral, devem, a meu ver, sair das sombras e defender a democracia que lhes permite a existência. Se algum político ou partido divulga ou incentiva comentários pró ditadura, não somente está sendo contrário a sua própria função como está incorrendo em um crime. Também está jogando uma partida perigosa, como Lacerda poderia atestar se estivesse vivo. Faço, então, um apelo público. Que todos os partidos e políticos de nossa cidade, região, estado e país, se manifestem publicamente em defesa da democracia e contra golpes militares. Que sejam coerentes, pelo menos nisto, a defesa da vontade popular que, bem ou mal, os elege e mantém. Durante esta semana, enviarei este artigo a cada diretório de cada partido  brasileiro e a cada político de minha região, pedindo que coloque as claras a sua posição sobre o assunto. A carta estará no Blog no dia 20.

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