Quando é pra falar o que é feito de bem, nós falamos com muito prazer e sem medo de sermos
felizes. Mas quando devemos tecer uma crítica construtiva a gente não deve se furtar a esse dever,
já que nós PAGAMOS e muito CARO para resolverem conosco os nossos problemas – que quase
nunca são resolvidos nas causas e só se amenizam de forma espalhafatosa os efeitos.
Aprendi que sempre quando é pra elogiar devemos citar o nome do santo para lhe dar os devidos
louros*, quando é pra criticar só falamos do milagre, pois é preferível discutir as idéias do que as
pessoas. Isso é de grande baixeza e estreita envergadura moral. Então não citaremos nomes pra não
gerar a discussão nessa faixa escatológica.
Tem vereador querendo demolir o coreto e os sanitários da Vila Rezende. Temo que daqui a pouco
serão os demais banheiros públicos e outros pontos históricos e culturais da cidade. Será uma idéia
de maluco daqueles que colocam uma melancia na cabeça e saem tocando harpa pelados no centro
da cidade pregando o fim do mundo? Ou ele está correto e devemos reduzir cada vez mais os
espaços públicos em nome da “segurança”?
A justificativa ao estranho projeto é de haver acúmulo de indigentes, usuários de drogas e até
praticantes de delitos nesses locais. Convenhamos, é verdade e é realmente terrível a convivência
com essas mazelas sociais, mas retirar esses pontos para evitar que eles se aglomerem seria a
solução? Estamos diante de um “jênio”? Ou seria bem ao estilo “minha mulher me traiu no sofá da
sala, vou jogar o sofá fora pra não terem mais onde me trair”?
Seria cômico se não fosse trágico! Rasga-se o dinheiro público com discussões inúteis e quem sabe
até na aprovação dessa bizarrice política. Já tem quase meia dúzia de sessões que se gasta tempo
público com isso. Esse é o fato!
Que tal discutir sobre a internação desse povo que perambula pelas praças, quem sabe até sobre um
programa parecido com o que o prefeito Haddad tem feito em São Paulo na cracolândia que se
chama “Braços Abertos”. Esse programa consiste em dar apoio, trabalho remunerado e até ajudar
inicialmente na compra dos objetos de vício deles, lentamente ir reintegrando-os a sociedade e
ainda exortando-os a sair dessa condição degradante e desumana de vida.
O nosso representante, em sua sensibilidade social que se assemelha a de uma pata de elefante, não
deve ter tido o estalo (ou “insight” como se diz no “business language”) de observar que as
inúmeras incursões pela polícia na capital a fim de promover a diáspora** não resultou em nada
além de fileiras de mortos-vivos*** a perambular pelas ruas pra depois se reagruparem por lá. Da
mesma forma destruir os pontos de aglomeração não resolverá o problema pois quando terminarem
as obras eles retornarão pra lá – com ou sem os monumentos.
Será mais fácil espalhar a sujeira pra ficar mais difícil de visualizá-la? Talvez ainda ganhar aplausos
do munícipe incauto ou que simplesmente quer vê-la longe da porta da sua casa? Não sei responder
com exatidão a essas questões … mas é o que parece na minha opinião.
Alega o nobre edil que falar que é usado pra coisas culturais é hipocrisia. Talvez ele não saiba, mas
por exemplo o coreto da José Bonifácio é usado sempre pelo pessoal do Hip hop e de outras danças
para a prática de suas atividades lúdicas. E que tal promover eventos e incentivos culturais para
ampliar o uso desses espaços? Quem sabe até usando como mão de obra paga aquele pessoal que
hoje fica “vadiando” por lá? Dar dignidade a eles … será que isso ninguém quer? E por que não até
colocar a praça aos cuidados deles, recebendo da prefeitura pra mantê-la em ordem, banheiros
limpos, varrida e o coreto em brilho? Sim, se o prefeito de São Paulo logra êxito na empreitada, por
que não conseguiríamos?
Para sermos justos, também sabemos que o membro da nossa Câmara mostra insistentemente o
abandono em que se encontra a nossa cidade. Que faz denúncias importantes e tudo o mais, além de
vir exigindo soluções políciais desde 2011 para esse caso. Mas de que serve esse barulho todo se
não resulta em ações práticas? Onde será que está o erro? Se as indicações sobre abandono já
extrapolam o bom senso, por que não forçar o debate público e chamar o povo as ruas para ajudar
nesse momento? Uma idéia talvez seria invocar seus tantos eleitores pra sair as ruas e levar a cabo
essa importante reivindicação. Será que a coisa não mudaria de figura?
Quando será que teremos legisladores preparados para discutir em um nível altivo as nossas
necessidades? Fico me perguntando se não mantém as causas para poderem lucrar eleitoralmente
com seus efeitos. Até quando a sociedade ficará dormente e continuará aceitando passivamente as
migalhas enquanto poderia comer o pão … com manteiga ainda?
Ainda pergunto: Por que quando o povo resolve participar e pedir transparência pública, controle
social e decência para com ele, esses mesmos que alegam lutar pelo povo, se fecham com seus
pares em seu corporativismo? O povo, mesmo quando lhes criticam, não morde. Apenas está
começando a querer participar e não quer ver mais o que aparenta ser show de pirotecnia.
Experimentem conversar com o público e em todos os seus segmentos levem-no para debater
JUNTOS seus anseios. Por obséquio, não deem a nós soluções enlatadas e muitas vezes bizonhas
como essa que discutimos agora.
Vamos pensar sobre esse tema?
* O santo de verdade não quer louro algum, não deixa a mão esquerda saber o que fez a direita;
** Fazendo relação ao imperador Romano Adriano que em 70d.C. espalhou os judeus por vários cantos do mundo em uma perseguição frenética. No contexto aqui quer dizer que a perseguição tem por finalidade espalhar os moradores de rua em diversos locais.
*** Ao contrário dos mortos-vivos do cinema, esses são reais e estão presos a essa vida só em busca de saciar seus vícios. Não conseguem se livrar sozinhos dos mesmos depois que chegam nessa situação
Gleison
29 de maio de 2014
Parabéns Eduardo. O problema é que o vereador certamente está querendo criar empatia com uma parcela da população da Vila Rezende, notoriamente elitista (embora não tão endinheirada quanto pensam) e preconceituosa. É o voto destes que ele quer.
Antonio Carlos Danelon - Totó
31 de maio de 2014
Se as praças estão abandonadas por que não podem ser ocupadas por desocupados já que uma coisa puxa outra? Afinal essas pessoas fazem parte de nosso sistema social. Sempre existiram e existirão e em algum lugar terão que ficar. Ninguém é obrigado a usar terno. A praça é do povo, se o povo prefere ficar trancado em casa vendo televisão e se isolando do mundo, deixemos os caras em paz. Somente acho que se viver em sociedade exige regras, para eles também.