Em casa de ferreiro o espeto é de pau. Por Anna Carolina Rozza Schmidt

Posted on 24 de junho de 2014 por

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obras da copa

Não é que eu não sou brasileira ou que não gosto de futebol, o fato é que está mais difícil do que nunca torcer pelo Brasil. Porque quando a Copa ocorre em outros países ela começa, de fato, no dia em que a bola rola dentro de campo e só se vê o “eu ideal” de cada país. Dessa vez foi diferente, para os brasileiros a Copa do Mundo começou muito antes. Começou no dia em que foi decido em que o Brasil iria sediar esse evento global. Desde então, os brasileiros começaram a se expressar. E hoje, é a minha vez. Já fui jogadora de futebol, amo esse esporte e sou brasileira. Porém, nunca me senti tão desmotivada como hoje na Copa do Mundo. Porque hoje entendo claramente a diferença do “eu real” e do “eu ideal” tão discutida na psicologia. Vejo que o Brasil real só nós, brasileiros, vemos e VIVEMOS. Podem dizer o que quiser, que não adianta reclamar agora, pois a merd* já foi feita e é melhor pisar em cima ou que protestar durante a Copa não é o modo de se resolver. E, diferentemente de tempos atrás, eu não estou participando dos protestos. Ao contrário de algumas vezes, eu não estou gritando a minha opinião por aí. É estranho, para não dizer decepcionante pensar que há um ano o Brasil gritava “Copa do Mundo eu abro mão quero dinheiro para saúde e educação” e “de repente” esse mesmo Brasil (pois vemos que nada mudou) gritará “sou brasileiro muito orgulho com muito amor”.  Eu, não gritarei. Eu, não torcerei. Porque dessa vez não é apenas minha voz que não quer sair, dessa vez meu coração esfriou. Não tenho vontade nenhuma de torcer. Meu coração, ao contrário de todas as outras Copas, está frio e não fervendo pelo futebol. Por que? Porque eu sei que todos esses bilhões que foram gastos em busca de um Brasil IDEAL apenas mascararam o Brasil real. O Brasil nosso de cada dia. Julgamos tanto a China nas Olimpiadas e estamos fazendo igualzinho, hoje vivemos a “maquiagem do Brasil”. Esses bilhões poderiam e DEVERIAM ter sido gastos com educação, saúde e moradia. Além de ser visível que, se a Copa tivesse sido bem planejada, nós teriamos gasto quase a metade do que gastamos, senão menos. Só não podemos esquecer que a Copa será no BRASIL e BRASIL significa também todos e cada um de nós, brasileiros. Não apenas os governantes e políticos. Sei que BRASIL também se remete a MIM, brasileira. E esse Brasil NÃO me representa. Esse Brasil de fome, de analfabetismo e de filas nos hospitais. Esse Brasil que prefere sediar uma Copa do Mundo a dar educação para seus filhos. Porque quem tem conhecimento tem PODER e a última coisa que os políticos querem é dar poder a população. O ser humano está tão corrompido que prefere o poder a uma população satisfeita. Eu respeito todos aqueles que conseguem, durante esse mês de Copa do Mundo, bater no peito e dizer EU SOU BRASILEIRO. Eu não vou parar meu bairro, São Paulo e muito menos o BRASIL, porque acho que melhor do que protestar atráves do BARULHO é protestar através do SILÊNCIO. E não o silêncio que expressa ignorância, o silêncio de um país que a vida inteira foi super envolvente, barulhento e de coração quente, mas que agora se tornará quieto e de coração frio. Acredito que antes de estar feliz por qualquer evento feito para atrair os olhos estrangeiros, nós temos que lutar para cuidar dos nossos próprios olhos. Para que daqui uns meses esses mesmos olhos estejam bem atentos na hora de digitar aquela combinação de números na urna eletrônica.

Anna Carolina Rozza Schmidt, 20 anos. Estudante de publicidade e também blogueira.

www.infinitossentidos.tumblr.com

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