Em época de Copa, nada como contar piada, ainda mais sobre quem, vejam no final:
“Um psiquiatra chama por telefone seu colega que vive em outra cidade e diz:
— Venha com urgência, tenho um caso único no meu consultório.
— Mas como a estas horas?… Irei logo pela manhã. Não posso desmarcar meus pacientes.
— Tem que ser agora, esta é uma grande oportunidade: caso único!
Continuando a insistir, o colega psiquiatra transfere suas consultas para outro dia e viaja até à cidade vizinha:
— Mas, o que pode ser tão urgente?
— Tenho um caso de complexo de inferioridade no meu consultório…
— E dái? Eu também atendo muitos!
— Sim, mas é um paciente argentino?”
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O reverso desta piada seria diagnosticarmos um paciente brasileiro com boa auto-estima e mínimo orgulho de sua nação.
Nós nos desconsideramos tanto e nos desmoralizamos tanto que pouco se nos dá vaiar nossa representante maior em repercussão internacional.
Li em um post de Abílio Diniz no facebook, cuja autoria não sei se é verdadeira, mas que o desenrolar das idéias vem ao encontro de minha opinião.
Nosso país é conhecido “lá fora” como aquele das mulatas assanhadas, das avantajadas nádegas femininas, da alegria eufórica, isto é, sem razão de ser, portanto esta é a nossa imagem divulgada internacionalmente.
É impressionante o quanto pequenas e grandes empresas investem em marketing! Será o marketing uma bobagem? Ou essencial para os negócios?
Temos a oportunidade raríssima de olhos estrangeiros observando-nos e o que fazemos? Portamo-nos como crianças malcriadas, sem educação e sem respeito, protestando com xingamentos chulos à representante maior do nosso país!
Neste post, supostamente de Abílio Diniz, enfatiza-se a que projeção internacional de uma boa imagem do Brasil influencia o volume de negócios possíveis entre países e entre empresários nacionais e estrangeiros.
Um tiro no pé.
A vaia e a ofensa de baixo calão dirigida a nossa presidenta promove o marketing às avessas, descredenciando nossa credibilidade, ou seja, atinge menos a Dilma Rousseff que os brasileiros como parceiros de negócios e o Brasil enquanto nação.
Diz-se em psicologia que a baixa estima leva a comportamentos que comprovem o valor que se tem de si, boicotando-se propositadamente. Nosso complexo de inferioridade será o que, inconscientemente, nos induz a sermos tão bem manipulados pelas forças políticas contrárias que, em nosso raro momento de projeção internacional, sabotamo-nos, em gesto de imaturidade ímpar e desrespeito vil que “atira no que viu, mas acerta o que não viu”? Fere os ouvidos de adultos civilizados e o espanto de crianças educáveis.
Quem mais se beneficiaria com o produto-Brasil exalando u’a imagem irretocável de seriedade que estes mesmos, no mínimo tolos, empresários e bem-sucedidos homens de negócios? Porque, como já foi exaustivamente comentado na mídia, os que compraram tão caro ingresso para assistir a Copa foi uma classe social bem privilegiada.
Em nome de quê, a troco de quê, ou popularmente: “que vantagem Maria leva” expuseram-se e expuseram-nos a este ridículo?
Quais são as forças ocultas por trás desse modo ignóbil de expressão? Não lhes parecem braços invisíveis a manipular marionetes? De quem são esses braços?
Quanta ironia! Este mesmo partido político a quem xingam foi o responsável por trazer a Copa para nosso imenso quintal e, portanto, pelo deleite e comodidade de presenciarem os jogos futebolísticos “em casa”.
Se há motivo para desagrado (e há), que tal boicotar o evento e não comparecer aos jogos, por exemplo? Não é um contra-senso a presença maciça dos ofensores?
A quem interessa que o Brasil mantenha sua imagem vinculada à desordem, à incivilidade e ao desacato? Um país sobre o qual um estadista teve a ousadia de estigmatizar como “não sério” e nada mais fazemos que confirmar sua tese enlameando a nós mesmos!
A quem interessa?
Carla Betta é contadora de histórias e mantém esta coluna no Blog.
Carla Betta
30 de junho de 2014
#errata: onde se lê: “— Sim, mas é um paciente argentino?” ; leia-se: “— Sim, mas é um paciente argentino!”
Evandro Mangueira
30 de junho de 2014
Carla, o evento futebolístico representa quase unicamente o patriotismo brasileiro, recentemente e não a unica vez (infelizmente) ouvi um amigo dizer: Não discuto política! A junção dessas duas coisas, o futebol masculino, o único orgulho brasileiro e o total desinteresse por política cria esses fenômenos. Não é a primeira vez que um presidente é vaiado no campo de futebol.
Afastar o presidente (em analogia a política) do campo de futebol, da mesa do jantar, do banco da praça é um ato que parece repudiar o que acontece na política, quando na verdade é uma manobra de isenção, na velha malandragem brasileiro: Se eu não apoio, não tenho culpa.
Antonio Carlos Danelon - Totó
2 de julho de 2014
Isso mesmo, Carla e Evandro. “Brancos e ricos são a maioria em estádio.” (Folha 29.06.14). “… Copas não são para o povão, mas apenas para quem pode pagar caro por um ingresso nos novos estádios erguidos a preço de ouro”. (Juca Kfouri – Folha 14.06.14). “Nenhum foi vítima de tanta baixaria quanto a mulher, mãe, avó e pessoa digna, Dilma Rousseff. Os palavrões de que foi alvo começaram nos camarotes VIPS do estádio, ecoaram pelo mundo inteiro, passando a pior imagem possível sobre o Brasil”. (Luís Nassif). Grosso modo falando, brasileiros que acompanham a Copa nos estádios entendem nada de futebol, especialmente a mulherada, que lá está para aparecer, ser observada e fugir da rotina. De política menos ainda. Nada lhes falta. São privilegiados, mas são do contra porque o governo que está aí é governo de pobre e para pobre. Essa gente detesta pobre, mesmo sabendo que quem para eles cozinha, lava roupas, canaliza a merda que produzem, faz segurança, etc. não são os ricos. Antes de desenvolvimento econômico, o Brasil precisa de desenvolvimento humano e isso se consegue com gente civilizada.
Carla Betta
2 de julho de 2014
Obrigada pela participação sempre enriquecedora, Evandro e Totó.