A prefeitura de Piracicaba cortou várias árvores da cidade nos últimos meses, inclusive do Cemitério da Saudade e uma linda seringueira do Largo do Pescador. Segundo os responsáveis, as árvores estavam doentes e apresentavam risco de queda, o que poria a população em perigo. Pode ser. Eu não sou agrônomo nem biólogo e assim não posso opinar. Mas algumas coisas me entristecem em relação a estas derrubadas. Em primeiro lugar, por que as árvores estavam doentes? Não existe nenhum tipo de prevenção ou tratamento? Se existe, por que a prefeitura não os faz? Falta dinheiro ou prioridade? Quer me parecer que estas árvores simplesmente são ignoradas até que surja um problema. E daí a solução é simples, corta-se.
Em segundo lugar, me espanta o fato das árvores terem sido substituídas por coqueiros e palmeiras. De novo admito meu pouco conhecimento na área, mas parece-me que coqueiros não são exatamente a melhor opção para arborização urbana, salvo casos específicos, já que fazem pouca sombra e com poucas folhas e sem galhos, não dão abrigo a muitos pássaros. No largo do Pescador, por exemplo, toda a sombra da antiga seringueira será reposta como, se um coqueiro traz um diâmetro minúsculo de área de sombra? Ou será que a prefeitura nunca ouviu falar que árvores e matas urbanas reduzem a temperatura nas cidades? Se não ouviu falar, deveria, até porque a ESALQ já produziu pelo menos uma tese científica comprovando isto. E deveria ainda porque temos enfrentado alta nas temperaturas. O período de 2013/2014 foi um dos mais quentes da História, se não o mais quente. Claro que árvores somente não vão resolver este problema, mas são parte da solução. Será que alguém da prefeitura duvida ou tem outra proposta? Os coqueiros são a proposta? Se forem, penso que são uma proposta pobre, mais enquadrada na racionalidade da monocultura do que da diversidade biológica, tão necessária para um desenvolvimento sustentável.
Bem, talvez a prefeitura não tenha tido outras mudas para replantar, ou talvez ainda não tenha um plano de arborização e/ou preservação de árvores. Mas, se não tem uma nem outra, então como planeja ambientalmente a cidade? Aliás, planeja? Estamos agora com a vazão dos rios muito baixa, e o que foi feito antes desta estiagem para se evitar a falta de água? Será, ainda, que o poder público municipal não sabia que iríamos enfrentar déficit de água? De novo, se não sabia, demonstra um descaso perigoso para com a questão ambiental, além de uma enorme ignorância científica.
Diante do que tenho visto, nos últimos anos, em relação ao planejamento da cidade e as direções tomadas pelo poder público para o desenvolvimento, fico com a impressão de que a busca de um desenvolvimento sustentável é apenas uma propaganda política, tanto em Piracicaba quanto, talvez, em todo o Brasil. No fundo o que se busca ainda é o lucro rápido representado por modelos de desenvolvimento tradicionais, como a atração de montadoras de automóveis, desregulamentação de áreas urbanas e rurais preservadas e outras medidas que favorecem a especulação imobiliária. Este modelo, no entanto, não é sustentável e nem será. Ao contrário, ele beneficia poucos grupos por algum tempo, mas no final trará prejuízo para todos. Desenvolvimento sustentável ainda é uma busca, é fato, mas uma busca que parece não ter chegado a Piracicaba, pelo menos não da parte do poder público que privilegiou, como eu disse, o adensamento urbano, o uso de automóveis particulares, a construção de obras de custo duvidoso e as excelentes condições para empresas transnacionais se instalarem na cidade. Parece-me que, do ponto de vista da Prefeitura, coqueiros são maravilhosos: são baratos, não requerem poda e, caso doentes, mais fáceis de cortar. Coqueiros e palmeiras lembram-me desertos e terra ruim. Fiquei com a impressão de que, diante dos problemas e desafios ambientais modernos, a prefeitura opta por antecipar um futuro ruim, polvilhando a paisagem com coqueiros e palmeiras, numa antecipação de um grande deserto.

Fonte da Imagem: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/06/prefeitura-corta-arvore-do-largo-dos-pescadores-e-moradores-lamentam.html
Evandro Hion Novello
23 de julho de 2014
Mesmo caso da arvore na nova biblioteca… disseram que especialistas decretaram a arvore como morta, povo negou, tentaram matar a arvore com furos feitos de noite e no final ela esta lá firme e forte …
Eduardo Stella
23 de julho de 2014
Esses “especialistas” estão com diarreia cerebral no coco. Deixo a dica de procurar quem são os donos dos cocos … literalmente … procure …
Mas na verdade acredito que o povo piracicabano e paulista merece passar calor, não ter água, pagar 15 reais de pedágio, pagar 11.500,00 para seus vereadores não olharem nada disso . Merece tudo isso e muito menos!
Deixa chegar Outubro, Novembro … você verá o facebook repleto de coxinhas e risolis reclamando do calor …
Pra quem não sabe: A grosso modo, coxinha é o “carinhoso” apelido dado aos que se ferram com políticas da direita e ainda assim a defendem e sufragam-na. Por isso MERECEM ficar sem sombra!
Walter Chaves
23 de julho de 2014
Como Piracicaba consegue ter a ESALQ e ao mesmo tempo, tanta incompetência no manejo ambiental? É verdade que essa característica não é privilégio dessa cidade, mas faz pensar se merece.
Kaique Rossini
23 de julho de 2014
A distância do poder público piracicabano e a sociedade civil tem sido cruel para a cidade e essa distância vem sendo sistematicamente construida, reservando a alguns nichos econômicos os rumos que a cidade toma. O caso das árvores é emblemático pois é um micro-modelo de como a cidade tem sido gerida e pensada e também expões de certa forma relação estabelecida entre os poderes da cidade, a prefeitura colonizada por empreiteiras e grupos imobiliários, o legislativo não cheira nem fede e o judiciário virou um balcão burocrático que assina e carimba. Não é a toa que está árvore do largo dos pescadores foi derrubada a noite…. só não sei direito ainda o porque…. será que licitações para a venda de palmeiras valem tanto a pena assim, mesmo que quem forneça as palmeiras da cidade seja funcionário da SEMOB?
Carlos Leite
23 de julho de 2014
Fico extremamente decepcionado com tal situação afinal de contas qual a utilidade pública da ESALQ para a cidade? E o Pelotão Ambiental acabou? Pra que Secretaria do Meio Ambiente? Sou professor aposentado, mas não me conformo com esses absurdos. Não sabe o que fazer, pergunte a quem sabe! Por favor população, não deixem a cidade morrer!
Carla Betta
28 de julho de 2014
Eduardo Stella: eu não mereço! E “tomo” também! Muita gente não merece! Essa cidade não é só povoada por ‘coxinhas”…
Luis, não me recordo nem quando nem onde, mas já assisti uma reportagem que defendia o plantio de determinadas árvores frutíferas, que proporcionariam sombra, sem crescer muito e atingir os fios elétricos, alimentariam os pássaros e as pessoas poderiam colher, desde que civilizadamente, as frutas. Não é uma medida assim tão difícil!!