Coluna do Totó. DOR DO MUNDO

Posted on 25 de julho de 2014 por

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Sossego até agora nada. Mesmo escondido lateja em mim a dor do mundo. Não fujo, mas conversas e notícias que falem de mais dores muito me incomodam. Evito pessoas negativas para poupar-me o peito. Sinto-me, em parte, responsável pelo sofrimento que grassa a cidade, o país e o planeta.

Reclamar nem pensar; do que preciso nada me falta. Sigo o que disse Benjamin Franklin: “Quem compra o supérfluo, acaba vendendo o necessário” e Samuel Johnson: “Tenhas o que tiveres gaste menos.” Não quero mais que o necessário. Esse papo de “eu mereço” carrão, viagem, roupa, festa, presente, descanso, etc., até concordo desde que seja para todos. Se não tem para todo mundo não deve ter para ninguém, pois não está na riqueza e nem na pobreza as causas violência, mas na diferença. “A redução das desigualdades contribui mais para o bem-estar que o crescimento”. (André Lara Resende, escritor). Se formos todos ricos ou todos pobres coabitaremos pacificamente e equilibradamente. Claro que não que ficaremos livres da maldade, já que ela habita as mentes, mas provavelmente seremos menos toscos, violentos e corruptos.

Hotel cinco estrelas, praias paradisíacas, resorts, gente bonita, elegante, branca e bem vestida; bolsas e óculos chiques. Tudo muito lindo. Porém, a maioria desses cenários de cartão postal esconde favelas, exploração de pessoas, prostituição infantil, violência, presídios lotados, crianças esmolando e segurança mantida à força. Curtir “merecidas férias” nesses lugares não seria o mesmo que endossar um sistema que favorece poucos e exclui a maioria? É isso que gera violência. E quem vai preso? “Situação de presídios expõe guerra contra a pobreza. Quem é preso e morto são os pobres, os negros, os favelados”. (Julia Lemgruber, socióloga, ex-diretora do sistema penitenciário do Rio. Folha 11.01.14).

Se quero ter, nada de errado desde que lute para que todos tenham também. Pensar somente em si e nos seus num país com tanta gente excluída como o nosso além de sandice, indica imprudência e irresponsabilidade. Que sensibilidade social ou que solidariedade pode haver no coração de políticos, empresários e magistrados pilantras; dos que esnobam mansões em meio a tantos cortiços; dos que compram carro de cem duzentos mil enquanto a maioria mal consegue pagar ônibus; dos que gastam numa noitada o que um trabalhador ganha num mês; daqueles que curtem espetáculos nas melhores salas do país e do exterior enquanto irmãos seus não podem mais que visitar o zoológico ou subir no elevador do Mirante; dos que viajam para os melhores lugares do mundo enquanto muitos trabalhadores vendem as férias para sobrar algum troco; daqueles que levam cachorro a motel com ofurô, espelho no teto, acupuntura e cerveja sem álcool ou de quem tem coragem de esnobar uma bolsa Hermes Kelly, de crocodilo, cujo preço em 2010 equivalia a 742 Bolsas Famílias? (Giba Um, A Tribuna 19.11.10). Os Estados Unidos gastaram um trilhão de dólares na Guerra do Iraque para quê? Para matar 103 mil civis e 4.482 militares? O salário de Neymar – tratado como se herói nacional fosse – é R$ 29 milhões por ano. Ele precisa disso tudo? No entanto, vários trabalhadores – dos quais nem os nomes sabemos – morreram fazendo os estádios para ele jogar.

Dirão alguns que fazem de sua renda o que bem entendem, pois é fruto de merecido esforço e honestamente conquistada. Nada mais certo. Porém não se esqueçam que sua boa qualidade de vida tem a ver com uma infinidade de pessoas que cruzaram seu caminho, cuja renda, também ganha honestamente, mal cobre o necessário. Juntar a família numa boa pizzaria uma vez por mês que seja, nem pensar.

É justo isso?

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