Acompanhei pelos noticiários e pela internet o caso do garoto que teve seu braço amputado, na semana passada, depois de ter sido ferido por um tigre no zoológico de Cascavel – PR. Vi a entrevista do pai pela TV e suas tentativas de se justificar. Antes, li na internet que a mãe do garoto isentava o pai de responsabilidade e criticava o zoológico pelo fato das grades permitirem a passagem do braço da criança. Na mesma reportagem em que o pai se defendeu, seu advogado atribuiu também a responsabilidade ao zoológico, que a teria por ser “um prestador de serviços e ter que zelar pela segurança do público”. Bem, advogados estão, muitas vezes, comprometidos apenas com o cliente, e não com a justiça, daí a fala daquele que representa o pai, tentando uma transferência da responsabilidade e a isenção de seu cliente. O pior é que não é nada difícil que o pai e o advogado entrem com um pedido de indenização contra a administração do zoo.
E digo “pior” porque a meu ver, não há muito o que discutir. Foi uma displicência absurda do pai que estava por perto e, segundo testemunhas, foi alertado sobre a conduta do filho, que ultrapassara a grade de proteção e enfiava as mãos na jaula tocando os animais. Não sou advogado e, portanto, algum jurista que leia este artigo talvez discorde de mim e apresente motivos legais para a discordância. Mas, em minha visão, não há dúvidas de que o zoo não pode e não deve ser responsabilizado, ao passo em que o pai sim. Não creio que caiba alguma punição a este pai, uma vez que a amputação do filho é um prejuízo que dispensa mais repreensões, mas que ele e não o zoológico, foi responsável, isto, para mim, é claro.
Tudo isto ainda é suposição e a justiça vai apreciar o caso. O que me chamou a atenção, no entanto, é uma correlação que vejo entre o caso e o comportamento de muitos pais e mães. Ocorre que, como professor, percebo o crescimento da tendência de muitos em isentar a si mesmos da responsabilidade de acompanhar e de limitar as atitudes de suas crianças. Assim como o garoto colocou as mãos dentro da jaula, eu vejo jovens e crianças assumindo comportamentos imprudentes, agressivos e perigosos sem que seus responsáveis ajam no sentido de coibi-las, repreende-las ou mesmo castiga-las. Sim, castiga-las, já que as crianças nos desafiam de vez em quando, testando os limites. Claro que castigo não é sinônimo de agressão física, mas tampouco é sinônimo de opressão. Castigar um filho que desobedece pode ser uma forma de ensinar a ele que tudo o que fazemos traz consequências, e estas podem não ser boas. Não seria, portanto, uma maneira de causar dano para a criança, mas sim de dar a ela um exemplo prático da relação entre atitudes e consequências. Mas o que percebo é que muitos não fazem isso. Não limitam as atitudes de seus filhos, não os punem quando necessário e tampouco aceitam a responsabilidade quando algo grave acontece.
É assim quando um jovem pega um carro sem poder dirigir e causa um acidente. Os pais geralmente saem em sua defesa ou alegam que o carro foi pego sem seu conhecimento. Refutam críticas e tentam, de vez em quando, inverter a situação colocando-se como vítimas, não como responsáveis. Vejo o mesmo com atitudes como brigas e agressões feitas pelos jovens, uso de álcool e outras drogas e até mesmo com o comportamento agressivo de muitos em relação aos professores e outras autoridades. Muitos pais buscam se eximir e poupar seus filhos. Não impediram a atitude e ainda tentam transferir a responsabilidade aos outros.
No final, não vai dar certo. Um dia um “tigre” vai ser mais rápido e a criança ou o jovem perderá algo, um braço e até a vida. Quando vemos uma criança ou um jovem ultrapassando uma cerca, um limite e colocando a mão em uma jaula, seja que tipo de cerca ou jaula forem, temos que assumir a responsabilidade de tirá-los de lá, de repreendê-los e até de puni-los se for necessário. Caso contrário, um dos muitos “tigres” que fazem parte da vida, vai mostrar por que deveríamos ter feito isso.
Evandro Mangueira
6 de agosto de 2014
A criança certamente aprendeu que existem limites na vida, agora o pai é um criminoso.
AntimidiaBlog
6 de agosto de 2014
Republicou isso em reblogador.
Graça Ribeiro
6 de agosto de 2014
Hoje, enquanto aguardava uma consulta médica, um garoto, com cerca de 4 anos, “infernizava” o ambiente, sem qualquer limite. A única coisa que se ouvia eram os gritos histéricos do pai e a desobediência do garoto. Depois de algum tempo, uma senhora perdeu a paciência e disse ao pai:- ” Quando ele perder o braço, o senhor chora e toma uma atitude”. Visivelmente contrariado, o pai pegou o garoto no colo e saiu da sala de espera. Parece que o efeito “tigre” está mudando alguma coisa.
blogdoamstalden
11 de agosto de 2014
Pois é Graça. Pena que isso tenha custado um braço de uma criança. Abs.
Carla Betta
6 de agosto de 2014
É bíblico. Não me recordo em que texto li, nem quem é o autor. Mas, na Bíblia está escrito que Adão e Eva foram expulsos do paraíso por terem comido a maçã. É inferência nossa o que a maçã representa, sendo normalmente vinculada à descoberta da atividade sexual. Porém, não há dúvida que a expulsão se deu por conta de uma DESOBEDIÊNCIA. A transgressão é o pecado original.
Outro galo que ouvi cantar e não sei aonde foi o caso de um casal brasileiro, residente na Alemanha, cujo filho pequeno estava sentado na frente do carro, o qual colidiu. Os pais sobreviveram, mas a criança não. Ambos sofreram as punições previstas nas leis alemãs.Por que não? Tinham ciência da lei e dos perigos ao permitirem que o filho sentasse no banco anterior.
Mal comparando, mas se um ladrão quebra a perna ao pular o muro da casa que assaltou, torna-se “menos” ladrão? Não deveria receber a sanção exigida pela lei?
Em qual zoológico desse planeta há um guarda (ou função que o substitua) em cada jaula? Perdemos de vez a noção de civilidade?
Quantos braços mais precisam ser destroçados? Quantos acidentes com motoristas embriagados? Quantos alunos desrespeitando professores e autoridades? Quantos desta profissão temendo pela integridade física?
Penso que a punição ao pai deva ser exemplar. Para que não se continue a pensar que a responsabilidade não é dos progenitores.
Anônimo
6 de agosto de 2014
Concordo plenamente com você! Abraços.
Mariana
6 de agosto de 2014
O que eu recebo de agressões quando exijo cumprimento de regras de segurança em aula prática… Cinto de segurança é um “tigre” praticamente impossível de se enxergar… Já perdi amigos (“adultos”!) porque exigi o cinto em viagens nas quais eu seria responsável… Olha um exemplo fresquinho do que pode dar o descumprimento de regras… http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/08/avo-de-crianca-atropelada-por-onibus-em-niteroi-faz-alerta-para-outras-maes.html
blogdoamstalden
11 de agosto de 2014
Mariana, fiquei curioso, você é instrutora de auto escola? Gostaria de saber mais sobre a sua experiência. Que tal escrever algo para o Blog? Abs.
Mariana
16 de agosto de 2014
Jesus! Não, mas nada é impossível 😀 A história é longa, mas trabalho com agroecologia, educação ambiental, movimentos sociais, geografia agrária… Neste momento no sudoeste de Goias, num campus avançado (bolsa acabou este mês, então próxima etapa…). Era só um exemplo, porque dou muita aula prática, e sempre dei carona…. Podia ser uso de encordamento em atividade de poda de árvores: tive um aluno que era contra o encordamento porque a árvore “tinha que ter o direito de se vingar do mal que quem estava podando fazia a ela”. JURO (pelo sarro que os alunos tiraram dele) que uma semana depois o mesmo cara me apareceu com um braço numa tipóia: tinha caído de uma árvore.
Voltando ao assunto, só vi hoje esse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=G0h0_JsyWzI). Alguém por aí tem gato? O meu quando sacode o rabo deste jeito é porque “alguém perdeu” (precisa ser o gênio da lâmpada pra sacar que isso é sinal de irritação?). Eu passei mal de nervoso assistindo (isso que já sabia que o leão não tinha feito nada pro guri)
Na boa, entendi teu ponto de vista, sou legalista também, defendo o estado de direito até o fim (e já sofri retaliações escabrosas por isso, tipo, botaram fogo na minha casa – comigo dentro-) mas euzinha não confiava uma criança na mão de um ser desses nem por ordem do Supremo, da Dilma, do Papa, podia ressucitar o Montesquieu e me provar com toda a verve do iluminismo que a lei lhe dá o direito lalalalala, não rola Luis. Acabei de descobrir um meu limite.
Fernando Prado
6 de agosto de 2014
Sem dúvida seu comentário é perfeito sem complementos parabéns pela abordagem.
Itamar Esteves
7 de agosto de 2014
Se esse senhor, tido como pai, que viu o seu filho invadir uma área proibida e praticar atos de altíssimos riscos não tiver problemas mentais, ele, além de ser o responsabilizado pelo acidente que ocasionou a mutilação do filho, deve ser processado.
blogdoamstalden
11 de agosto de 2014
Pelo menos o inquérito já foi instaurado, Itamar. Obrigado por participar. Abs