A criança e o tigre. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 6 de agosto de 2014 por

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tigre

Acompanhei pelos noticiários e pela internet o caso do garoto que teve seu braço amputado, na semana passada, depois de ter sido ferido por um tigre no zoológico de Cascavel – PR. Vi a entrevista do pai pela TV e suas tentativas de se justificar. Antes, li na internet que a mãe do garoto isentava o pai de responsabilidade e criticava o zoológico pelo fato das grades permitirem a passagem do braço da criança. Na mesma reportagem em que o pai se defendeu, seu advogado atribuiu também a responsabilidade ao zoológico, que a teria por ser “um prestador de serviços e ter que zelar pela segurança do público”. Bem, advogados estão, muitas vezes, comprometidos apenas com o cliente, e não com a justiça, daí a fala daquele que representa o pai, tentando uma transferência da responsabilidade e a isenção de seu cliente. O pior é que não é nada difícil que o pai e o advogado entrem com um pedido de indenização contra a administração do zoo.

E digo “pior” porque a meu ver, não há muito o que discutir. Foi uma displicência absurda do pai que estava por perto e, segundo testemunhas, foi alertado sobre a conduta do filho, que ultrapassara a grade de proteção e enfiava as mãos na jaula tocando os animais. Não sou advogado e, portanto, algum jurista que leia este artigo talvez discorde de mim e apresente motivos legais para a discordância. Mas, em minha visão, não há dúvidas de que o zoo não pode e não deve ser responsabilizado, ao passo em que o pai sim. Não creio que caiba alguma punição a este pai, uma vez que a amputação do filho é um prejuízo que dispensa mais repreensões, mas que ele e não o zoológico, foi responsável, isto, para mim, é claro.

Tudo isto ainda é suposição e a justiça vai apreciar o caso. O que me chamou a atenção, no entanto, é uma correlação que vejo entre o caso e o comportamento de muitos pais e mães. Ocorre que, como professor, percebo o crescimento da tendência de muitos em isentar a si mesmos da responsabilidade de acompanhar e de limitar as atitudes de suas crianças. Assim como o garoto colocou as mãos dentro da jaula, eu vejo jovens e crianças assumindo comportamentos imprudentes, agressivos e perigosos sem que seus responsáveis ajam no sentido de coibi-las, repreende-las ou mesmo castiga-las. Sim, castiga-las, já que as crianças nos desafiam de vez em quando, testando os limites. Claro que castigo não é sinônimo de agressão física, mas tampouco é sinônimo de opressão. Castigar um filho que desobedece pode ser uma forma de ensinar a ele que tudo o que fazemos traz consequências, e estas podem não ser boas. Não seria, portanto, uma maneira de causar dano para a criança, mas sim de dar a ela um exemplo prático da relação entre atitudes e consequências. Mas o que percebo é que muitos não fazem isso. Não limitam as atitudes de seus filhos, não os punem quando necessário e tampouco aceitam a responsabilidade quando algo grave acontece.

É assim quando um jovem pega um carro sem poder dirigir e causa um acidente. Os pais geralmente saem em sua defesa ou alegam que o carro foi pego sem seu conhecimento. Refutam críticas e tentam, de vez em quando, inverter a situação colocando-se como vítimas, não como responsáveis. Vejo o mesmo com atitudes como brigas e agressões feitas pelos jovens, uso de álcool e outras drogas e até mesmo com o comportamento agressivo de muitos em relação aos professores e outras autoridades. Muitos pais buscam se eximir e poupar seus filhos. Não impediram a atitude e ainda tentam transferir a responsabilidade aos outros.

No final, não vai dar certo. Um dia um “tigre” vai ser mais rápido e a criança ou o jovem perderá algo, um braço e até a vida. Quando vemos uma criança ou um jovem ultrapassando uma cerca, um limite e colocando a mão em uma jaula, seja que tipo de cerca ou jaula forem, temos que assumir a responsabilidade de tirá-los de lá, de repreendê-los e até de puni-los se for necessário. Caso contrário, um dos muitos “tigres” que fazem parte da vida, vai mostrar por que deveríamos ter feito isso.

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