Se não fosse por interesse comercial, acho que essa pessoa dificilmente seria lembrada e homenageada. Em muitas casas ele não passa de provedor. Embora haja pais maravilhosos, de modo geral, não foi para a paternidade que a maioria dos homens foi educada.
Quando criança se chegasse chorando da rua, apanhava de novo pra deixar de ser bundão – se bem que hoje pais pagam o mico de buscar satisfações. Enfiaram-lhe na cabeça que sentir e expressar emoções é coisa de gay. Deve, portanto, esconder sentimentos. Precisa competir e vencer profissionalmente. Mais importante que ser feliz, é ter sucesso. Amarelar nunca; sempre tomar a iniciativa e não perder oportunidades. Não levar desaforo para casa, proteger a família, esconder o medo, enfrentar os perigos e muitas vezes perder a vida por nada.
Desde pequeno recebe um excesso de mensagens para a masculinidade, tal o horror que se tem da homossexualidade. Pratica ou é induzido a praticar atividades que demandam força bruta para que fique evidente sua virilidade. É forçado a reprimir seu lado sensível e criativo. Seu jeito de falar, de andar, de dançar e até seus gestos são fiscalizados. Com isso perde toda a espontaneidade.
E a impotência? Esse é o grande pavor da maioria. Talvez por isso seja o Viagra um dos remédios mais vendidos. De intimidade pouco entendem porque minaram sua capacidade afetiva. Para muitos o sexo é uma forma de posse e autoafirmação. A preocupação excessiva com o desempenho pode acabar em ejaculação precoce.
Amizade feminina nem pensar, menos ainda se forem casados. Sexualmente fraco, o homem precisa ser herói para resistir aos assédios de mulheres à cata de bom patrimônio ou de quem materialize suas fantasias. Programado desde cedo a desempenhar papel de galanteador, torna-se presa de ciladas que o forçam a assumir compromissos para os quais não está preparado; isso quando não busca na parceira o colo que perdeu ou nunca teve.
Não se questiona a obrigação de o pai prover o sustento da família. Ele tem que enfrentar os piores serviços, os mais pesados e insalubres; arriscar-se nas estradas e ganhar, não raro, salários injustos. Nem sempre lhe é oferecida chance de aprender a fazer o que gosta ou lhe dê prazer. Precisa trabalhar e acabou. Se for dispensado é braço curto e se a mulher ganhar mais é tido como incompetente ou acomodado. Se fica viúvo perde o rumo. Porém, em geral morre antes, deixando a mulher livre para se repaginar e somar a pensão que deixou.
Apesar de avanços, o homem foi e continua sendo erroneamente educado – a mulher nisso tem também responsabilidade, já que desde o berço escolhe, delimita e inculca papéis femininos e masculinos; e o topete de seu machinho lhe é motivo de orgulho. Na verdade, criam seres limitados, dependentes e incapazes de exprimir o que são. Alguns encontram no álcool e outras drogas recursos para quebrar a caixa ou botar fora sentimentos entalados. Dada sua dificuldade em demonstrar ternura, barreiras são erguidas comprometendo a saúde emocional e afetiva dos filhos já que a figura paterna é indispensável e insubstituível.
Felizmente cresce o número de homens que está conseguido cuidar melhor de si e romper as algemas. Porém, muitos ainda amargarão uma velhice solitária, ouvindo dos filhos a desculpa: “Ele está sozinho porque nunca nos deu carinho e afeto”.
Evandro Mangueira
8 de agosto de 2014
O machismo é a base de todos os preconceitos. Uma pena vivermos em uma sociedade onde somos enlatados e vendidos como iguais. Muito mais importante que as semelhanças, são as diferenças, somos únicos e deveríamos agir como tais. Belo texto, bela reflexão.
Carla Betta
11 de agosto de 2014
Texto amargoooo, Totó! Verdade, é fato. Mas, é uma faceta. Apesar desses pesares, esses pais conseguem se superar, alguns superam a própria educação que os enquadra e somos surpreendidos por atitudes e comportamentos outros, aqueles que mantiveram a pose machista, muito nos ensinaram além dos preconceitos, valores como honradez, educação e respeito ao próximo.
Antonio Carlos- Totó
15 de agosto de 2014
Obrigado Carla e Evandro pelos pertinentes comentários.