O refúgio dos canalhas Por Erich Vallim Vicente

Posted on 27 de março de 2015 por

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protesto

Atribui-se ao escritor Nelson Rodrigues a célebre frase “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Que, mais a frente, Millôr Fernandes a refez, ao dizer que “no Brasil, é o primeiro”. Se no início ou no fim, todo canalha que se preza usa o patriotismo como bandeira política quando lhe faltam argumentos e lhe sobra a necessidade de criar os “inimigos”. Para pintar no quadro social o alvo a ser combatido, reúnem-se patriotas/canalhas contra o perigo da vez, que podem ser comunistas, “vermelhos”, petralhas, etc.

Só às vésperas do Golpe de 1964 – golpe, não revolução –, viu-se tanto patriotas/canalhas tão vis em trancar o debate político no Brasil como aparecem os de agora, trajados em “apartidários” e “espontâneos”. Quando a pátria torna-se ideologia é justamente quando não há uma proposta clara sobre o que, de fato, precisa ser feito no País. Há 50 anos, por exemplo, era evidente que o Comunismo era bem menos perigoso do que, como se provou depois (e ainda hoje), a corrupção que grassou e endividou o Brasil.

As vozes de patriotas/canalhas de duas semanas atrás deixaram um rastro de ódio e um vazio de pautas políticas. As encenações daquela “brava gente brasileira”, que cantou a capela o Hino Nacional, estão sendo sucedidas de uma clara mudez de sentido político. O pacote anticorrupção levado ao Congresso Nacional pela presidente Dilma Rousseff – a única tentativa de combater a corrupção além de apelos éticos –, parece ser, para eles, uma bola oval sendo usada em um jogo de futebol (bretão, não o ianque).

Impossibilitado legal e politicamente, nem mesmo a tentativa pelo Impeachment da presidente Dilma Rousseff ganhou evidência após as quase 12 horas de transmissão ininterrupta da GloboNews de patriotas/canalhas pedindo a saída da mandatária da Nação. Pior ainda, os berros por intervenção militar, que, além de totalmente ilegais, chegaram a assustar até os próprios comentaristas televisivos, tamanha incidência e constância durante a farsa de 15 de Março.

Novamente, está sendo organizado uma nova mobilização, agora para 12 de Abril. Que ao invés de patriotas/canalhas esse novo ato traga ao País propostas de soluções políticas viáveis e necessárias à modernização do Estado brasileiro. Que os patriotas/canalhas sejam uma minoria incapaz de lidar com a realidade de uma sociedade que precisa ir além de querelas antiquadas e ultrapassadas, sem pé nem cabeça. E que os canalhas fiquem cada vez mais solitários e desprezados no refúgio que merecem.

Erich Vallim Vicente, 33, jornalista, editor-chefe de A Tribuna Piracicabana. Texto originalmente publicado em www.tribunatp.com.br.

 

 

OLHO:

Só às vésperas do Golpe de 1964 – golpe, não revolução –, viu-se tanto patriotas/canalhas

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