O destino do nicho político. Por Erich Vallim Vicente

Posted on 16 de abril de 2015 por

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Quem não se recorda do intempestivo, mas carismático, Enéas Carneiro (Prona). Quando disputou as eleições presidenciais em 1989, o matemático inventou um estilo de campanha. Com poucos segundos no Horário Eleitoral Gratuito, dizia muito, numa voz rouca quase ininteligível, e terminava com o que viria a se tornar um clássico do marketing político, “meu nome é Enéas”. De piada, em 1989, quatro anos mais tarde, Enéas surpreendeu, ficou à frente de políticos como os ex-governadores Leonel Brizola (PDT) e Orestes Quércia (PMDB).

Além de fenômeno midiático, Enéas também trouxe ao cenário político-eleitoral brasileiro o tipo de figura controversa. Ao mesmo tempo em que defendia a nacionalização do minério brasileiro – em contraposição à privatização da Vale do Rio Doce – era ferrenho opositor do aborto e do casamento entre pessoas de mesmo sexo. Não era fácil engolir o fundador do Prona (partido que, fundido ao PL, tornou-se o atual Partido da República, o PR), mas acontece que Enéas criou, depois da abertura democrática, uma política baseada em nicho de discurso.

O nicho de Enéas foi instaurado no Congresso Nacional, em 2002, quando, candidato a deputado federal, obteve 1,5 milhão de votos e, amparado no sistema de proporcionalidade de formação do legislativo brasileiro, levou com ele outros cinco deputados, formando uma bancada de seis parlamentares. Falecido em 2007, este acreano que chegou a sugerir a fabricação da bomba atômica e do aumento do efetivo militar deixou história (mais para o mal do que para o bem).

Mas qual o motivo de trazer à baila a memória de Enéas Carneiro? A partir deste histórico, é possível entender os limites destes nichos ideológicos, como, neste domingo (12), demonstrou ser a segunda manifestação, em menos de dois meses, pedindo o Impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e, ainda muito evidente mesmo baseado em ilegalidade, a intervenção militar no País.

O aspecto mais evidente de que esta manifestação é voltada a um nicho político, e não se trata de algo substancialmente capaz de envolver a complexidade de diferenças e interesses brasileiros, está na louvação em torno do discurso fácil e estreito do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). O parlamentar carioca deita em berços esplendidos entre os extremistas. E, como o PSDB tem observado ser impossível assumir a frente desta movimentação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já sugere que o partido “se desligue” dos organizadores.

A tendência, demonstrada neste domingo (12), é de que o discurso perca força, primeiro, porque não tem qualidade política, nem tem direcionamento; e, em segundo lugar, no plano institucional, não passará de alguns “novos Enéas” que tentam captar pequenos grupelhos em torno de ideias dispersas e sem pé, nem cabeça. O tucanato já começa a perceber que não é o representante de quem vai nestas manifestações, embora a maioria tenha votado em Aécio Neves (PSDB). Está cada vez mais evidente, portanto, que o extremismo tem pernas curtas.

Pode ser doído aos manifestantes mais afoitos, mas o tal “fora-o-que-está-aí” não funciona, não cria debate político, a não ser um bando de aloprados (estes, sim!) repetindo palavras de ordem apenas em torno da figura da presidente, poupando o Congresso Nacional e a classe política em si, que deita e rola na aprovação de leis como a 4330, que libera a terceirização e derruba direitos trabalhistas. A brincadeira fascista chegou no limite neste domingo (12) e, agora, a tendência é tornar o que deve ser: apenas uma piada política que só uma dúzia acha graça.

Erich Vallim Vicente, 33, jornalista, editor-chefe de A Tribuna Piracicabana. Texto originalmente publicado em www.tribunatp.com.br.

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