A julgar pela mídia, há pouco tempo fomos “guindados” para a categoria de “país do surfe”, desde que um brasileiro venceu um campeonato mundial neste esporte. Bem, já fomos o país do futebol (não sei se ainda somos depois do 7×1 da última copa…), já fomos o país do vôlei, da fórmula um e agora, do surfe… Mas do Prêmio Nobel não… isso não somos. A Argentina é, a Colômbia é, o Peru, a Guatemala, a África do Sul, o Egito, o México, a Nigéria e a Índia são, dentre muitos outros, mas o Brasil não. E olhe que alguns destes países são muito menores e mais pobres do que o nosso. Não sei se eles têm campeões de surfe, mas têm prêmios Nobel de ciências, literatura, paz. Ok, podemos argumentar que o Nobel nem sempre tem critérios muito compreensíveis aos leigos para suas escolhas. Mas se formos comparar outros índices relativos a educação e cultura, não encontraremos dados mais animadores.
Será que, como ainda pensam alguns, isso se deve à falta de capacidade e inteligência do brasileiro? Será que, como quer o senso comum, somos hábeis apenas com os pés e não com a cabeça? Eu duvido. Um país continental, com uma grande população como o nosso, tem sim muita gente capaz de grandes feitos científicos e sociais. Faltam outras coisas, o que não acontece com o futebol. Em qualquer lugar encontra-se uma quadra, um campo de futebol, bolas e, ainda que muitos sejam precários, os lugares são compensados pela valorização cultural de pelo menos este esporte. Já boas escolas não são tão comuns, como sabemos, mas penso que há uma outra questão.
Parece-me que além da falta de investimentos e interesse governamental em educação (que estamos cansados de conhecer e que é um projeto político – afinal gente pouco educada não pensa e não exige direitos) existe um outro fenômeno para ajudar a entender nosso atraso cultural. Ocorre que não valorizamos os estudos e a cultura. Explico-me: veneramos ídolos esportivos, matamos e morremos por times de futebol, mas não temos o mesmo apreço coletivo pela cultura e pela educação. Já ouvi tantas vezes que “professor não trabalha”, o que significa que trabalho é outra coisa que não ensinar. Já ouvi que era “fácil dar aulas, o difícil era pegar na enxada” e outras coisas afins, que tenho muito forte esta ideia de que nosso povo, salvo honrosas exceções, não valoriza o estudo. Não foi Paulo Maluf, por exemplo, que declarou certa vez que as professoras de São Paulo reclamavam dos salários porque eram mal casadas?
Talvez eu esteja errado e, de fato, não posso afirmar que minha impressão tenha valor científico. Não pesquiso a área. Mas como professor é essa a sensação que tenho. De que preferimos outras coisas ao invés do conhecimento. Recentemente eu fazia uma revisão para uma turma de faculdade às vésperas de uma prova. Nestes dias não faço chamada e digo que a presença é voluntária, que ficam aqueles que realmente querem rever a matéria. Uma garota, que faz minha disciplina pela segunda ou terceira vez, passou os primeiros quinze minutos deitada na carteira. Depois se aprumou e começou a acessar uma rede social no smartphone. Eu não disse nada, mesmo quando ela saiu da frente, onde se sentava, e foi colocar o aparelho para carregar em uma tomada. Mas então ela me interpela e diz que eu preciso “ajudar a turma, porque só aceito respostas do meu jeito…”. Não é isso que penso fazer, mas o que eu poderia responder a alguém que na revisão olhava para o facebook? Ela não quer aprender. Quer só o diploma. Esta é a visão que a grande maioria dos alunos têm da escola: uma dispensadora de certificados. É a mesma visão que muitas escolas têm de si, só que dispensam o diploma mediante pagamento. Como vou explicar para aquela aluna que só o diploma não significa nada e que o que ela precisa é conhecimento, educação? Caso isolado? Não, infelizmente. Vejo muitos outros, demais, aliás.
Tenho todo respeito pelos esportes e pelos benefícios que eles trazem, inclusive quando levam jovens a se educar, como é o caso de alguns que se fixam nos estudos iniciando pelo esporte. Mas competições internacionais são apenas espetáculos pagos e taças de jogos não geram tecnologia, conhecimento e nem cidadania. Educação gera tudo isso. Mas nós preferimos ser o pais do surfe…
Posted on 15 de abril de 2015 por blogdoamstalden
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