Um Desafio Público. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 20 de abril de 2016 por

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raquel muniz

Nesta semana, neste blog e em redes sociais, fui chamado alternadamente de fascista e judeu comunista (uau, o antissemitismo no Brasil…  e eu nem sou judeu…). O clima está tão tenso e irritado, tão passional, que eu me sinto na Europa na década de 30, ou se é fascista ou stalinista…

Há momentos em que penso em simplesmente ficar quieto. Porém, eu me propus há muitos anos, a um tipo de papel político. Não o de candidato ou de assumir um cargo eletivo, mas o de professor. O de alguém que tenta suscitar a reflexão, o debate o que, a meu ver, são as condições para a cidadania e para a democracia. Isso foi decidido em minha vida quando li um livro de um sociólogo genial, mas isso é outra história.

O fato é que até este Blog é fruto do papel político que escolhi e, sendo assim, não posso, sob pena de esvaziar um dos sentidos que atribuí à minha vida, simplesmente ficar quieto. E por isso, retomo as questões que tem levado tanta gente a me criticar.

Em primeiro lugar, devo dizer que em minha opinião, já não havia um governo do PT há tempos. Quem assistiu à votação e acompanhou a fala dos deputados, deve ter percebido a estupidez que nos governa. O tipo de aberração intelectual e política que está no Congresso. Alguém viu aquela deputada perua cujo marido foi preso dois dias depois? Bom, é por aí… São eles que estão no poder. E com este congresso, Dilma não governa. Teve e tem que fazer tantas concessões que perdeu o poder, com ou sem impeachment. Tantas concessões, que Katia Abreu é ministra da agricultura. Alguém acha que ela é de esquerda ou está preocupada com o meio ambiente? Para quem diz que eu defendo o retrocesso ou sou conivente com ele, pergunto qual é o avanço atual? A meu ver, já retrocedemos faz tempo.

Em segundo lugar, devo dizer que não defendo incondicionalmente partido, político ou líder nenhum. Não acredito neles porque a tendência é que sempre girem em torno de seus interesses próprios, seja um partido ou uma pessoa. Só existe uma forma, em minha opinião, dos líderes e partidos serem “bons” Essa forma é o controle social. Ou seja, uma população capaz de participar da política coletivamente, seja capaz de cobrar e pressionar seus políticos e partidos, seja nas ruas, seja pela internet ou juridicamente. Essa é a única maneira. A única democracia. Quem acredita que um líder ou partido, seja de esquerda ou direita, religiosos ou ateu, machista ou feminista, vai por si só combater nossas causas, está enganado. Eles só o farão se pressionados a isso. Cabe a nós pressioná-los.

Em terceiro, penso que o PT errou sim. Tem responsabilidade sim nos escândalos recentes. O pedido de impeachment foi ilegítimo. Já argumentei que “pedaladas fiscais” não são, a meu ver, motivo. Mas, se eu acredito que eles erraram em outras coisas, não posso sair para as ruas defendendo o PT. Lamento, mas não posso. Ao contrário, o que eu posso fazer e quero, é aproveitar o momento para levantar outra discussão. A de que se há tanta indignação com a corrupção, então devemos avançar. Devemos aproveitar esse momento de mobilização e pedir mais. Pedir a cabeça dos demais partidos, dos demais políticos. Isso inclui todos eles, inclusive o PSDB que notadamente também tem pendências sérias mas não é tão pressionado pela mídia e não conta com tanto empenho do judiciário. Também é o momento de cobrarmos outras instituições. Se a FIESP apoia aqueles que lutam contra a corrupção, então que apoie TODOS eles, inclusive cobrando seus próprios filiados para que se expliquem. Afinal, não há corrupção unilateral. Se a grande mídia foi implacável com os escândalos do PT, então devemos cobrá-la para que o seja com todos os demais. E o mesmo vale para o judiciário. O Judiciário deve ser imparcial, inclusive na hora de divulgar grampos telefônicos porque o “povo tem direito de saber quem os governa”. Neste sentido tenho que concordar com Moro. Temos este direito, mas em relação a TODOS.

Em quarto lugar, se então há tanta gente, seja de direita ou esquerda, disposta a “limpar o Brasil”, acredito que antes de nos digladiarmos, o que de resto é muito útil aos políticos atuais, devemos nos unir neste ponto em comum. Somos contra a corrupção, queremos o fim dela e queremos a justiça e a democracia. Logo temos mais a nos unir do que a separar. É por isso que lanço um convite que é ao mesmo tempo um desafio. Se você está de fato defendendo a honestidade e a democracia, então vamos nos encontrar amanhã, as 16:30 horas, no Largo do Pescador em Piracicaba e conversar sobre isso. Sobre como podemos de fato ajudar a criar o controle social, a única forma de tornar a democracia real. Claro, se você defende Bolsonaro, então deve ter em consideração que ele não é um democrata e assim talvez a sua convicção não seja a mesma que a de quem estou esperando encontrar…

Por último, permitam-me um pequeno desabafo. Não sou candidato a nada, não sou filiado a nenhum partido e não estou tentando me aproveitar do momento para uma campanha. Tento pensar com minha própria cabeça e ser fiel aos meus próprios princípios, e não me abstenho de correr riscos quando necessário. Já paguei um alto preço profissional por ser coerente e agir como tal, já fui ameaçado de morte duas vezes por lutar contra um assassino de mulheres abastado e já me interpus entre a polícia e provocadores que tentavam (e depois conseguiram) deslegitimar a grande manifestação de 2013 em Piracicaba. Você tem todo o direito de não concordar comigo, mas não o tem de julgar minhas atitudes e pensamentos apenas por aquilo que você acredita que eu deveria fazer. Por favor, reflita um pouco nisso antes de me chamar de fascista ou stalinista ou de me acusar de ter “marchado de mão dada com fascista”, “ficado em cima do muro” ou ainda de “ter cruzado os meus braços”. Da próxima vez que eu ouvir isso, vou realmente me aborrecer e querer saber o que VOCÊ fez ou faz…

PS: a foto acima é da deputada Raquel Muniz, que votou pelo impeachment em nome da honestidade e cujo marido, prefeito de Montes Claros, MG, foi preso dois dias depois por prejudicar o hospital público da cidade para beneficiar o hospital privado da família…