Anotações sobre a Crise. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 13 de maio de 2016 por

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temer

Poucas vezes escrevi tão sem expectativa de ser lido e principalmente entendido. As pessoas continuam fechadas em opiniões monolíticas, sem ouvir e sem ponderar. E não vejo isso mudando a curto prazo. Mesmo assim escrevo, e publico, por coerência própria, para manter meu raciocínio e minhas ideias registradas.

 

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Ontem,  na TV Cultura, assisti às  repetitivas propagandas do PSDB. Aécio Neves falando em um novo tempo e em reconciliação. Em virar a página e começar de novo. O que ele quer dizer? Que a Lava Jato acabou? Que não há mais nada a ser investigado? Que a corrupção no Brasil foi superada? Ele próprio, assim como Temer e muitos outros do atual governo, estão citados na Lava Jato e em outras investigações. Mas para ele, assim como para o PSDB, agora precisa acabar… Em nome de uma “governabilidade” e do “fim da crise”, os casos de corrupção vão ser esquecidos. “Vamos nos unir…” Unir na amnésia, na seletividade da indignação. Vamos “virar a página”. Mas a próxima página promete mais do mesmo. Mais corrupção, mais impunidade, mais preservação dos velhos privilégios políticos e manutenção do poder aos velhos senhores feudais. Sarney Filho já é ministro e por aí vai. O clã Sarney que está no poder desde a ditadura, continua lá.

 

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Ah sim… claro. Agora a crise econômica acaba. Acaba? É assim tão simples? Temer vai, por decreto, reverter o desemprego? Vai aumentar o interesse pelos produtos brasileiros no mundo por medida provisória? Vai enxugar a máquina pública? Nem esta última medida. Com tantos novos aliados a serem contemplados, a redução de cargos será só aparente. E todos aqueles geniais deputados, muitos dos quais também investigados por corrupção e outros crimes, vão exigir suas fatias no poder e a liberação de emendas orçamentárias generosas. A redução, se ocorrer, será na Educação ( que ninguém valoriza, nem os estudantes) e em outros serviços públicos que, de quebra, serão depois privatizados ou “flexibilizados” ao mercado. Bem oportuno.

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Quanto ao PT.. Bem, Dilma diz que vai resistir, que vai lutar. Mas os sites de notícias anunciam que o PT já a coloca de escanteio e se volta para Lula e para seu lançamento como candidato em 2018. Puro pragmatismo. Não importa, ou parece não importar, se o processo foi mesmo legítimo (legal foi, mas não legítimo, como já atestou Joaquim Barbosa), no entanto, a legitimidade não parece ser o mais importante, e sim o poder, Mesmo que para isso seja necessário, de novo, apertar as mãos de Collor e Maluf, que diga-se de passagem, votaram pelo impeachment. Mas tudo bem. Eles tem seu preço, assim como os Sarney, os Tiririca e aquela fauna no Congresso. Claro, Tiririca é mais barato, mas mais barata ainda parece ser a ideia de poder legítimo. O que importa é o poder…

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Se legitimidade parece ter se tornado “mercadoria” barata para o PT, há uma outra que é escassa. A auto crítica. Agora seria um bom momento para o PT, ainda que internamente, se revisitasse. Se reinventasse. Mas não me parece que vá por aí. Faz tempo, muito tempo que a arrogância é majoritária nos quadros do partido. Também faz tempo que a máxima política de Maquiavel, os fins justificam os meios, tomou conta do partido. Na minha humilde opinião, os meios se tornam os fins…. Mas… mas isso não importa a praticamente ninguém, afinal.

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Nas redes sociais, este espaço virtual onde todos se expressam, meus amigos se digladiam. Muitos me excluem, claro, tanto de um lado quanto de outro. E muitos reproduzem argumentos pré-fabricados de ambos os lados. O que a maioria parece não perceber é que, se de fato houve um movimento nas ruas contra a velha e incapacitante doença da corrupção no Brasil, então deveria se continuar. O que não percebem é que, malgrado as diferenças de opinião e tendência política, ninguém é beneficiado pela corrupção, a não ser os grandes corruptos. E combate-la significa de fato ajudar a criar um novos pais, que funcione e que possa crescer. Corrupção é câncer, seja da esquerda ou da direita. E só se acaba com esse câncer com o controle social, com a população controlando de fato os políticos, seja por vias legais, seja por manifestações físicas ou escritas.

No entanto perde-se um tempo enorme em ofensas mútuas aqui “em baixo”, enquanto “lá em cima” já se fala em virar a página. E temo que tal página seja virada de ambos os lados da contenda política. Mas não para nós, aqui “em baixo”…

 

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770891-pmdb-deve-tentar-neutralizar-ou-reduzir-os-danos-da-lava-jato.shtml

http://atarde.uol.com.br/economia/noticias/1770437-governo-quer-permissao-para-rombo-fiscal-maior

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1770881-pt-busca-lula-e-dilma-deve-viver-exilio-interno.shtml

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