A pergunta de Natal. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 21 de dezembro de 2017 por

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Por esses dias, uma menina me disse: “Eu vou ganhar presente, mas, sabe o que eu não entendo? Se o aniversário é de Jesus, porque nós é que ganhamos presentes?

Ela já está se tornando mocinha, mas ainda tem o coração de criança, o que é muito precioso. E eu fiquei tão surpreso com a pergunta, que não consegui dar uma boa resposta. Tento por aqui, agora.

Gigi, nós ganhamos presentes e não Jesus, porque somos egoístas. Porque vemos no cristianismo e na mensagem de Jesus, aquilo que queremos ver, e não necessariamente o que está nos Evangelhos. Assim, trocamos presentes, ficamos bravos secreta ou abertamente quando não os ganhamos ou ganhamos algo de que não gostamos, e nos esquecemos do sentido do Natal.

Nós tornamos o Natal uma festa de frustrações, na qual os pobres, que não podem comer coisas finas ou presentear seus filhos, sofrem mais intensamente do que no restante do ano. Nós tornamos o Natal uma festa de comer e beber, onde nos empanturramos e nos embebedamos desprezando até nosso bem estar depois. Nós tornamos o Natal uma festa desprovida de um significado mais intenso, mais profundo.

Nos esquecemos ou não queremos pensar que, Cristo, nasceu em um estábulo, pobre, rodeado de animais e pastores pobres. Nasceu longe de casa, em terra estranha e não foi aceito nas estalagens, tendo que nascer quase ao relento. Muitos não acreditam que isso tenha realmente acontecido. Mas, quer saber? A mim não importa. O que importa é a mensagem que está nessa forma como acreditamos que Ele nasceu. Pobre, dentre os pobres, frágil e sem lar. E, diz a história, assim ele viveu ainda, até o fim, pobre dentre os pobres, falando do amor, da paz, da solidariedade e da justiça. Mas nós, nós nos esquecemos disso, assim como nos esquecemos de tantas coisas, perdidos em nosso egoísmo e em um mundo que prega e vive o individualismo e o narcisismo, a vaidade.

Mas sabe? Não precisa ser assim. Há um outro Natal que podemos viver. Um Natal mais “rico”, no sentido da “riqueza” de Jesus.

Você pode sim, ganhar algum presente, comer bem e ficar feliz no Natal. Na verdade, Jesus não precisa de presentes. Mas, aqueles que ele defendeu, os pobres, os fracos, os doentes, os solitários, os idosos, esses precisam. E não necessariamente de um presente material, comprado. Eles precisam do seu amor, do seu carinho, da sua solidariedade.

Gigi, não há nada mais bonito do que ver, no olhar de alguém que ajudamos, o alívio de ter ajuda, o alívio de se sentir amparado. Eu vi esse olhar muitas vezes, mas muito menos do que deveria, confesso. E posso lhe garantir, isso é o que nos dá a maior alegria do mundo. Mesmo para aqueles que não são cristãos, mas acreditam no bem, no amor e na compaixão e na justiça, não há nada melhor do que um olhar de gratidão de quem ajudamos, mesmo o olhar de gratidão de um pequeno animal que salvamos.

Neste Natal, Gigi, ganhe o seu presente, como eu disse, e não precisa se preocupar em presentear Jesus. Mas, Gigi, faça algo que Ele faria, Dê algo que alguém necessita muito, mesmo que seja um abraço, um sorriso, uma palavra de alento, de consolo. Dê algo a quem tem fome e tome o partido da justiça, sempre. Neste Natal, Gigi, descubra o verdadeiro significado da festa, o nascimento do amor e da esperança contra toda a lógica egoísta dos mais poderosos.

E não se importe se parecer pouco o que você fizer. Na escuridão, até mesmo uma vela bem pequenina, gera uma grande luz.

Comemore o “nascimento” dessa luz, deixe-a nascer em seu coração e cultive-a por toda a sua vida. E você será, Gigi, muito mais feliz do que poderia imaginar.

Feliz Natal, de verdade, minha querida.

E Feliz Natal verdadeiro a todos que lerem esse texto.

Luis Fernando Amstalden

Dedicado à Giovana Ferraz Perpétuo Libardi, que me fez a pergunta crucial.

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