Eu já havia caminhado muito e ainda havia mais à frente. Mais coisas a fazer, pacotes a carregar além dos que levava. Cansado, sentei-me em um banco, de alguns que existem na rua principal de minha cidade.
O corpo descansava, mas não a mente. Ainda tanto a fazer… tanto a caminhar… tanto a carregar.
Foi então que ele se aproximou do banco onde eu estava. Com o celular na mão, falava com alguém. Um sorriso branco enorme contrastando com sua pele bem negra.
Sorrindo aberto, fez um sinal para mim, indicando se podia sentar-se.
Assenti e ele se acomodou, falando sem parar com alguém.
Não consegui reconhecer a língua. Acho que era do Haiti, porque consegui entender algumas palavras que pareciam francês. Lá eles falam dialetos que misturam francês com línguas africanas. Mas, talvez ele fosse africano de algum país de colonização francesa.
Eu não sei de onde ele era.
O que sei, é que ele falava com alegria e ternura. Como se estivesse recebendo uma ligação de alguém que ama e que está longe.
Quem seria? Sua mãe, seu pai, um parente, um amigo?
Acho que era uma namorada…
Sim. Era o mesmo tom que alguém apaixonado usaria.
Era o mesmo tom que eu usava quando me apaixonei. Quando recebia uma ligação inesperada da amada que estava longe…
Era o mesmo sorriso largo, feliz, que eu também estampava no rosto, embora o dele fosse mais bonito e brilhante.
Fiquei ali por algum tempo, ouvindo as palavras cujo significado não entendia, mas cujo tom feliz e cheio de ternura, eu já usei também…
Resolvi deixa-lo em sua conversa.
Apanhei minhas sacolas e retomei meu caminho.
Ainda há tanta distância a ser percorrida, tantos afazeres, tantas cargas a carregar…
Mas agora minha carga estava mais leve e a distância a ser percorrida me parecia menor.
Caminhei assobiando uma música qualquer. Caminhei relembrado do amor por um sorriso.
O sorrido do estrangeiro.
Ondas Curtas. O sorriso do estrangeiro. Por Luis Fernando Amstalden
Posted in: Ondas Curtas
Posted on 5 de abril de 2019 por blogdoamstalden
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