
Fonte: Facebook de Alexandre Neder
Eu o conheci em um restaurante simples, onde eu almoçava frequentemente. Fomos apresentados por seu filho, meu amigo, Alexandre Neder.
Naquele restaurante almoçamos várias vezes juntos e “esticamos” longamente a conversa com café na mesa. Dr. Neder era um homem de conversa fluída, agradável e divertida, mas uma conversa culta e profunda, que eu apreciava e admirava.
Falávamos de muitas coisas: livros, ideias, ciência, vida, história e o passado de nossa cidade. Foi em uma destas conversas que ele me contou da morte de seu pai, no trágico desabamento do edifício COMURBA, que abalou nossa cidade de Piracicaba em 1964. Contou-me também vários casos daquele acontecimento funesto.
Um dia, em uma das conversas, acabamos por falar da existência ou não da vida pós morte. E ele, com uma tranquilidade impressionante, disse:
¬_A vida após a morte existe. A prova está em casa. A prova escrita…
Fiquei curioso. Dr. Neder era um professor universitário de renome, cientista, doutor. Claro que muitos cientistas acreditam na vida pós morte. Mas cientistas são pessoas acostumadas a evidências, logo suas ideias me interessam muito.
Perguntei-lhe que “prova escrita” era essa. E ele contou-me a seguinte história:
Algum tempo após a morte de seu pai, no desabamento do prédio, Dr. Neder, que tinha pouco tempo de casado, procurava por um documento importante que o pai deixara. Mas por mais que revirassem a casa, nada de encontrar. Aquilo estava ficando sério, o papel era fundamental para resolver problemas burocráticos que a morte abruta do pai trouxera.
Nesse meio tempo, sua jovem cunhada que vivia na cidade de São Paulo, veio visitar a mãe, sogra do Dr. Neder, que vivia a duas quadras dele. A moça não sabia nada do tal documento nem da busca por ele. Chegou um dia a tardezinha, quase noite, e não falou com a irmã ou com o cunhado.
No dia seguinte, bem cedo, ainda meio escuro, alguém bateu à porta com urgência. Ao abrir , Dr. Neder deu com sua sogra que insistia para que ele fosse à casa dela, pois sua cunhada estava muito assustada e dizia que precisava vê-lo. Estranhando, mas cedendo à insistência da sogra, ele foi até a cunhada.
Encontrou a moça aos prantos, dizendo que sonhara com o pai dele. E no sonho, muito vívido e assustador para ela, o pai mandava que ela avisasse o filho de que o documento que ele procurava havia caído atrás de uma escrivaninha, que ficava no porão da casa, encaixada em um nicho na parede.
Voltando, arrastou a escrivaninha e lá estava, preso entre o móvel e a parede, o documento tão necessário.
Essa era a “prova por escrito” que ele tinha da existência de uma outra vida, uma vida após essa que é tão efêmera. Uma vida que comprova que a riqueza de nossa breve estada nessa terra não seria um acaso quântico sem sentido, mas plena de um devir.
Na época eu pedi permissão para escrever esta história e ele concordou de pronto. Mas eu não o fiz, assim como protelamos tantas coisas. E me arrependi, porque queria que ele a lesse. E queria que tivesse ficado melhor do que está agora…
Ontem Dr. Neder se foi. Um dia depois da festa de S. João, padroeiro de nossa confraria. E eu não posso mostrar este texto a ele.
Voltando de seu velório, caminhando em um vento quente, em um inverno quente de tempos de aquecimento global, eu senti um misto de tristeza e esperança.
Tristeza porque não o encontrarei mais por aqui. Mas esperança e até alegria, porque ele se foi com a serenidade de que tinha uma “prova escrita” de que essa vida tem mais sentido do que nos diz a ciência e a estupidez humana, que ameaça não só a sua própria mas toda a vida na
Terra, que é tão preciosa.
A “prova” está lá, na casa da família do Dr. Neder.
“Prova por escrito”…
Em memória do Prof. Dr. Antônio Carlos Neder,
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Ediléia
26 de junho de 2019
Palavras muito bonitas sobre uma experiência única… Tenho certeza que essa prova existe tanto para ele como para muitas outras pessoas… Felicidade para você que o teve como amigo… Não sei se acredito mas também não duvido.. Cada um tem sua certeza e sua opinião.
blogdoamstalden
26 de junho de 2019
Para mim é mais uma questão de esperança. Obrigado por comentar