QUE LIÇÃO! Por Victor Fernandes (Mandi)

Posted on 16 de julho de 2019 por

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Pouco antes das eleições do ano passado eu vi, pela TV, uma entrevista com a Tabata Amaral. Gostei muito da jovem e de toda sua trajetória bonita. Logo depois, vim a saber que ela seria candidata a deputada federal. Assim, decidi conhecê-la melhor e, juntamente com alguns amigos, especialmente o professor Luis Fernando Ferraz Amstalden, organizei sua vinda para Piracicaba para que ela pudesse fazer campanha em minha cidade.
Nesta visita, Tabata se portou de maneira simples, aberta e inspiradora, principalmente para os jovens para quem ela deu palestras. Falou sobre uma sociedade mais justa, solidária, onde todos, independentemente de sua origem e classe social, pudessem também ter e alcançar seus sonhos. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o seu discurso em como construir um “mandato em conjunto”, onde a participação e diálogos com seus eleitores seriam constantes e teriam um papel privilegiado. Seria realmente o “construir juntos”, onde representante e representados trabalhariam em união. Ela também pontuou prometendo a realizar gabinetes itinerantes em cada cidade do estado, visando uma uma linha de comunicação efetiva e próxima entre nós cidadãos e sua atuação no congresso.
Para melhorar ainda mais minha inclinação em apoiá-la, ela era filiada ao PDT, um partido que teve e tem um plano claro e robusto de nacional desenvolvimentismo para o Brasil, com um viés ideológico trabalhista extremamente respeitável, defendido por ícones da política nacional como Leonel Brizola, Darcy Ribeiro e, atualmente, por Ciro Gomes. Este que, aliás, recrutou a moça para o partido.
Pois bem, tendo em vista todos estes conjuntos de fatores eu realmente acreditei e indiquei a Tábata para os meus amigos (conforme o post que compartilho).
Decepcionei-me!
Não me vergonho, pois não demonizo a política ou os políticos, como muitos o fazem.
A política é feita por pessoas, todas as nossas relações são feitas por pessoas. Então, eu realmente acho que um dos caminhos para melhorar nossas vidas e nossas condições de existência passa pelas nossas relações com as pessoas e, por consequência, pela política.
Obviamente eu sei que a classe política tem, de maneira geral, nos decepcionado muito. Porém, deixar de acreditar nas pessoas é perder um pouco de nossa humanidade. Devemos sempre evitar ser ingênuos, mas, mesmo assim, estaremos sujeitos a decepções.
Pois bem, ao votar favoravelmente pela reforma da previdência Tabata Amaral traiu suas promessas e seus eleitores. Explico o porquê:
1- O mandato eletivo não é uma carta branca que os representantes dão para um parlamentar que permite que ele vote como bem entender (ou, nas palavras da deputada ao justificar o seu voto, conforme suas “convicções”). Isto porque, o verdadeiro dono do mandato são os eleitores. Assim, se a base eleitoral da Tabata apontou claramente sua oposição a esta reforma, a deputada não poderia votar contra os verdadeiros donos do mandato. Então, Tabata ao contrariar a vontade e posicionamento dos seus eleitores, votando por sua convicção individual, foi arrogante e antidemocrática.
Alguns me disseram que é antidemocrático exigir que ela vote de tal forma ou de outra. Para estes eu digo que antidemocrático é votar contra a vontade daqueles que a elegeram.
Você que está lendo pode ser favorável à reforma da previdência tal qual ela foi aprovada, e está tudo bem quanto a isso. Não estou debatendo a reforma da previdência aqui, mas sim, que a deputada que indiquei, mesmo individualmente achando que seria melhor aprovar esta reforma, não poderia fazer isso, pois ela é apenas uma representante dos seus eleitores, e foi posta lá para defender uma proposta bastante diferente (a que foi defendida em campanha pelo PDT, através de Ciro Gomes).
2- Outra traição foi ter prometido em campanha fazer um “mandato em conjunto”, e depois de eleita não ter nos escutado, não ter se posicionado até poucos minutos antes da votação. O canal de comunicação não existiu para esta questão, contrariando, assim, sua promessa
3- Por fim, houve a traição partidária, que também é muito séria. Os partidos podem estar desacreditados, porém, uma instituição partidária, por ser formado por um conjunto de pessoas, se sobrepõe a vontade individual de uma pessoa singular.
O PDT tem toda uma história na defesa dos mais vulneráveis, seus ideais vem desde o nacional desenvolvimentismo de Getúlio Vargas, passando pelas reforma de base de João Goulart. O PDT tem uma ideologia enraizada, ideologia que deve ser entendida por um conjunto de crenças e valores inegociáveis. Por isto, Tabata e outros que votaram favoravelmente não poderiam ter votado contra as estrutura basilares do partido que escolheram para atuar.
Não se pode fazer de um partido uma incubadora para galgar cargos eletivos. Vale frisar que em março deste ano o PDT fez uma Convenção Nacional, onde 550 membros fecharam questão contra a reforma da previdência, de forma unânime, inclusive com o voto da Tabata Amaral. No entanto, no dia da votação Tabata votou contra a convenção nacional do partido.
Torço para que tudo não passe de um erro ou imaturidade política da moça (duvido que seja apenas isso). Porém, minha confiança e apoio ela não tem mais.
Por fim, rogo para que, mesmo diante das decepções, todos sigamos acreditando nas pessoas, preservando nossa humanidade e objetivando a construção de um país e um mundo melhor.

Victor Fernandes (Mandi). Sociólogo e Advogado.

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