MMonark, Katagiri e Olavo de Carvalho. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 9 de fevereiro de 2022 por

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Monark não sabe muito sobre o nazismo. Aliás, ele não sabe muito da maioria das coisas sobre as quais falava no Flow  Podcast. Eu já havia percebido isso nos dois únicos episódios de seu programa que ouvi antes. Com um ar blasé, cara de moleque irreverente que se recusa a crescer e a empáfia de quem tem milhões de seguidores por falar de vídeo games, ele já havia criado episódios que seriam motivo para que sentisse vergonha, mas ao contrário, acabava ganhando mais seguidores por ter “ coragem de dizer o que pensa”.

Mas o que ele não sabe é que existe uma diferença entre “dizer o que se pensa” e “dizer o que se sabe”.

Ele não sabe, por exemplo, que o nazismo não é só um “partido” mas uma proposta de superioridade totalitária no qual uma pretensa superioridade racial daria a um grupo, o direito de dominar, escravizar e matar as outras “raças”. Ele não sabe que ele próprio, cujo sobrenome, se não me falha a etimologia, é árabe e, portanto, semita,  valeria a ele a exclusão de qualquer direito em uma sociedade nazista, inclusive o direito a vida.

Ele não sabe que sob o nazismo ele não teria programa e nem direito a “opinião” ou mesmo “pensamento” fora daquela do partido. Não sabe que seu programa não existiria ou existiria apenas se fosse nazista, caso um regime nazista viesse a existir novamente.

Também não sabe que ser judeu não é adotar uma ideologia, como afirmou, mas ter sua origem em uma etnia, uma cultura e uma religião. E essa origem comum não significa que os judeus sejam homogêneos, ao contrário, são mais variados em suas posições ideológicas do que outros povos e etnias. De qualquer modo, Monark tampouco sabe que o nazismo não perseguiu só os judeus, mas também outras etnias, homossexuais, religiosos, intelectuais e políticos  de outras vertentes.

E não sabe que nazismo não deve ser algo contemplado com um status de partido em uma sociedade democrática uma vez que é antidemocracia e contra a pluralidade. Aceitar um partido nazista é como tolerar um tumor canceroso que, se crescer, vai matar quem o tolerou.

Mas o que tem tudo isso a ver com Olavo de Carvalhos?

Tem que Monark se não tiver sido aluno  ou leitor de Carvalho é alguém que está dentro do que o “guru” pregava: o desprezo pelo conhecimento formal, pela cultura, pelo debate e uma defesa intransigente da opinião sem embasamento científico e racional.

Lembremos de que Carvalho morreu de uma doença que negou até o fim, disse que cigarro não fazia mal e afirmou que grandes capitalistas eram comunistas..

E essa atitude que eu percebia em Monark e que percebo em muitos jovens de agora, na faculdade ou não. Uma contestação do conhecimento que , em tese, deve ocorrer para que esse mesmo conhecimento progrida, mas dentro do próprio conhecimento e não fora dele.  A contestação, no entanto, vem em forma de desafio e de reafirmação de um conceito vago de “opinião”, como um “combate libertário a velhos professores ultrapassados”, mas sem a base necessária para superar os “velhos professores e as velhas ideias” que não a da arrogância do “Minha opinião”…

E Katagiri? Katagiri faz parte da mesma “escola” tenha ou não sido “aluno do grande mestre”

Ele já afirmou com orgulho que deixou a faculdade de economia antes de iniciar o curso porque na lista de livros não haviam os autores que ele, na sua grande sapiência, considerava importantes. Bem, nada impediria que ele lesse os autores prediletos e os outros e criasse um debate que poderia ser útil à economia enquanto ciência, mas preferiu sair e gritar nas ruas contra tudo e todos e se eleger.

No polêmico episódio, Katagiri chegou a afirmar que considerava um “erro a Alemanha ter proibido o partido nazista e que  essa ideologia deveria ser combatida com o debate e a racionalidade. Ele também não sabe o que é nazismo, porque se soubesse entenderia que o nazismo é um sistema fechado que não tolera debates mas parte para a agressão moral e física.

Aliás, Katagiri não sabe que o nazismo foi “mestre” das fake News, assim como aquelas que o ajudaram na sua eleição e na eleição de Bolsonaro como o “kit gay” ou a “mamadeira de piroca”. E se sabe, pior, porque então Katagiri não será somente um tolo mas um cínico da pior espécie.

Monark e Katagiri são dois adolescentes mimados que desprezam o conhecimento e a racionalidade, perdidos no seu narcisismo infantil e Olavo de Carvalho é o avô leniente que incentiva a má educação dos “netos”, ensina-os a falar palavrões e a matar aulas.

Assim como eles, os “netos” de Olavo são milhões, mesmo que nunca tenham sido apresentados a “obra” de Carvalho e apenas tolerados por pais ausentes, superprotetores e “educados” pelo Google. Mas nem todos eles farão sucesso na internet e na política e só descobrirão o quanto lhes faz falta o conhecimento quando for tarde demais.

PS: esqueci de dizer algo importante. Monark também não sabe que não se deve ir trabalhar bêbado…

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