Há uma história que ilustra a irracionalidade do Sistema no qual se vive, particularmente focando a questão ambiental. Conta que determinadas de pessoas que comiam porcos crus, os quais viviam em florestas, por causa de incêndio espontâneo no qual certo número de animais pereceu, ao comerem porcos assados pela primeira vez, ficaram maravilhadas, e para se alimentarem dos porcos, sempre colocam fogo nas matas!
Naturalmente, um complexo aparato se desenvolveu para isso ( incendiar florestas), com muitos especialistas e estudiosos de várias áreas, gravitando por ali.
A introdução no ambiente de machos de Aedes aegypti com gens “terminator”, que inviabilizariam os ovos do inseto vetor da dengue, é tão “racional” quanto a atitude acima descrita. Isso por várias e importantes razões. Uma delas é que tal não eliminará a doença em si, pois doença é a expressão de uma interação entre hospedeiro e parasita. O inseto mutante apenas limitará de modo artificial e certamente arriscado, o desenvolvimento do hospedeiro intermediário.
O vírus poderá adaptar-se, e possivelmente o fará, a outros mosquitos; até mesmo ao comum Culex fatigans? Não se sabe… Afinal, a Febre Amarela, doença grave causada por um flavivirus, aliás parente da dengue, tem como seu vetor alternativo o Haemagogus janthinomys, além do Aedes.
É fato também que a Febre Amarela desde 1942 é considerada erradicada das áreas urbanas. Naquela época já longínqua, uma vacina humana foi desenvolvida contra o vírus. Hoje, mais de setenta anos após, em plena modernidade, vacina contra dengue ainda não existe! Isso é tão imperdoável quanto vergonhoso para o país.
Em relação à segurança do mosquito transgênico para o ambiente e para a população, assim como o das plantas transgênicas, nenhum órgão poderá jamais garanti-la. Ou melhor, tal segurança de fato não existe. Nenhum organismo “oficial” pode afiançar isso, porque se está fazendo aleatória e laboratorialmente o que a natureza demorou milênios para fazer. Não temos conhecimento para tanto, certamente. Ao contrário, já possuímos sim informações suficientes para temer bastante que surpresa negativa, em termos de desequilíbrios ambientais e patologias humanas, nos aguarde.
Lembremos também que nossa cidade e região sofreram muito com a introdução bem pouco cautelosa das abelhas africanas no Brasil (via Piracicaba) e não se tratava de transgenia ao menos. Igualmente houve problema com a criação de capivaras localmente. Isso nos deve dar lições de prudência e sabedoria, e não tornar a cidade uma via de livre acesso para monstrengos genéticos, com os quais alguém sai sempre lucrando, mas não as pessoas em geral nem o ambiente. E mais, após o estrago feito, ninguém é culpado nem punido por isso jamais. Afinal, filho feio não tem pai…
Com o exposto acima, caímos agora no terreno legal. A lei existe e deve ser cumprida. Trata-se do “Princípio da Precaução”. Ou seja, na dúvida, em qualquer dúvida que seja sobre a segurança ambiental de empreendimento ou ação: NÃO.
O Aedes deve ser combatido controlando-se mecanicamente os criadouros, a síntese da vacina contra Dengue agilizada, e a mesma difundida entre a população.
Assim, o introdução do macho mutante no ambiente, além de arriscada manobra torna-se medida ilusória, cara e procrastinadora, sem o mínimo da objetividade que deseja aparentar. A SODEMAP coloca-se totalmente contra isso.
Kátia Rosária Delmonte —————Presidente
Eloah B. Margoni———————–Vice-Presidente
Antonio Carlos- Totó
7 de abril de 2015
“Lembremos também que nossa cidade e região sofreram muito com a introdução bem pouco cautelosa das abelhas africanas no Brasil (via Piracicaba) e não se tratava de transgenia ao menos. Igualmente houve problema com a criação de capivaras localmente. Isso nos deve dar lições de prudência e sabedoria, e não tornar a cidade uma via de livre acesso para monstrengos genéticos, com os quais alguém sai sempre lucrando, mas não as pessoas em geral nem o ambiente. E mais, após o estrago feito, ninguém é culpado nem punido por isso jamais. Afinal, filho feio não tem pai”. Disseram tudo. Não me lembro de nenhuma interferência humana na natureza que tenha dado certo. Pior ainda quando visa lucro de gente inconsequente.
Antonio
7 de abril de 2015
A introdução desse vetor para combater a dengue tem, antes de qualquer coisa, objetivo comercial.
É a mesma cantilena aplicada pela Monsanto com suas sementes transgênicas que evitariam o uso de inseticidas e o que se comprova hoje é a necessidade de mais inseticidas, muitos deles da própria Monsanto, para que as lavouras se mantenham saudáveis.
Por que não se combate a dengue informando e formando a população?
Por que não são incentivados nem usados métodos naturais para combater, não apenas os mosquitos da dengue, mas outros pernilongos e moscas?
Algumas pequenas cidades no interior de São Paulo, prefeituras sem muito dinheiro para gastos com empresas “mata-mosquito” incentivaram a plantação de citronela e crotalária ao mesmo tempo pediram à população para eliminarem as plantação com o que conhecemos por “coroa de cristo”.
A citronela é um repelente natural contra moscas e mosquitos e outros insetos.
Na Europa esse papel é feito pela alfazema.
Um perfume ou colônia com fragrância de alfazema e um bom fixador pode ser usado no corpo como repelente natural evitando os repelentes químicos à venda no mercado.
As flores da crotalária atraem libélulas que são predadores naturais das lavras de insetos, principalmente de moscas, mosquitos e pernilongos. As libélulas também colocam seus ovos em água limpa e suas larvas se alimentam das lavras de moscas, mosquitos e pernilongos.
Enquanto São José do Rio Preto aparece como foco de dengue, algumas cidades no entorno não tem casos de dengue. Alguns anos atrás as prefeituras dessas cidades, por impossibilidade de gastos, incentivaram a plantação de citronela combinada com a crotalária e tiveram sucesso que perdura. Distribuíram sementes e mudas à população e plantaram nos espaços públicos.
Por que não se faz o mesmo em Piracicaba e em todas as cidades?
Mais uma vez entra o interesse econômico.
Dos prefeitos, secretários, empresas de mata-mosquito, vendedores de venenos etc.
Concordo com a possibilidade do vírus adaptar-se a outro vetor.
A natureza é sábia e sobreviverá.
A ganância do ser humano, a oportunidade de ganho a qualquer custo é uma loucura do ser humano.
Quantos milhares de séculos a natureza precisou para chegar ao grão de milho ou de soja que temos hoje?
Quantos milhares de séculos a natureza precisou para desenvolver os insetos que temos e que não existem por si, fazem parte de uma cadeia natural que será alterada?
Esses conceitos aplico também aos frangos, suínos e bovinos.
Essas alterações são propostas por “cientistas” e “pesquisadores” que antes de serem estudiosos são empregados das empresas que vendem e lucram com a venda das matrizes.
Doenças desconhecidas surgem todos os dias. Qual sua origem?
O homem nos dias de hoje considera-se Deus com poder de alterar a natureza pelos parco conhecimento científico que tem.
Na sua ignorância não se dá conta que sua vida representa alguns poucos microssegundos em relação ao mundo.
E usa sua soberba para servir aos senhores que acumulam riqueza sem se dar conta que a natureza sobrevive.
E a natureza, se necessário, eliminará o ser humano da face da terra!
Tomo a liberdade de sugerir à SODEMAP acrescentar o interesse econômico por trás dessa proposta.
Tomo também a liberdade de sugerir que incentivem junto à prefeitura e a população a introdução da citronela e da crotalária para combate à dengue.
Ex-Agente de Combate à Dengue
7 de abril de 2015
Não me sinto confortável por manifestar-me anonimamente, mas tenho fortes razões para tal.
Acredito, sim, que haja interesses pouco nobres nesta arriscada investida. As evidências comprovam que o Plano Nacional de Combate à Dengue, anteriormente chamado de Plano de Erradicação do Aedes aegypti, não funciona. Foi implementado em 1996, ou seja, são quase duas décadas de agentes percorrendo as ruas das cidades brasileiras, num trabalho que já se tornou massante, tanto para os que executam essa árdua tarefa quanto para a população. E sabe por quê? A grande maioria das pessoas é, sim, esclarecida quanto às medidas que devem ser tomadas pala eliminar criadouros do mosquito transmissor da Dengue.
Como ex-agente do Combate à Dengue, posso afirmar com propriedade que a população nem se interessa mais em ouvir as mesmas orientações nas visitas periódicas. Cansei de ver olhares tortos e expressões de tédio ao passar aos moradores tais orientações, bem como visitar as mesmas casas por anos e encontrar os mesmos criadouros de antes. Não se trata de fazer uma visitação mais frequente. Em muitos casos, era possível perceber que, apenas ao virarmos as costas, o morador substituiria aquele pratinho que acabei de furar por outro sem furos, só para citar um exemplo.
O problema está na consciência da população. A “conscientização” lhes é oferecida, e só a absorve quem quer. Quantas vezes não ouvi a mesma ladainha: “A Prefeitura tem que ver aquele terreno cheio de mato, aquela casa vazia, não a MINHA CASA.” O ato do morador que aponta o erro no vizinho é comparável ao do cidadão que manifesta repúdio aos políticos corruptos mas não se importa de furar uma fila ou de parar em vaga reservada para deficientes.
Como ex-funcionário público nesta inútil função de combater a dengue na trabalho diário de casa-a-casa, posso afirmar que o Poder público não é culpado pela omissão, mas sim por manter um Programa que não funciona, ao invés de investir os mesmos milhões de reais em pesquisa da vacina (que está chegando exatamente após 20 anos da implantação do PEAa!).
Para quem não sabe, o Combate à Dengue custa caro. Ele responde a uma párcela considerável de verbas federais repassadas aos municípios. E, em contrapartida, as Prefeituras e/ou Secretarias Municipais só precisam apresentar relatórios e boletins de imóveis visitados e controles realizados para ter direito a esse repasse. Mas e os resultados de todo esse trabalho? em duas décadas, o que se viu foi picos de epidemia, seguidos de épocas de redução no número de casos registrados da doença. E esse sobe-e-desce, podem perguntar a qualquer biólogo, faz parte do próprio ciclo biológico do vírus. Ou seja, arrisco dizer, o trabalho de Combate à Dengue exerce pouco ou quase nenhum impacto na epidemia de Dengue.
O Índice de Breteau, criado para “medir” a infestação de mosquito da Dengue nos municípios, como amostragem que é, também não apresenta muita utilidade. De que adianta fazer um trabalho de controle mais “severo” num bairro considerado altamente infestado, quando estamos falando de uma espécie que pode, em tese, voar a até um quilômetro de distância?
Arrisco dizer que o combate à Dengue é uma máquina de fazer dinheiro. Beneficia as Prefeituras, com os gordos repasses de verba federal, as empresas de desinsetização, as terceirizadoras (sim, uma grande parcela dos agentes de controle da Dengue no Brasil são funcionários terceirizados)… A população, sem dúvidas, é a que menos usufrui dos benefícios.
Aqui, em Piracicaba, os problemas no Programa de Combate à Dengue vão além da questão dos mosquitos transgênicos. Anos atrás, ainda na gestão do prefeito Barjas / secretário Cárdenas, houve um surto que atingiu o bairro Algodoal, e, por uma possível falha de gestão do então Coordenador do Programa – à época do governo Barjas, logo que surgiram os primeiros casos, o resultado foi uma situação que fugiu do controle. Houve demora para se fazer uma trabalho de contenção química (a nebulização), além de forma como ela foi realizada: em vez de se começar pelos limites da região afetadas, até chegar ao centro do bairro, montando, assim, um “cerco” ao mosquito, começou-se, primeiro, pelo “meio” do bairro, até chegar aos limites da linha demarcada como o “raio de ação” dos mosquitos infectados.
Durante a mesma gestão, alguns trabalhadores terceirizados da equipe de Combate à Dengue faziam uso indevido dos veículos oficiais, abastecidos com o dinheiro que saiu do nosso bolso. Ou talvez das verbas federais, não é mesmo?
E não pensem que hoje a situação está melhor. Seria interessante o Sr. Secretário explicar a curiosa coincidência de empresa atualmente contratada como terceirizadora para o Combate à Dengue ter contratado, como Coordenador das equipes, o mesmo que já foi comissionado pela Prefeitura no cargo de Coordenador do Combate à Dengue. Seria porque a empresa é de seu irmão?
Piracicaba é apenas um dos podres exemplos que nos mostram quem são os maiores beneficiados pelo Programa de Combate à Dengue.
É como o “Combate ao Tabagismo”: com ressalvas às recentes Leis que restringem os locais onde se pode fumar, e que são dignas de elogios, o que o Governo faz é impetrar impostos exorbitantes à Indústria de Fumo, com a desculpa de investir esse faturamento na Saúde Pública. E não há nem mesmo um Programa de auxílio aos que querem deixar o vício, que seja de fato eficiente e atenda a um número considerável de fumantes.
Que venha a vacina. E que se extingam os cabides de empregos, o favorecimento ilícito às empresas, o uso indevido do dinheiro público. Esses, sim são mais difíceis de serem erradicados.
Eloah Margoni
7 de abril de 2015
As considerações feitas pelos leitores são artigos em si mesmas, com informações preciosas, inclusive de botânica! Muito interessantes. Gostaria apenas de acrescentar, que a atual sociedade de consumo, sociedade do lixo e do descarte é o paraíso do Aedes aegypti. A população precisa sim, como disse o leitor “Anônimo”, ter consciência e atitudes corretas em prol do controle do vetor.
Também desejo esclarecer que a SODEMAP é uma ONG ambientalista, não tem poder nem influência sobre os gestores municipais, ou etc…O que fazemos são representações para o Ministério Público Estadual ou Federal. Esta já foi para o GAEMA ( Grupo de Atenção Especial ao Meio Ambiente). Então nossa sugestão é que outras considerações, mormente as científicas, sejam passadas ao MP também (Rua Almirante Barroso 491 , Bairro São Judas). Isso ajudará os Promotores com argumentações e dados.
Eloah Margoni
8 de abril de 2015
Chegou à SODEMAP informação de que a nossa manifestação pública contra o uso de MOSQUITOS transgênicos para o combate à dengue, a qual, na verdade, foi feita visando mesmo o GAEMA, mas depois foi transformada em artigo, incompreensivelmente aguilhoou, com força, muitas almas ou egos também do meio universitário. Estas teriam reagido com grandes emoções, mas apenas num grupo fechado (nem tanto) e usando os conhecidos e batidos expedientes de desqualificação das pessoas, como se faz comumente(pasmem!) contra nós, ambientalistas.
Se assim ocorreu, faltou transparência, lisura e respeito a companheiros de luta para, em bom nível, discutirem-se ideias. Se é assim, temos muita vergonha de lutar contra a barragem de Santa Maria da Serra, de falar do efeito estufa, ou insistir num plano nacional de proteção às nascentes ao lado de tais pessoas; mas o faremos sem pestanejar! Temos inteligência emocional suficiente e maturidade para sabermos o que nos move, no que acreditamos e o que é, de fato, relevante no ambientalismo e na vida.