Legalidade ou Moralidade, o aumento de 66% no salário dos vereadores? Por Júlio César de Menezes

Posted on 1 de agosto de 2012 por

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Evolução dos Salários

Já faz um bom tempo que o trabalhador no Brasil não sabe de fato o que é ter um aumento real em seu salário. Anos vão, anos vêm, e todos recebem reajustes, uma compensação salarial baseada no índice inflacionário que muita das vezes diverge dos reajustes aplicados aos alimentos, produtos e serviços.

Os vereadores de Piracicaba aprovaram, através do Projeto de Lei n° 163/11, o aumento de 66% do valor do salário para próxima legislatura (2013-2016), que passará de R$ 6.568,35 para R$ 10.900,00. Claro que todos vão justificar que o aumento é para os próximos legisladores, mas as estatísticas mostram que 69% dos vereadores eleitos se reelegeram – claro que todos podem, por lei, tentar a reeleição, têm esse direito. Mas quero pensar que isso não foi de caso pensado, já que as cadeiras de nossa casa de leis aumentaram de 16 para 23, e a margem de votos que tiveram na eleição passada, os garante nessa nova eleição. Até porque muitos deles têm a vereança como profissão, caso já exposto pelo Jornal de Piracicaba (25/07/12).

A questão: É legal o aumento de 66% nos salários dos próximos legisladores? A Câmara Municipal corresponde ao Poder Legislativo, ou seja, cabe aos seus componentes a elaboração de leis que são da competência do Município (sistema tributário, serviços públicos, isenções e anistias fiscais, por exemplo), e, como Poder Legislativo, os vereadores podem criar leis que aumentem seus salários, ou subsídios – como é mencionado o salário na lei de aumento salarial. Então – pergunto – é moral? É cabível? É necessário? Em se tratando da moralidade, posso afirmar que não. É imoral alguém aumentar seu próprio salário sem consultar seu patrão, o povo! Em um país em que todas as categorias receberam o reajuste salarial de 6,5% em média, mais algum aumento real de até 3,5%, reafirmo, esse aumento é imoral.

É cabível? Claro que não! Hoje, com 16 cadeiras na Câmara de Piracicaba, os gastos salariais com os vereadores anualmente chegam a R$ 1.261.123,20. Com o aumento salarial de 66%, 16 cadeiras custarão R$ 2.092.800,00. Só que, para o próximo pleito, serão 23 cadeiras, ou seja, R$ 3.008.400,00, isso sem contar os assessores, que também fazem parte da fatura paga pelo povo. O aumento dado aos funcionários públicos de Piracicaba foi de 6,5% mais um abono de R$ 75,00 para ser incorporado ao salário. Não acredito que a vereança seja mais importante que os serviços prestados pelos guardas-civis, pelos profissionais da saúde, pelos professores e outros que, além de serem cidadãos, servem nossa cidade.

É necessário? De maneira alguma! É de conhecimento de todos que os vereadores não ficam impedidos de exercer suas profissões juntamente com a vereança, sem pensar nos que já são aposentados. Além disso, possuem um bom número de assessores que os auxiliam, são fornecidos veículos para os trabalhos, almoço e janta por conta da câmara, entre outros recursos e subsídios. Com tantos problemas na cidade, como, por exemplo, falta de médicos nos prontos-socorros, falta de segurança nos bairros de baixa renda, falta de vagas em creches, principalmente em período integral, falta de moradia, entre outros, caberia muito mais investir na solução destes problemas que pouco ou nada preocupa os nobres vereadores.

Por isso que povo precisa reagir e mostrar sua indignação. Em algumas cidades, como Saltinho, Americana e Araraquara, por exemplo, os vereadores aumentaram seus salários, mas o povo reagiu com indignação e eles conscientemente voltaram atrás e revogaram a lei de aumento salarial. Espero que os vereadores de Piracicaba também sejam conscientes e
tomem como exemplo a atitude dos legisladores das cidades acima citadas.

 Júlio Cesar de Menezes é Funcionário Público e Candidato a Vereador em Piracicaba – SP