Uma Padroeira para os Políticos. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 23 de agosto de 2012 por

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Descobri que o padroeiro dos políticos é São Thomas Morus, o autor da obra renascentista “A Utopia”. Ele foi proclamado como tal por João Paulo II e isso devido ao seu humanismo e sua retidão. Mas eu tomo a liberdade de discordar da escolha. Tenho outra proposta. Para mim, a padroeira dos políticos, principalmente no Brasil, mas creio que no mundo todo, deveria ser a “Santa Ignorância”.

Para ser sincero, acho que muito antes do Papa proclamar Thomas Morus, os políticos já cultuavam a “Santa Ignorância”. Imagine se os eleitores soubessem realmente o que significam todas as leis que são aprovadas pelos senadores, deputados e vereadores, por exemplo. Talvez nunca mais votassem naqueles indivíduos ou, num grau mais intenso de reação, talvez saíssem às ruas pedindo a sua renúncia ou cassação. Imagine ainda se os cidadãos soubessem quanto custa cada obra pública e a verdadeira função dela? Sim, porque, nem sempre uma obra é o que é ou serve para o que parece. Às vezes uma represa, um sistema de irrigação, uma ponte, um conjunto de casas e tantas outras, servem apenas para uma parcela muito pequena da população. Também poderiam, muitas vezes, ser mais baratas e/ou adequadas, no entanto não dariam tanta verba num contrato com as empreiteiras. Até hoje, por exemplo, o projeto de transposição do rio São Francisco é questionado por especialistas que afirmam que construir cisternas seria mais barato e interessante para a população que sofre com as secas do Nordeste. Mas você sabe, se ficar muito barato o contrato com a grande empreiteira talvez não seja tão rentável e isso significa que as mesmas empreiteiras não vão doar tanto aos partidos e candidatos e nem “escorregar” algum aos burocratas e a alguns políticos. Já pensou se todos soubessem as verdadeiras razões e custos de cada obra? Acho que muitos políticos estariam encrencados.

E não para por aí não. A “Santa Ignorância” é santa forte, de poder. Graças a ela o povo não sabe também o papel legal dos políticos, qual a função real de cada cargo. Para que servem os vereadores, por exemplo? Se você sair por aí perguntando, verá que pouca gente sabe que é para fazer leis de âmbito municipal (que são restritas), fiscalizar o poder executivo e aprovar orçamentos do município assim como aprovar ou rejeitar projetos de grande interesse público, como a privatização de serviços de esgoto. Você verá que a população, graças a intervenção da “Santa” pensa que os vereadores “servem” para furar a fila de hospitais, dar carona para gestantes, pagar contas de luz, arrumar empregos públicos não concursados, dar cestas básicas, trazer gente de fora para ocupar terrenos públicos etc. O restante nem lhes passa pela cabeça. Assim um político, se realiza estas atitudes “assistencialistas” que, diga-se de passagem, são ilegítimas e restritas, garante sua reeleição e pode fazer o que quiser com as leis e os contratos públicos durante seu mandato. Ninguém vai se importar porque ninguém sabe. Valei os políticos, “Santa Ignorância”!

Se João Paulo II tivesse pesquisado, descobriria que no Brasil o culto a “Santa Ignorância” é antigo. Descobriria ainda um fato engraçado. A “Santa” tem cultos estranhos. Devotos de outros santos costumam construir capelas e igrejas em homenagem aos seus padroeiros, mas os políticos cultuam sua padroeira NÃO construindo. Não construindo escolas, não construindo diálogos reais e sinceros com os eleitores e não construindo um senso de responsabilidade do cidadão. Também enquanto devotos de outros santos compõem hinos e escrevem livros para seus protetores, os políticos fazem do silêncio, da desinformação do povo, o seu canto e o seu “louvor”. Interessante o culto, não?

De vez em quando, porém, a “Santa” dá uma cochilada. Às vezes um grupo da população descobre que algo vai mal ou que não concorda com uma medida do governo. Então se organiza e protesta, tenta reverter a situação. Mas a Santa não abandona seus fieis. E eles, mais do que depressa, a invocam com nuvens e nuvens de incenso da desinformação. Fumaça que deixa a todos aqueles que protestaram, distorcidos pelos demais. Às vezes, este incenso dedicado à “Santa Ignorância” faz os que protestam parecerem bêbados, drogados aos olhos dos demais. Mas quem será que está realmente sobre o efeito da droga da desinformação?

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