Descobri que o padroeiro dos políticos é São Thomas Morus, o autor da obra renascentista “A Utopia”. Ele foi proclamado como tal por João Paulo II e isso devido ao seu humanismo e sua retidão. Mas eu tomo a liberdade de discordar da escolha. Tenho outra proposta. Para mim, a padroeira dos políticos, principalmente no Brasil, mas creio que no mundo todo, deveria ser a “Santa Ignorância”.
Para ser sincero, acho que muito antes do Papa proclamar Thomas Morus, os políticos já cultuavam a “Santa Ignorância”. Imagine se os eleitores soubessem realmente o que significam todas as leis que são aprovadas pelos senadores, deputados e vereadores, por exemplo. Talvez nunca mais votassem naqueles indivíduos ou, num grau mais intenso de reação, talvez saíssem às ruas pedindo a sua renúncia ou cassação. Imagine ainda se os cidadãos soubessem quanto custa cada obra pública e a verdadeira função dela? Sim, porque, nem sempre uma obra é o que é ou serve para o que parece. Às vezes uma represa, um sistema de irrigação, uma ponte, um conjunto de casas e tantas outras, servem apenas para uma parcela muito pequena da população. Também poderiam, muitas vezes, ser mais baratas e/ou adequadas, no entanto não dariam tanta verba num contrato com as empreiteiras. Até hoje, por exemplo, o projeto de transposição do rio São Francisco é questionado por especialistas que afirmam que construir cisternas seria mais barato e interessante para a população que sofre com as secas do Nordeste. Mas você sabe, se ficar muito barato o contrato com a grande empreiteira talvez não seja tão rentável e isso significa que as mesmas empreiteiras não vão doar tanto aos partidos e candidatos e nem “escorregar” algum aos burocratas e a alguns políticos. Já pensou se todos soubessem as verdadeiras razões e custos de cada obra? Acho que muitos políticos estariam encrencados.
E não para por aí não. A “Santa Ignorância” é santa forte, de poder. Graças a ela o povo não sabe também o papel legal dos políticos, qual a função real de cada cargo. Para que servem os vereadores, por exemplo? Se você sair por aí perguntando, verá que pouca gente sabe que é para fazer leis de âmbito municipal (que são restritas), fiscalizar o poder executivo e aprovar orçamentos do município assim como aprovar ou rejeitar projetos de grande interesse público, como a privatização de serviços de esgoto. Você verá que a população, graças a intervenção da “Santa” pensa que os vereadores “servem” para furar a fila de hospitais, dar carona para gestantes, pagar contas de luz, arrumar empregos públicos não concursados, dar cestas básicas, trazer gente de fora para ocupar terrenos públicos etc. O restante nem lhes passa pela cabeça. Assim um político, se realiza estas atitudes “assistencialistas” que, diga-se de passagem, são ilegítimas e restritas, garante sua reeleição e pode fazer o que quiser com as leis e os contratos públicos durante seu mandato. Ninguém vai se importar porque ninguém sabe. Valei os políticos, “Santa Ignorância”!
Se João Paulo II tivesse pesquisado, descobriria que no Brasil o culto a “Santa Ignorância” é antigo. Descobriria ainda um fato engraçado. A “Santa” tem cultos estranhos. Devotos de outros santos costumam construir capelas e igrejas em homenagem aos seus padroeiros, mas os políticos cultuam sua padroeira NÃO construindo. Não construindo escolas, não construindo diálogos reais e sinceros com os eleitores e não construindo um senso de responsabilidade do cidadão. Também enquanto devotos de outros santos compõem hinos e escrevem livros para seus protetores, os políticos fazem do silêncio, da desinformação do povo, o seu canto e o seu “louvor”. Interessante o culto, não?
De vez em quando, porém, a “Santa” dá uma cochilada. Às vezes um grupo da população descobre que algo vai mal ou que não concorda com uma medida do governo. Então se organiza e protesta, tenta reverter a situação. Mas a Santa não abandona seus fieis. E eles, mais do que depressa, a invocam com nuvens e nuvens de incenso da desinformação. Fumaça que deixa a todos aqueles que protestaram, distorcidos pelos demais. Às vezes, este incenso dedicado à “Santa Ignorância” faz os que protestam parecerem bêbados, drogados aos olhos dos demais. Mas quem será que está realmente sobre o efeito da droga da desinformação?
Daisy Costa
23 de agosto de 2012
ADOREi! Literalmente ‘chorei de rir’: ri muito pela sua criatividade e inteligência e ri para não chorar, pois o atual cenário político há de se chorar mesmo! Que N.Sra.do Equilíbrio continue abençoando sua postura como pensador!
blogdoamstalden
23 de agosto de 2012
Muito Obrigado, Daisy. Adorei a nova denominação da N. Sra… Valeu. Abraço.
Antonio
24 de agosto de 2012
Prezado, concordo com sua discordância (ops) sobre Sir Thomas Morus.
O Papa João Paulo II, um prócer do obscurantismo não poderia ter feito outra escolha, já que dirigia, fazia parte ou apenas apoiava abertamente a prelazia Opus Dei que sendo sucessora da Santa Inquisição, representa o que a humanidade produziu de pior. Esta organização, inclusive, tem no Brasil um campo fértil e se desenvolve estando espalhada por todos os meandros do poder.
Thomas Mourus foi escolhido não por sua retidão como disse o Papa. Penso que foi escolhido porque depois de escrever Utopia tornou-se um crítico feroz da reforma aderindo e dando apoio intelectual à Igreja da Idade Média e a todo obscurantismo e cupidez que existia na igreja da época.
Estranho teria sido escolher Erasmo ou Spinoza!
Quanto a escolha da Sta Ignorância como padroeira dos politicos, concordo. Porém ouso dizer que não apenas ela protege os políticos.
Não apenas em nosso país mas em todo mundo, há outro padroeiro: São Esquecimento!
Sta. Ignorância não teria tanto poder se não contasse com a ajuda de São Esquecimento. Concorda?
Sta. Ignorância vive e se fortalesse nos veículos de mídia, que no Brasil, envergonham qualquer um que tenha apenas dois neurônios ainda que um deles passe o dia todo dormindo.
Os veículos de mídia, fartos em imagens, pouco se detém em análises ou mesmo notícias fidedignas. Fazem parte do exército que está levando o mundo a uma nova Idade Média.
Com pinicilina, luz elétrica, água encanada e muitos cavalos no motor do carro, mas Idade Média.
Penso no processo que em nosso país é célere, que introduziu no dia a dia de quase duas gerações o uso da Novilíngua.
Santa Ignorância e Santo Esquecimento encontram aqui muitos fiéis.
As brincadeiras e deboche com políticos do Congresso, que era apresentado pelo “jornalista” Alexandre Garcia semanalmente nos domingos à noite no Fantástico e um governador criminoso que introduziu a Progressão Continuada eram devotos fiéis destes dois santos.
Me refiro ao governador Mário “Honesto” Covas cujos descendentes continuam na política com as mesmas idéias obscurantistas da Santa Inquisição.
Pelos auxiliares e vice-governador que escolheu, todos da Opus Dei deu um impulso enorme ao culto destes santos. Temos quase duas gerações criadas e educadas no culto a estes dois santos e a prelazia, no Brasil, conta com importântes membros infiltrados em todas as esferas de poder, principalmente no estado de São Paulo e em Minas Gerais.
Todas as mazelas que descreve são o resultado do culto a esses dois santos.
Tenho que concordar que a prática de cultuar estes santos no Brasil atinge níveis inimagináveis a um país que pretende ser uma nação.
Reconheço também que mesmo na política, uns poucos se insurgem tanto como alguns do povo se insurgem contra algo ou medida que trás prejuízo. Nestas horas entra em ação a imprensa, a mídia como um todo fechada em copas para desviar a atenção ou mesmo trocar o sentido das palavras da nossa rica língua reduzindo-a à Novilíngua.
João Paulo II surgiu junto com Tatcher, Reagan e outros gurus da economia que introduziram a globalização.
Nada mais justo será lembrarmo-nos, no futuro, do Papa que fez a Igreja retroagir para a Idade Média com todas as mazelas praticadas pelos senhores feudais.
Alguém consegue diferenciar um político brasileiro de um senhor feudal da Idade Média?
Até o “Jus primae Noctis”, por aqui praticam!