Coluna do Totó: PODERES

Posted on 1 de fevereiro de 2013 por

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Depois que sentiram o gostinho do poder não querem mais largar. De modo geral são pessoas oriundas de famílias complicadas, com demais ou de menos; mimados ou carentes de afeto, de atenção, valorização e limites sensatos. Privados de estímulo e de adequado espelhamento ficaram sem parâmetros para desenvolver autoimagem fiel e positiva autoestima. Grosso modo, não sabem realmente quem são por isso se agarram ao que quer que os valorize e lhes preencha o buraco aberto na alma. Seu olhar periscópico busca os acontecimentos e se antecipam aos fatos, principalmente quando representam ameaça. Levianos, como todo ser humano sem lastro, estão sempre disponíveis para usar e serem usados desde que, como cortiça, permaneçam por cima.

Para esse tipo de pessoas o poder pode ser extremamente nefasto porque os anestesia; e se ocupam cargos públicos prejudicam inteiras populações. A fascinação é tamanha que alguns passam por cima da família, de valores, amizades e até da própria saúde. Tanto que não percebem o advir da caduquice e nem mesmo de graves doenças que acabam por devorá-los. Cercados por bajuladores julgam-se indestrutíveis e eternos, contudo acabam derrotados por si próprios. São capazes de construir cidades, realizar grandes feitos e subjugar inimigos, menos aquele que deixaram crescer dentro de si; por sinal, o mais perigoso. Quão sábias as palavras de Jesus: “… que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que um homem pode dar em troca da sua vida?”! (Mt 16,26).

Vejo chefes de repartições, líderes de igreja, de associações e organizações; empresários, sindicalistas donos do sindicato e políticos aferrados ao poder. Na Venezuela, por exemplo, o presidente exige mais que seu corpo pode dar. Mesmo doente insiste no poder. Aqui e em muitos lugares acontece o mesmo. Vereadores que se eternizam no mandato, um demérito para uma cidade que se arvora progressista.  Desculpem-me senhores ou senhoras, mas vocês são doentes. A vida é muito mais que isso.

Poder é serviço e servir não é fácil. Exige dedicação plena, esforço contínuo, esquecimento de si e não raro, a ingratidão como pagamento. Na coisa pública mais ainda; e isso cansa. Pessoas equilibradas, saudáveis e respeitadores de si mesmas procuram socializar informações, distribuir responsabilidades, ouvir o contrário, dar espaço para os mais jovens, capacitar e formar novos e melhores líderes; e saem de cena tão logo percebam que devem dar lugar a outros por já terem feito sua parte e a situação requeira cabeças mais ousadas e promissoras.

Já o desequilibrado centraliza, ameaça, controla, esconde e desconfia, pois todos são inimigos potenciais; por isso se esgota e ainda tem a cara de pau de se postar de mártir. Ai de quem se atreve chamar-lhe atenção. Agarra-se ao poder porque a simples idéia de ficar a sós consigo mesmo o apavora. Sabe que foi seu próprio algoz e tem dívidas enormes para acertar com seu eu. Não quer descer pra dentro de si porque teme deparar com sua acorrentada e desfigurada imagem a lhes perguntar: Por que você fez isso conosco?

Antônio Carlos Danelon é Assistente Social e escreve todas as sextas neste Blog.