A entrega simbólica das assinaturas colhidas pelo Reaja Piracicaba. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 12 de setembro de 2013 por

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Foto de José Benedito Vizioli Libório

Foto de José Benedito Vizioli Libório

Para quem não sabe, o movimento Reaja Piracicaba luta por uma pauta ampla de mudanças políticas, principalmente aquelas relativas à transparência do poder, a democracia e ao pleno exercício da cidadania. O aumento que os vereadores de Piracicaba se concederam no ano passado, envolveu o movimento por estar dentro das suas reivindicações mais amplas. E eles lutaram bravamente. Conseguiram 25 mil assinaturas, com título de eleitor e validadas uma a uma, para criar um projeto de lei popular pela revogação do aumento. Não foi uma tarefa fácil. Eu não milito no grupo, mas o apoio e ajudei a colher umas tantas destas subscrições. E pude perceber que a população de fato não aceita este aumento. Minha percepção é demonstrada também por uma pesquisa que o Jornal de Piracicaba fez no ano passado, cujo resultado aponta uma rejeição de quase 80% ao aumento.

Hoje, dia 12 de setembro de 2013, o movimento Reaja deveria ter feito a entrega simbólica das assinaturas na sessão da Câmara. Também, um de seus membros, previamente inscrito, deveria ter feito uso da Tribuna Popular para discursar. Não aconteceu nem uma coisa nem outra.

A pretexto de uma suposta ameaça, um vereador solicitou a direção da Câmara que impedisse o discurso e também que esta “garantisse a segurança do prédio”. O Reaja reafirmou suas intenções pacíficas, mas a Câmara, “temerosa” da suposta ameaça, solicitou ampla proteção das forças policiais. Pelos jornais e pelas redes sociais, também divulgou que haveria um aparato policial poderoso, citando inclusive a possibilidade do uso da tropa de choque da PM. A “rádio fofoca” foi além. Espalhou pela cidade que haveriam tumultos, depredações e prisões. Pelas redes sociais estes boatos foram propagados e muita gente se intimidou. Li várias postagens a este respeito, inclusive um rapaz que argumentava com os organizadores do ato de entrega que não iria porque, “quem tem c… tem medo…”

A Câmara, portanto, conseguiu. Intimidou o povo e diminuiu drasticamente os participantes  do manifesto, que saiu em passeata do Terminal Central de Ônibus em direção ao prédio. Quanto cheguei ao ponto de concentração, já havia lá pelo menos oito viaturas da PM. O número de policiais militares e guardas municipais me pareceu superar os manifestantes, que, penso eu, não chegaram a uma centena. Na esquina da rua que dava acesso à frente do prédio, viaturas da Secretaria de Transporte fechavam a rua, impedindo que o carro de som pudesse se posicionar em frente à Câmara. Dezenas de policiais armados estavam no entorno, além de muitas viaturas e motos. Sem o carro de som, os participantes chegaram sozinhos até a entrada, que também estava bloqueada por um grupo de choque da GM e por assessores parlamentares e funcionários. Um assessor arrancou uma faixa de manifestantes (o que me pareceu roubo, crime…) e entrou com ela no prédio.

Ao meu lado, um homem ainda jovem, chamado Maximiliano, comentava indignado: “o carro de som tem alvará, tem autorização para circular e foi barrado. Mas o prédio da Câmara não tem alvará, e impede a manifestação do povo. Isto é um absurdo”. Ele tem razão. O prédio não atende quesitos de segurança, mas funciona. Funciona e se fecha.

Se fecha ao povo, ao diálogo, à sensatez, à democracia e ao respeito aos cidadãos. Sob o pretexto de uma “ameaça” (que ainda vai ser apurada), retira dezenas de policiais, que poderiam estar no restante da cidade, para se “proteger”. Desculpem-me a franqueza, mas esta atitude de mobilizar tantos policiais foi intimidatória e aparentou covardia pura.

Sem espaço, o carro de som estacionou num ponto próximo, não sem antes ter que fazer uma complicada manobra, e de lá, Eduardo Stella, o representante inscrito do movimento, fez o pronunciamento que lhe foi negado fazer na Tribuna do Povo. Depois disso, até onde vi e fiquei, houve a dispersão pacífica e triste.

Não há palavras racionais possíveis para descrever toda a inversão que assisti hoje. Toda a arrogância que desconsiderou o fato de que os manifestantes colheram, de fato, 25 mil assinaturas e, portanto, traziam o desejo de 25 mil cidadãos e eleitores.

E tal arrogância tampouco é inteligente. A desconsideração a tantos cidadãos, mais do que um desrespeito, é um desgaste imenso para a figura da Câmara e dos vereadores atuais. Alguns deles, é sabido, pretendem eleger-se deputados. Não seria mais lógico e sensato, ao invés de se “enclausurar em um forte” dialogar com a população? Que raios de estratégica política é esta? Como negar, diante das pessoas e das muitas câmeras fotográficas e de televisão, o ridículo do isolamento dos vereadores, cercados de dezenas de policiais, frente a poucos manifestantes pacíficos? Que espécie de assessoria política os vereadores tem? Ouvi uma repórter de TV declarar, fora das câmeras, sua indignação ao chegar e ver tudo fechado e tomado por policiais. Eu próprio, que participei de tantas manifestações, nunca vi, nem na época da ditadura, tanto aparato repressor nas ruas.

A Câmara conseguiu ignorar o povo, a democracia e a cidadania.

A Câmara conseguiu fazer um papel ridículo, de “medinho”, cercada de policiais.

Vamos ver, agora, se a Câmara conseguirá manter a sua imagem perante a cidade e o país…