Para quem não sabe, o movimento Reaja Piracicaba luta por uma pauta ampla de mudanças políticas, principalmente aquelas relativas à transparência do poder, a democracia e ao pleno exercício da cidadania. O aumento que os vereadores de Piracicaba se concederam no ano passado, envolveu o movimento por estar dentro das suas reivindicações mais amplas. E eles lutaram bravamente. Conseguiram 25 mil assinaturas, com título de eleitor e validadas uma a uma, para criar um projeto de lei popular pela revogação do aumento. Não foi uma tarefa fácil. Eu não milito no grupo, mas o apoio e ajudei a colher umas tantas destas subscrições. E pude perceber que a população de fato não aceita este aumento. Minha percepção é demonstrada também por uma pesquisa que o Jornal de Piracicaba fez no ano passado, cujo resultado aponta uma rejeição de quase 80% ao aumento.
Hoje, dia 12 de setembro de 2013, o movimento Reaja deveria ter feito a entrega simbólica das assinaturas na sessão da Câmara. Também, um de seus membros, previamente inscrito, deveria ter feito uso da Tribuna Popular para discursar. Não aconteceu nem uma coisa nem outra.
A pretexto de uma suposta ameaça, um vereador solicitou a direção da Câmara que impedisse o discurso e também que esta “garantisse a segurança do prédio”. O Reaja reafirmou suas intenções pacíficas, mas a Câmara, “temerosa” da suposta ameaça, solicitou ampla proteção das forças policiais. Pelos jornais e pelas redes sociais, também divulgou que haveria um aparato policial poderoso, citando inclusive a possibilidade do uso da tropa de choque da PM. A “rádio fofoca” foi além. Espalhou pela cidade que haveriam tumultos, depredações e prisões. Pelas redes sociais estes boatos foram propagados e muita gente se intimidou. Li várias postagens a este respeito, inclusive um rapaz que argumentava com os organizadores do ato de entrega que não iria porque, “quem tem c… tem medo…”
A Câmara, portanto, conseguiu. Intimidou o povo e diminuiu drasticamente os participantes do manifesto, que saiu em passeata do Terminal Central de Ônibus em direção ao prédio. Quanto cheguei ao ponto de concentração, já havia lá pelo menos oito viaturas da PM. O número de policiais militares e guardas municipais me pareceu superar os manifestantes, que, penso eu, não chegaram a uma centena. Na esquina da rua que dava acesso à frente do prédio, viaturas da Secretaria de Transporte fechavam a rua, impedindo que o carro de som pudesse se posicionar em frente à Câmara. Dezenas de policiais armados estavam no entorno, além de muitas viaturas e motos. Sem o carro de som, os participantes chegaram sozinhos até a entrada, que também estava bloqueada por um grupo de choque da GM e por assessores parlamentares e funcionários. Um assessor arrancou uma faixa de manifestantes (o que me pareceu roubo, crime…) e entrou com ela no prédio.
Ao meu lado, um homem ainda jovem, chamado Maximiliano, comentava indignado: “o carro de som tem alvará, tem autorização para circular e foi barrado. Mas o prédio da Câmara não tem alvará, e impede a manifestação do povo. Isto é um absurdo”. Ele tem razão. O prédio não atende quesitos de segurança, mas funciona. Funciona e se fecha.
Se fecha ao povo, ao diálogo, à sensatez, à democracia e ao respeito aos cidadãos. Sob o pretexto de uma “ameaça” (que ainda vai ser apurada), retira dezenas de policiais, que poderiam estar no restante da cidade, para se “proteger”. Desculpem-me a franqueza, mas esta atitude de mobilizar tantos policiais foi intimidatória e aparentou covardia pura.
Sem espaço, o carro de som estacionou num ponto próximo, não sem antes ter que fazer uma complicada manobra, e de lá, Eduardo Stella, o representante inscrito do movimento, fez o pronunciamento que lhe foi negado fazer na Tribuna do Povo. Depois disso, até onde vi e fiquei, houve a dispersão pacífica e triste.
Não há palavras racionais possíveis para descrever toda a inversão que assisti hoje. Toda a arrogância que desconsiderou o fato de que os manifestantes colheram, de fato, 25 mil assinaturas e, portanto, traziam o desejo de 25 mil cidadãos e eleitores.
E tal arrogância tampouco é inteligente. A desconsideração a tantos cidadãos, mais do que um desrespeito, é um desgaste imenso para a figura da Câmara e dos vereadores atuais. Alguns deles, é sabido, pretendem eleger-se deputados. Não seria mais lógico e sensato, ao invés de se “enclausurar em um forte” dialogar com a população? Que raios de estratégica política é esta? Como negar, diante das pessoas e das muitas câmeras fotográficas e de televisão, o ridículo do isolamento dos vereadores, cercados de dezenas de policiais, frente a poucos manifestantes pacíficos? Que espécie de assessoria política os vereadores tem? Ouvi uma repórter de TV declarar, fora das câmeras, sua indignação ao chegar e ver tudo fechado e tomado por policiais. Eu próprio, que participei de tantas manifestações, nunca vi, nem na época da ditadura, tanto aparato repressor nas ruas.
A Câmara conseguiu ignorar o povo, a democracia e a cidadania.
A Câmara conseguiu fazer um papel ridículo, de “medinho”, cercada de policiais.
Vamos ver, agora, se a Câmara conseguirá manter a sua imagem perante a cidade e o país…
Marcos
12 de setembro de 2013
Uma verdadeira vergonha o que aconteceu. O povo está sendo refém dessa ditadura disfarçada de democracia. Realmente, uma lástima. Mas não iremos esquecer disso.
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Marcos, mais do que não nos esquecermos, precisamos divulgar para todos, inclusive fora da cidade, o que aconteceu. E manter viva a lembrança de todos. Obrigado por comentar. Abraço.
Helo
12 de setembro de 2013
Parabéns Amstalden pelo seu belo relato. É bom saber a REALIDADE do que se passa em nossa cidade através de palavras como a sua, sem omissões.
É revoltante, simplesmente. Não há palavras pra expressar de fato o que essa situação nos faz sentir.
É como diz o ditado: quer conhecer um homem de verdade, dê poder a ele.
Vivemos uma ditadura genuína na Câmara de vereadores da nossa cidade. Na Câmara que deveria ser do povo e não é. E quando alguns falam verdades, usam de influências políticas para perseguir, intimidar, processar de maneira infantil e ridícula por não conseguirem dialogar de igual pra igual. É mais fácil usar advogado do que o próprio cérebro. (Ah é, a maioria lá dentro não usa)
É muita arrogância, ego e uma overdose de idiotice. Mas o mundo dá voltas. Eleições virão e isso faz com que o povo veja quem realmente são esses DIGNÍSSIMOS.
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Infelizmente, Helo, poucos elegem. O sistema de voto por legenda manteve velhos conhecidos no poder, que com uns tantos “clientes” conseguem entrar de novo. Precisamos criar outras estratégias, inclusive questionando as executivas dos partidos. Quanto às ameaças você tem razão. Aguardo a autorização de alguns ameaçados e intimidados para publicar isto no blog. Obrigado pelo elogio e pelo seu comentário. Abraço.
Gleison
12 de setembro de 2013
Apesar das arbitrariedades, foi um belo ato. Apesar do medo semeado pelos edis, que afastou grande parte da população, o movimento valeu pela qualidade, pelo nível, pelo pacifismo, que sempre foi evidente, apesar da decepção de quem aparentemente se preparou para uma guerra!
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Concordo, Gleison. E esta guerra para que se prepararam criou uma situação ridícula. Eu pergunto se tantos policiais lá não fizeram falta em outros bairros, nos quais crimes verdadeiros podem ter acontecido. Abraço.
Carla Betta
13 de setembro de 2013
Exatamente este pensamento me passava enquanto lia: tanto policiamento na Câmara e a cidade? E os bairros? E os cidadãos que pagam por este policiamento? Ficaram à mercê dos bandidos?
William H. Stenico
12 de setembro de 2013
Sem violência é o C#@$%@*…
Tem um texto bom pra refletir… vejo uma guerra civil iminente, estamos a merce, e a merce oque reina é a lei dos mais fortes, não temos mais proteção contra bandido o governo está contra a população… ta fda…
Tem um link bom pra refletir…
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Willian, obrigado por comentar e citar o meu texto. Mas eu ainda acho que a violência não vai nos levar à vitória. A lei que manda é a dos mais fortes sim, só que precisamos ensinar as pessoas que juntas elas são mais fortes. Aí está a vitória. Abraço, meu amigo, e obrigado por comentar.
Eduardo
12 de setembro de 2013
Luiz,
Olhando de cima acho que tínhamos umas 200 pessoas e seguramente tinham muito mais policiais que pessoas. Já esperávamos por isso pois o clima de medo se instaurou por conta do aparato de guerra do poder público foi imenso.
Agora, eu queria perguntar aos cidadãos que ficaram em casa por medo, comodismo ou coxismo o seguinte: Que mundo vocês querem pra seus filhos?
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Não posso estimar, Eduardo. Nunca fui bom nisso. Em relação aos que ficaram em casa, posso dizer que mudar mentalidades leva mais tempo e é difícil, mas não é impossível. Libertar um escravo é mais fácil do que libertar a auto imagem deste escravo que passou a vida na senzala. O trabalho dos movimentos sociais e dos professores, como o meu, é exatamente este: ajudar a reflexão para ajudar a mudança de mentalidades. Eu vou continuar. Abraço e aguardo seu discurso para publicar.
Eduardo
13 de setembro de 2013
Já lhe mandei o discurso no email hoje pela manhã logo que acordei! 🙂
Ninfa Sampronha Barreiros
13 de setembro de 2013
Além da sua escrita, sua fala foi melhor ainda. Em nome do Reaja, somos gratos pelo relato tão exato do que ocorreu. Onde um é proibido, todos são. A caneta está com eles se quiserem continuar essa história.
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Obrigado, Ninfa. Não é preciso agradecer. Eu os apoio e vocês sabem. De resto, sei o teor do que falei, mas como foi de improviso e num impulso, não lembro de todo conteúdo. Será que alguém gravou? Obrigado pelo comentário. Abraço.
Helena de Campos
13 de setembro de 2013
Nunca imaginei que a gente fosse tão lixo assim!!!!
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Não somos, Helena, mas nos ensinaram a acreditar nisto, por séculos neste país. Somente com auto estima cidadã e coletiva é que vamos mudar. Abraço e obrigado por comentar.
Elizabeth
13 de setembro de 2013
Isso é que é medo da voz popular!
William H. Stenico
13 de setembro de 2013
Ai que está, Amstalden, se em uma manifestação PACIFICA os representantes simplesmente nos viram a costa, qual seria o próximo passo? Mandar mensagem pro Obama falando para ele desencanar da Siria e vim aqui, pretexto padrão de “ajudar o povo” ele já tem… hehehe
Abcs.
Camilo Irineu Quartarollo
13 de setembro de 2013
Parabéns ao blogueiro e ao Reaja. Temos de avançar além do absolutismo do voto e dos que colocam a buzanfa encima dos números de votos que recebeu, a democracia é dinâmica e o Reaja descobre novas formas de atuação, além do voto cabrestado ou não. Não sou contra a obrigatoriedade do voto, nem quanto ao voto nulo, mas contra o voto inconsequente.
Carla Betta
13 de setembro de 2013
Isto TEM que ser divulgado a nível nacional!! Foi a comoção nacional que fomentaram as manifestações passadas!! É a UNIÃO que enfrenta o medo, pois Todos Juntos Nos Sentimos Fortes!
Luciana
13 de setembro de 2013
Parabéns ao Reaja! Foi uma manifestação pequena mas que significa muito e representa pelo menos 25 mil pessoas!E a Câmara sabe disso.Suas palavras naquele momento,Luis foram muito importantes para mostrar a eles que os manifestantes ali presentes não eram vândalos, mas pessoas que não concordam e questionam certas atitudes e decisões. Parabéns pelo texto!
José Carlos Esquierro
13 de setembro de 2013
Infelizmente é o exercício do poder que leva o falso político (aquele que tem medo de si mesmo e que se elege apenas para defender interesses pessoais, e não o interesse público, se perpetuando no ‘carguinho’ de vereador) a agir, com o apoio do Estado, simplesmente porque a história determinou que o Estado tem a legitimidade da força. Esses falsos políticos não compreendem que seu poder é falso, pois ninguém detém o poder, porque o poder é imaterial, é apenas operacional. Tudo o que vemos da Câmara de Vereadores é nada mais do que a operacionalização do Poder. Ninguém ali tem poder nenhum. Bando de frouxos políticos! Não conseguem mais se esconder atrás de seus parcos recursos mentais, suas vergonhosas ideias e sua pequenez intelectual e democrática.
Camila
13 de setembro de 2013
Ao menos a polícia teve a oportunidade de ver a manifestação pacífica e escutar o discurso. Quem sabe rola uma reflexão? Quem sabe…
Carla Betta
13 de setembro de 2013
Camila, gostei de sua atitude positiva!
Hilario
13 de setembro de 2013
Parabéns mais uma vês você se superou tanto na sua fala em frente da Câmara como no artigo, dou graças a Deus por existir pessoas como você, continue com essa força. E que Deus te inspire cada vês mais. AMEM
Evandro Mangueira
13 de setembro de 2013
Medo e covardia. é esse tipo de atitude que vejo da casa de lei, que repito: É de costas para o povo, cercados de vidros blindados, fechados por portas e paredes espessas e com entrada controlada e agenda! Triste!
Debora Furlan Rossini
13 de setembro de 2013
Parabéns ao Reaja! Parabéns pelo discurso, pessoal! Parabéns ao relato, Amstalden! Parabéns ao povo que se sentou (no meio da rua mesmo) para ouvir a Tribuna-Tsunami-Popular. No entanto, registro aqui também o meu lamento: até onde eu sei, NEM-O-HUM vereador foi pra rua ouvir o discurso preparado para ser lido durante a Reunião Ordinária.
Ontem não era dia de falar, vereadores. Ontem era dia de ouvir. Só ouvir.
Jose Liborio
13 de setembro de 2013
Não importa quantos mas importa como e importa que aconteceu, além de deixar claro o problema que atravessamos em nossa cidade.
Também há de se ter em conta que somos, enquanto sociedade, responsáveis pelo que estamos passando e essa consciência nos leva à mudança.
Gustavo
13 de setembro de 2013
É, pelo jeito este Vereador está com bastante medo da população… Bem diferente de seu discurso que pude assistir via TV Câmara onde dizia que não tinha medo de nada e de ninguém.
Lamentável e desnecessário mobilizar tal força policial para este ato. Lamentável de quem ouviu e acatou este pedido, gastando todo este recurso público, e indo contra a vontade e direitos do povo.
Lamentável quem espalhou boatos de que haveriam depredações, algazarra e conflito — o que pode ter até sido feito de propósito, a fim de intimidar a população.
Lamentável.
Anônimo
13 de setembro de 2013
Gustavo
13 de setembro de 2013
Xiiiii… Como diziam nos meus tempos de criança, “Apelou, perdeu!” hahahahahaha
blogdoamstalden
13 de setembro de 2013
Então… cada vez que aparece algo assim, covardemente anônimo, fico na dúvida. Não sei se apago ou não. Mas, acho que vou deixar. Sabe como é, fica claro que veio de alguém muito interessado no seu aumento e fica claro também que, se alguém muito interessado no seu aumento estivesse TRABALHANDO, não teria tempo de ficar fazendo estas palhaçadas no computador…. Por isso deixo o “comentário”, para que a ociosidade fique clara… De qualquer modo, obrigado por comentar… Ah, aproveito e deixo registrado aqui o IP de quem mandou, para que não hajam dúvidas da origem… (IP: 201.28.103.18 , brma.camarapiracicaba.sp.gov.br)
Daniela Zotelli
14 de setembro de 2013
Pois é… Eu pretendia ir, mas me disseram que o Reaja era comprado dos vereadores.. não entendi a lógica dessa afirmação. Mas parece-me um boato.
No final das contas a vida trás mais contratempos do que imaginamos.
Mas lendo esse texto posso dizer que fiquei pasma!
Daniela Zotelli
14 de setembro de 2013
ops.. me desculpem o erro ortográfico…
Eduardo
14 de setembro de 2013
Danielle,
Somos trabalhadores, aposentados e estudantes. Venha conhecer o reaja http://www.facebook.com/reajapiracicaba
Está convidada a participar das reuniões publicas. Só posso adiantar que todos os custos do Reaja é bancado pelo suór dos nossos salários.
Eduardo Stella – perseguido político de Piracicaba
Gleison
14 de setembro de 2013
Aos Senhores Vereadores, Assessores e demais servidores do Legislativo local que ficam monitorando comentários e artigos em jornais, redes sociais e páginas da internet, com a finalidade de mover processos administrativos e/ou judiciais, ainda que baseados em “artigos pela metade”, gostaria de saber qual a posição sobre o relatado acima. Afinal, se o servidor em questão utilizou o computador da Câmara Municipal para divulgar a mensagem, incorreu em pelo menos TRÊS infrações administrativas, de acordo com o Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Piracicaba:
….
Art. 196. Ao funcionário é proibido:
…
IV – promover manifestação de apreço ou desapreço, no recinto da repartição, à administração;
…
IX – empregar material de serviço público em tarefa particular;
…
XI – exercer atividades particulares no horário de trabalho;
E agora, que tal a abertura de uma sindicância ou processo administrativo?
blogdoamstalden
14 de setembro de 2013
Bom, Gleison, se quiserem questionar judicialmente, o material está gravado, assim como o IP…
heloisa Angeli
15 de setembro de 2013
mais que LAMENTÁVELLLLLLL!!!
heloisa Angeli
15 de setembro de 2013
Quanta IMBECILIDADE, IGNORÂNCIA e DESCASO …