Depois da prisão de envolvidos no escândalo do “mensalão”, tenho ouvido comentários muito diversos. Porém, é possível perceber, entre um grupo representativo de pessoas, uma polarização de opiniões. Para alguns trata-se de uma conspiração, uma “armação política” destinada a inviabilizar o PT e derrubá-lo (pelas urnas ou não) da Presidência da República. Geralmente são pessoas que militam no partido ou são seus simpatizantes e eleitores aqueles que pensam assim. Para outros, trata-se de “justiça”, porém uma justiça que me parece “direcionada” ao PT. São pessoas que antipatizam com o partido, que usam o termo “petralhas” para designar seus membros e militantes. Na visão destes últimos, o PT encarna tudo de ruim que acontece no Brasil. Entre os dois pólos, existem outros grupos com variações de opinião, é verdade, mas através de redes sociais, conversas e compartilhamento de textos, os que citei são, ao que parece, mais barulhentos, inclusive porque têm também, em alguns meios de comunicação, “combustível” para suas indignações e alegrias.
Particularmente, penso que a maioria das pessoas que adotam estas polarizações estão equivocadas. Àqueles que vêem uma “conspiração injusta”, eu diria que se alguém é militante, simpatizante ou ainda eleitor de um partido, não pode e não deve se colocar de maneira acrítica. Nenhum grupo social, partido ou líder é isento de falhas e erros e não se pode ver nestes uma imagem idealizada. É preciso ter a coragem de entender erros e buscar a sua correção, mesmo que isto seja doloroso e signifique “cortar a própria carne”, punindo os que considerávamos acima de quaisquer suspeitas. Alguém militante pode argumentar que o processo foi injusto e que não havia provas concretas de corrupção. Não vejo assim. Até onde eu pude ler e acompanhar houve sim irregularidades. E a menos que todo o sistema jurídico esteja conspirando para derrubar o PT, estas irregularidades foram devidamente consideradas. Claro que não sou tolo o suficiente para acreditar que no STJ não tenha ocorrido uma batalha política. Isto ficou claro nos debates e nas protelações. Mas penso que os acusados tiveram amplo direito a defesa. Mais amplo do que geralmente o povo comum tem.
Assim, não vejo a conspiração que muitos petistas ou militantes vêem. Vejo sim a decepção representada pela prática “tradicional” de fazer política, baseada no “toma lá, dá cá”. Admitir que isto aconteceu é doloroso e pode, sim, alimentar idéias de perseguição. Por outro lado, talvez faça parte de um momento bom para o Partido. Um momento de crescer, de reconsiderar, de se reestudar e reinventar, sempre dentro da ética que o criou. Se não é possível governar um país sem estas práticas coronelistas e corruptas, então este país tem que mudar, e não o modo de ser do partido. E ter o poder nas mãos significa ter instrumentos poderosos para fazer tais mudanças. Como eleitor regular do partido, eu acredito nesta possibilidade de “reinvenção” e de mudança radical da política brasileira.
Àqueles que vêem na condenação dos envolvidos uma “vitória sobre o mal”, encarnado pelos “petralhas”, eu digo que sejam mais sensatos. Vocês acreditam mesmo que a prática do clientelismo e da corrupção não está em outros partidos? Não está na base de uma sociedade que acaba aceitando isto? Sua alegria pelas prisões é realmente uma alegria pela justiça ou uma alegria criada pelo preconceito? Vejo pessoas da classe média adotando furiosos discursos anti-petistas, mas não consigo entender o que nas atitudes do PT ofendeu tanto à classe média. Não houve, porventura, escândalos e desmandos nos governos de Fernando Henrique, Sarney ou dos militares? Não existiu passado perfeito no Brasil. O que existe é uma continuidade danosa de falta de democracia plena e, se o grupo atual errou e está pagando, ótimo, mas precisamos ainda do “pagamento” daqueles que estavam no poder antes.
Eu digo a ambos os grupos: petistas e seus opositores, que a verdadeira justiça não é aquela feita contra ou a favor de um grupo. É aquela feita a favor da lei e da ética. É aquela que busca preservar os interesses e direitos da maioria do povo. Esta é a luta. Não podemos nos perder dela, mas sim, continuar a nossa peleja por um país mais justo. Que venha agora o julgamento correto e duro sobre o escândalo do metrô de São Paulo, sobre a corrupção dos fiscais da prefeitura paulista e, de quebra, de todos os outros corruptos e corruptores. Enquanto perdemos tempo lamentando ou festejando a prisão dos membros do PT envolvidos, esquecemos de todos os outros políticos e partidos que continuam seus crimes. Se você milita em um partido, comece “limpando” a ele. Se não, ajude a “limpar” todos os outros. No fundo, partidos não interessam. A justiça sim.
Amadeu Provenzano Filho
20 de novembro de 2013
Trata-se de uma bela reflexão, ponderada, sem os elásticos soltados de um extremo para atingir o outro extremo. Errar todos erramos. Só não erra quem não faz nada. Entretanto, os grandes engôdos políticos acontecem através dos partidos, favorecidos que são para o exercício vigoroso do corporativismo: são erros pensados, cometidos intencionalmente para favorecimentos, dos quais os partidos tiram proveito. Esse cortar na própria carne é isso: dói. É simples: é só um não querer tirar os ciscos dos olhos do outros- atacar, difamar – odiar, quando tem traves nos próprios olhos.Parabéns pela reflexão. Ensina !
Anônimo
20 de novembro de 2013
Ótima crítica! Sou petista e estou sentindo-me sem chão…..
Eloah Margoni
20 de novembro de 2013
Traduziu, bem aproximadamente, aquilo que sempre pensei e penso sobre o tema. Gostei bastante!!
Claudio Remístico
21 de novembro de 2013
Os políticos brasileiros precisam reaprender um exercício de cidadania básico: o dinheiro é publico e não privado! A não utilização correta do dinheiro público leva a prejuízos enormes para a população. E isto é sério demais!! Nós como cidadãos devemos buscar formas de cobrar, utilizando-se até mesmo, como ocorreu recentemente, das passeatas ordeiras. E nas eleições devemos fazer um exame de consciência e não votarmos nunca mais, repito, nunca mais, em políticos envolvidos em corrupção. Devemos execrá-los. Não precisa que na lei contenha dispositivo específico. Nós temos o dever e o poder para fazer isso. Enquanto neste país continuarmos a votar em políticos, se é que podemos chamarmos de políticos Paulo Maluf, Fernando Collor e muitos outros, estaremos sendo coniventes com essa situação, permissivos, hipócritas. Geramos corruptos como erva daninha, pois parece que na maioria dos políticos brasileiros já está interiorizado que a corrupção é comum no meio e aceitável por uma camada de nossa população que continua votando em políticos corruptos e desse modo ficamos com uma sensação de que nunca conseguiremos mudar este panorama. Falei!!
Daiana
23 de novembro de 2013
Pois é…
Não sou uma defensora do PT, mas escutei já de amigos meus que são advogados criticarem a postura de Joaquim Barbosa. No video abaixo, o jornalista prova por A + B que o mensalão nunca existiu, mas que houve na verdade o caixa 2… Se isso está correto, é justo condenar por outro crime?
Ivan
26 de novembro de 2013
No quesito ataque dos opositores e defesa dos simpatizantes, trata-se de um caso comum, nutrido por sentimentos piedosos e ferozes.Defendê-los com unhas e dentes, bem como fechar os olhos para a corrupção da legenda partidária de preferência, é contraditório. Desvios e uso abusivo do dinheiro público existem em qualquer governo, e neste ponto, não manifestar indignação porque o corrupto é correligionário ou ajuda pobres coitados só avoluma a falta de percepção, a alienação.