O Partido e a Justiça. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 20 de novembro de 2013 por

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Fonte da Imagem: uol.com.br

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Depois da prisão de envolvidos no escândalo do “mensalão”, tenho ouvido comentários muito diversos. Porém, é possível perceber, entre um grupo representativo de pessoas, uma  polarização de opiniões.  Para alguns trata-se de uma conspiração, uma “armação política” destinada a inviabilizar o PT e derrubá-lo (pelas urnas ou não) da Presidência da República. Geralmente são pessoas que militam no partido ou são seus simpatizantes e eleitores aqueles que pensam assim.  Para outros, trata-se de “justiça”, porém uma justiça que me parece “direcionada” ao PT. São pessoas que antipatizam com o partido, que usam o termo “petralhas” para designar seus membros e militantes. Na visão destes últimos, o PT encarna tudo de ruim que acontece no Brasil. Entre os dois pólos,  existem outros grupos com variações de opinião, é verdade, mas através de redes sociais, conversas e compartilhamento de textos, os que citei são, ao que parece, mais barulhentos, inclusive porque têm também, em alguns meios de comunicação, “combustível” para suas indignações e alegrias.

Particularmente, penso que a maioria das pessoas que adotam estas polarizações  estão equivocadas. Àqueles que vêem uma “conspiração injusta”, eu diria que se alguém é militante, simpatizante ou ainda eleitor de um partido, não pode e não deve se colocar de maneira acrítica. Nenhum grupo social, partido ou líder é isento de falhas e erros e não se pode ver nestes uma imagem idealizada. É preciso ter a coragem de entender erros e buscar a sua correção, mesmo que isto seja doloroso e signifique “cortar a própria carne”, punindo os que considerávamos acima de quaisquer suspeitas. Alguém militante pode argumentar que o processo foi  injusto e que não havia provas concretas de corrupção. Não vejo assim. Até onde eu pude ler e acompanhar houve sim irregularidades. E a menos que  todo o sistema jurídico esteja conspirando para derrubar o PT, estas irregularidades foram devidamente consideradas. Claro que não sou tolo o suficiente para acreditar que no STJ não tenha ocorrido uma batalha política. Isto ficou claro nos debates e nas protelações. Mas penso que os acusados tiveram amplo direito a defesa. Mais amplo do que geralmente o povo comum tem.

Assim, não vejo a conspiração que muitos petistas ou militantes vêem. Vejo sim a decepção representada pela prática “tradicional” de fazer política, baseada no “toma lá, dá cá”. Admitir que isto aconteceu é doloroso e pode, sim, alimentar idéias de perseguição. Por outro lado, talvez faça parte de um momento bom para o Partido. Um momento de crescer, de reconsiderar, de se reestudar e reinventar, sempre dentro da ética que o criou. Se não é possível governar um país sem estas práticas coronelistas e corruptas, então este país tem que mudar,  e não o modo de ser do partido. E ter o poder nas mãos significa ter instrumentos poderosos para fazer tais mudanças. Como eleitor regular do partido, eu acredito nesta possibilidade de “reinvenção” e de mudança radical da política brasileira.

Àqueles que vêem na condenação dos envolvidos uma “vitória sobre o mal”, encarnado pelos “petralhas”, eu digo que sejam mais sensatos. Vocês acreditam mesmo que a prática do clientelismo e da corrupção não está em outros partidos? Não está na base de uma sociedade que acaba aceitando isto? Sua alegria pelas prisões é realmente uma alegria pela justiça ou uma alegria criada pelo preconceito? Vejo pessoas da classe média adotando furiosos discursos anti-petistas, mas não consigo entender o que nas atitudes do PT ofendeu tanto à classe média. Não houve, porventura, escândalos e desmandos nos governos de Fernando Henrique, Sarney ou dos militares? Não existiu passado perfeito no Brasil. O que existe é uma continuidade danosa de falta de democracia plena e, se o grupo atual errou e está pagando, ótimo, mas precisamos ainda do “pagamento” daqueles que estavam no poder antes.

Eu digo a ambos os grupos: petistas e seus opositores, que a verdadeira justiça não é aquela feita contra ou a favor de um grupo. É aquela feita a favor da lei e da ética. É aquela que busca preservar os interesses e direitos da maioria do povo. Esta é a luta. Não podemos nos perder dela, mas sim, continuar a nossa peleja por um país mais justo. Que venha agora o julgamento correto e duro sobre o escândalo do metrô de São Paulo, sobre a corrupção dos fiscais da prefeitura paulista e, de quebra, de todos os outros corruptos e corruptores. Enquanto perdemos tempo lamentando ou festejando a prisão dos membros do PT envolvidos, esquecemos de todos os outros políticos e partidos que continuam seus crimes. Se você milita em um partido, comece “limpando” a ele. Se não, ajude a “limpar” todos os outros. No fundo, partidos não interessam. A justiça sim.

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