
Fonte da imagem e do vídeo: http://www.camarapiracicaba.sp.gov.br/joao-manoel-comenta-decisao-da-justica-contra-a-camara-19455
Nunca escondi meu apoio a Oswaldo Storel, exonerado no ano passado da chefia de gabinete do vereador Paulo Camolesi. Entendo que o artigo publicado por Storel (As verdadeiras atribuições dos vereadores) não foi ofensivo à Câmara, mas ao contrário, foi pedagógico para uma população que ainda não conhece todos os seus direitos. Também não entendo que Storel poderia ter sido exonerado por “quebra de confiança”, uma vez que seu cargo não é de confiança da presidência da Câmara, e sim do vereador que o escolheu. A exoneração, a meu ver, foi uma tentativa de prejudicar Camolesi (o único vereador a renunciar ao aumento de subsídio auto concedido pelos vereadores) uma vez que a sua postura incomodou profundamente os vereadores que se concederam o aumento. Além disto, acredito que, se o cargo de chefe de gabinete for entendido como de confiança da presidência, como foi justificado na sua exoneração, então há uma ameaça à democracia, uma vez que fere a autonomia de cada gabinete e atrela os assessores à vontade de uma única pessoa, no caso o presidente da Câmara.
A juíza Heloísa da Silva Alcantara, entendeu também a mesma independência dos vereadores para escolher seus chefes de gabinete e apontou a mesma perda de autonomia democrática em seu despacho. Ela ordenou a recondução do assessor e também que seus vencimentos sejam pagos integralmente e corrigidos. Um ponto para a democracia, em minha opinião. Mas é claro que não vai parar por aí. O Sr. João Manoel dos Santos, presidente da casa, disse na sessão ordinária de quinta feira dia 20/02/14, que vai recorrer. Esta atitude não me espanta, já que há bastante em jogo. O que me espantou, entretanto, foi a declaração feita no dia pelo Sr. João Manoel. Ele afirmou que “ há 126 anos o negro era obrigado a beijar a mão de senhores” e que ele, ao contrário, não iria beijar a mão de ninguém. A referência é ao período da escravidão, mas também é um despropósito. Ocorre que, ao menos até onde eu acompanho o caso e outras polêmicas envolvendo a Câmara e seu presidente, não há nenhuma questão étnica envolvida. Eu nunca li, ouvi ou assisti qualquer crítica à atuação de João Manoel baseada em critérios étnicos. Fazer tal afirmação é, no mínimo estranho. Dá a impressão de que ele está sendo oprimido como os antigos escravos. Oras, não é isto o que acontece. O que acontece é uma disputa legal, dentro do princípio democrático da busca de preservação de direitos e da regulação de um poder pelo outro (no caso do Judiciário regulando uma medida do Legislativo). Não vejo, na decisão da juíza, nenhuma “opressão”. Mas do jeito como João Manoel fez sua fala, não só ele parece apontar para esta “perseguição”, como dá a sensação de que a juíza (e o poder Judiciário) quer que ele “beije a mão” de alguém, se submetendo a um poder injusto. Equivale a chamar o Judiciário e a própria juíza, de “capitães do mato” e racistas, que concedem esta ou aquela sentença baseados em critérios étnicos. Uma afirmação lamentável, que desmerece também, na minha avaliação, a verdadeira luta contra o racismo, que infelizmente ainda existe sim, mas que não creio ser o que está em jogo no caso. Cabem sim, ainda, recursos e a Câmara tem direito a recorrer a eles, da mesma forma que Storel e Camolesi também têm. Mas isto é um processo legal, não uma opressão. É a busca pela justiça real, que nós homens almejamos e tentamos construir. Cabe lembrar ao Sr. João Manoel que todos nós temos esta mão a beijar. Mas não é a mão de nenhum senhor de escravo. É a mão da verdade e da construção da cidadania.
Confira o vídeo abaixo
Eduardo Stella
26 de fevereiro de 2014
Pois é Luis. Outro dia mesmo ele elogiava as decisões da magistratura e tudo o mais, quando era de interesse próprio.
Agora, como não julgaram o óbvio favorável, a acusação de que a juíza agiu por racismo. Pelo menos até onde minha parca capacidade cognitiva entendeu.
blogdoamstalden
26 de fevereiro de 2014
Pois é, Eduardo. Ele foi muito infeliz nas palavras…
adhair
26 de fevereiro de 2014
Lamentável como qualquer discriminação étnica, é a utilização da própria etnia como ataque ou defesa, onde não se justifica. Pelo menos para mim, fica sempre uma dúvida: de onde emana tanto poder deste cidadão?
Gleison
26 de fevereiro de 2014
Para mim esta alegação se trata de manifestação de desespero, de falta de argumentos, de falta de razão. Este sujeito vem mandando e desmandando no legislativo, debochando da legalidade e da moralidade, só não manda mais que o executivo, a quem se coloca na condição de submisso. E agora, após fazer estas lambanças todas vem se colocar no papel de vítima? haja paciência…
Indignada
26 de fevereiro de 2014
Parabéns pela clareza em narrar o fato e pontuar o equivoco na fala do presidente da Câmara, vamos lembrar que este ano também é ano de eleição da presidência desta Casa de Leis…
Daisy Costa
26 de fevereiro de 2014
vou me limitar a repetir o que ADHAIR citou: “Lamentável como qualquer discriminação étnica, é a utilização da própria etnia como ataque ou defesa, onde não se justifica. Pelo menos para mim, fica sempre uma dúvida: de onde emana tanto poder deste cidadão?’
(É análogo ao caso de ‘deficientes’ candidatos ou eleitos que fazem uso disso para benefício próprio e pouco se importam com a classe a qual representa…)
Debora
26 de fevereiro de 2014
Eu não tinha entendido a motivação para tal fala até então. Achei que tinha a ver com um requerimento nosso de sessão solene para a diocese, ói que viagem. Hehehe!
Muito pertinente suas colocações, Amstalden. Fazem todo sentido!
Registro aqui também meu ‘beijinho no ombro’ para todos que ainda estão digerindo a sentença. :*
Edu Pedrasse
26 de fevereiro de 2014
Santo Deus…
Alexandre Diniz
26 de fevereiro de 2014
A juiza foi chamada de racista? Ele está difamando ela? Isso é dano moral! Processo nele! (pagando advogados com dinheiro do próprio bolso, claro!)
Valmir Rodrigues
26 de fevereiro de 2014
Puts !! Me enche os olhos como ainda temos pessoas que muito fariam por nossa cidade, pelos cidadões Piracicabanos, uma pena que são tidos como INIMIGOS, não tenho palavras para comentar esse Post. Parabéns um milhão de vezes, muito lucido !!!
blogdoamstalden
26 de fevereiro de 2014
A pedidos, este é o texto que levou à exoneração de Antonio Oswaldo Storel pela presidência da Câmara de Piracicaba, que alegou que o mesmo “quebrava a confiança” da Câmara em Storel.
https://blogdoamstalden.com/2013/05/21/as-verdadeiras-atribuicoes-do-vereador-por-oswaldo-storel/
Antonio
27 de fevereiro de 2014
Esse senhor veio de Minas com uma mão na frente e outra atras. Foi acolhido por nossa gente, cresceu, entrou na política onde está há 30 anos ininterruptos. Ficou rico; deu aos filhos do bom e do melhor e pela quarta vez é presidente do maior poder de uma república democrática, o Legislativo; e ainda vem com esse papo de racismo. Racismo onde? Que piracicabano, branco ou negro, teve tantos privilégios? Pra mim, isso é apelação barata, falta de reconhecimento e de vergonha na cara. Servir-se da própria cor para se passar por coitado. Na verdade esse senhor sempre foi usado pelos figurões da política e do dinheiro que dominam Piracicaba, e ele é consciente disso. Vai entrar para a história com um dos protagonistas do período mais truculento que Piracicaba conheceu. Recebeu muitos benefícios de nossa terra e não é capaz de admitir que errou; quer execrar sem motivo um dos filhos do povo que o acolheu. Isso se chama ódio, falta de compaixão e bom senso. O poder o cegou. Faça um gesto de grandeza sr. João Manoel. O perdão e a misericórdia só engrandece o ser humano. Deixe de dar ouvidos a quem só maquina o mal. Quanto à juíza, meus parabéns, embora não tenha feito nada mais que ser justa. Pelo menos ficou a impressão que o Judiciário não está ‘abraçado’ ao Executivo e ao Legislativo.
Gleison
1 de março de 2014
“O esforço para depreciar quem pensa diferentemente, com todo o respeito, é um déficit civilizatório.” (Luis Roberto Barroso, Ministro do Supremo Tribunal Federal.)